Fim da "era do dólar"? Entenda a perda de força da moeda americana e a influência de Trump

Por mais de sete décadas, o dólar americano dominou as finanças globais, servindo como a principal moeda para o comércio e as reservas cambiais. Contudo, uma série de eventos recentes levanta a questão: estaria essa hegemonia chegando ao fim?
A desvalorização da moeda, combinada com tensões geopolíticas e políticas internas dos Estados Unidos, acende um debate sobre uma possível "desdolarização" global.
O que está por trás da perda de força do dólar?
A atual fragilidade do dólar não é resultado de um único evento, mas de uma combinação de fatores importantes.
- A busca por alternativas nas reservas internacionais: A participação do dólar nas reservas cambiais de bancos centrais ao redor do mundo tem diminuído gradualmente. Se nos anos 2000 essa fatia superava 70%, hoje está em cerca de 57%. Essa queda, embora não seja drástica, sinaliza que países estão diversificando seus ativos, buscando maior segurança e menos dependência de uma única moeda.
- O crescimento da relevância do ouro: Em tempos de incerteza, o ouro se destaca como um porto seguro. A demanda por este metal tem crescido expressivamente, especialmente entre os mercados emergentes, que mais que dobraram suas reservas de ouro na última década. Isso reflete um movimento de busca por um ativo mais resiliente diante das instabilidades econômicas.
- O uso de sanções como arma geopolítica: A estratégia dos Estados Unidos de usar o dólar como ferramenta para aplicar sanções econômicas tem gerado desconfiança. Ao congelar ativos de outros países, como aconteceu com a Rússia, os americanos mostram que o sistema financeiro global pode ser usado como forma de punição. Essa medida tem incentivado outras nações a buscarem sistemas de pagamento e moedas alternativas para protegerem-se de futuras represálias.
- As políticas imprevisíveis de Donald Trump: As ações do ex-presidente Donald Trump, como a imposição de tarifas sobre importações, trazem instabilidade ao mercado. Tais políticas não só impactam os lucros das empresas, como também abalam a confiança de investidores estrangeiros na economia americana. Há até quem especule que o enfraquecimento intencional do dólar poderia ser uma estratégia para tornar as exportações dos Estados Unidos mais baratas e competitivas.
- A crise de 2008 como um ponto de virada: A crise financeira global de 2008, que teve origem nos Estados Unidos, expôs as vulnerabilidades de se depender de uma única moeda global. Esse evento foi um marco que impulsionou os primeiros movimentos políticos em busca da "desdolarização", liderados por nações em desenvolvimento que sentiram na pele as consequências de uma crise que não iniciou em seus territórios.
O papel do BRICS e a busca por autonomia
- O bloco BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) é a principal força por trás do movimento de desdolarização. O grupo tem buscado ativamente alternativas para o comércio internacional, promovendo o uso de moedas locais e discutindo a criação de uma moeda própria. Para esses países, a crise de 2008 serviu como um alerta sobre a necessidade de maior autonomia financeira, para que as decisões de política monetária dos Estados Unidos não causem graves consequências globais.
O dólar ainda é o rei? Uma análise da sua permanência
- Apesar dos desafios, a maioria dos especialistas concorda que o fim da hegemonia do dólar ainda está distante. A moeda americana continua sendo o principal meio de transações internacionais, e não há, no momento, nenhuma outra com liquidez e estabilidade suficientes para substituí-la por completo. A moeda chinesa, por exemplo, embora tenha crescido, ainda está longe de se equiparar ao dólar. Além disso, mesmo países que defendem a desdolarização, como a Rússia, enfrentam dificuldades para se desvincular totalmente da moeda americana, mostrando que sua influência ainda é profunda e abrangente.
A perda de força do dólar é um processo complexo, impulsionado por fatores econômicos, geopolíticos e políticos. Embora a moeda americana mostre sinais de vulnerabilidade, não há um substituto claro no horizonte. A "desdolarização" é um movimento real e crescente, mas seu avanço é lento e enfrenta a inércia de um sistema financeiro global que, por décadas, foi construído em torno do dólar. O debate sobre o futuro da moeda americana destaca a crescente multipolaridade do mundo e a busca por um sistema financeiro mais diversificado e menos centralizado.