Adoçante faz mal ao cérebro? Novo estudo liga consumo a envelhecimento cerebral precoce

Um estudo da Universidade de São Paulo (Fmusp) revelou uma possível conexão preocupante entre o consumo de adoçantes artificiais e o envelhecimento acelerado do cérebro. Publicada na prestigiada revista Neurology, a pesquisa acompanhou quase 13 mil brasileiros por oito anos e sugere que a segurança desses produtos, tão consumidos em dietas de redução de açúcar, precisa ser reavaliada.
Os principais achados do estudo
Os pesquisadores observaram o impacto do consumo diário de adoçantes em testes cognitivos que mediram memória, fluência verbal e velocidade de processamento. Os resultados mostraram um declínio gradual, diretamente relacionado à quantidade consumida:
- Alto consumo (aproximadamente 191 mg/dia, o equivalente a uma lata de refrigerante "zero"): Pessoas neste grupo apresentaram um declínio cognitivo 62% mais rápido, o que é comparável a um envelhecimento cerebral adicional de 1,6 anos.
- Consumo moderado (aproximadamente 66 mg/dia): A queda na função cognitiva foi 35% mais rápida, equivalente a 1,3 anos de envelhecimento cerebral.
- Baixo consumo: Este grupo serviu como base de comparação e mostrou o ritmo de declínio mais lento.
Por que este estudo é tão importante?
- Enfoque na prevenção: Ao acompanhar participantes a partir dos 35 anos, a pesquisa sugere que os impactos na saúde do cérebro podem começar a se manifestar bem antes do surgimento dos sintomas, reforçando a importância de escolhas alimentares precoces.
- Atenção aos grupos de risco: O estudo mostrou que os efeitos foram mais acentuados em pessoas com diabetes, um grupo que já tem um risco maior de demência. O consumo de adoçantes pode, portanto, agravar esse risco.
- Segurança questionada: Os resultados desafiam a ideia de que adoçantes são uma alternativa totalmente segura ao açúcar, especialmente quando consumidos em produtos ultraprocessados.
O que mais precisamos saber?
- É uma associação, não uma causa: É crucial entender que, por ser um estudo observacional, a pesquisa identifica uma associação, mas não comprova que os adoçantes são a causa direta do envelhecimento cerebral. Outros fatores podem estar envolvidos.
- A posição da indústria: A Associação Internacional de Adoçantes (Isa) reafirma que a segurança desses produtos é aprovada por autoridades de saúde globais como a FDA e a OMS, e defende seu papel na redução de açúcar e calorias.
Quais adoçantes foram analisados?
- A pesquisa incluiu aspartame, sacarina, acessulfame-K, eritritol, xilitol, sorbitol e tagatose. A tagatose foi o único que não apresentou associação com o declínio cognitivo. Outros estudos já associaram o eritritol e o xilitol a riscos cardiovasculares, o que pode estar indiretamente ligado à saúde cerebral.
Escolhas inteligentes para o cérebro
- Este estudo é um alerta importante. Embora a causalidade não esteja provada, a forte associação entre o consumo de adoçantes artificiais e o envelhecimento cerebral exige cautela. A mensagem principal é clara: a substituição do açúcar por adoçantes pode não ser a solução ideal para a saúde a longo prazo.
A melhor estratégia, segundo a pesquisa, é focar em uma alimentação com menos produtos processados, reduzindo tanto o açúcar refinado quanto a dependência de alternativas artificiais. A saúde do nosso cérebro é influenciada pelas escolhas que fazemos todos os dias.