Sal: Vilão ou mocinho? Desvendando a verdade sobre hipertensão e consumo de sódio

O sal, um dos temperos mais antigos e essenciais, é também um dos mais controversos. De um lado, temos o chef "Salt Bae" salpicando um bife com estilo, celebrando seu sabor. Do outro, médicos e nutricionistas alertam sobre os perigos do seu consumo excessivo. Mas, afinal, o sal é um vilão ou um herói? E qual é a quantidade ideal para a nossa saúde?
O sal: Um nutriente essencial em excesso
Embora seja um componente vital para o nosso organismo, a maior parte da população mundial consome sal em excesso, o que pode trazer sérias consequências.
- A função do sódio: O sódio, principal componente do sal, é crucial para o corpo. Ele ajuda a regular o equilíbrio de fluidos, permite a transmissão de impulsos nervosos e auxilia no transporte de nutrientes.
- O problema do consumo global: A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o consumo de menos de 5 gramas de sal por dia (cerca de 2g de sódio), mas a média global é de aproximadamente 10,8g, com o Brasil consumindo cerca de 9,34g.
- O sal "oculto": Grande parte desse consumo (cerca de 75%) vem de alimentos processados e ultraprocessados, como pães, queijos, molhos, pizzas e salgadinhos, tornando o controle mais difícil.
Os perigos comprovados do excesso de sal
A ciência é clara: o consumo excessivo de sal é um fator de risco sério para a nossa saúde a longo prazo.
- Hipertensão (pressão alta): O excesso de sal faz o corpo reter água, o que aumenta a pressão nas artérias. Com o tempo, essa sobrecarga pode levar a problemas cardiovasculares graves.
- Risco de doenças cardiovasculares: O consumo elevado de sódio é responsável por cerca de 1,89 milhão de mortes anuais no mundo. A hipertensão prolongada é um fator de risco para 62% dos acidentes vasculares cerebrais (AVC) e 49% das doenças cardíacas coronarianas.
Os benefícios surpreendentes da redução
Reduzir a quantidade de sal na dieta pode ter um impacto direto e positivo na saúde da população.
- Exemplos de sucesso: No Japão, uma campanha nacional para reduzir o consumo de sal resultou em uma queda de 80% na mortalidade por derrame. Na Finlândia, uma iniciativa similar levou a uma diminuição de 75% nas mortes por doenças cardíacas.
- Resultados clínicos: Estudos recentes mostram que uma dieta com baixo teor de sódio por apenas uma semana pode ter um efeito de redução da pressão arterial comparável ao de alguns medicamentos.
A polêmica: O risco de "pouco sal"
Nos últimos anos, alguns estudos trouxeram uma nova perspectiva, sugerindo que uma ingestão muito baixa de sal também pode apresentar riscos. No entanto, é importante entender o contexto dessa controvérsia.
- A "curva em U": Pesquisas apontam que tanto o consumo muito alto quanto o muito baixo (abaixo de 5,6g ou acima de 12,5g de sal por dia) podem estar associados a maiores riscos cardiovasculares, com uma "zona segura" no meio.
- Críticas à teoria: Muitos especialistas contestam esses achados, argumentando que as metodologias usadas nesses estudos são menos precisas. Além disso, eles ressaltam que é praticamente impossível para a maioria das pessoas, em uma dieta moderna, consumir níveis "perigosamente baixos" de sal, dada a sua presença generalizada em alimentos industrializados.
Encontrando o equilíbrio para você
O efeito do sal no corpo não é o mesmo para todos. A sensibilidade ao sal varia com a etnia, idade, peso e histórico familiar.
- Sensibilidade individual: Pessoas mais sensíveis ao sal têm um risco maior de desenvolver pressão alta com o consumo elevado.
- A chave é a moderação consciente: Para a maioria, o perigo real é o excesso, e não a falta. O foco deve ser em evitar o sal "oculto" dos alimentos ultraprocessados e não adicionar mais sal à comida já pronta.
A resposta para a pergunta "o sal faz mal?" Não é simples, mas a ciência nos dá uma direção clara. Para a grande maioria das pessoas, os perigos de uma dieta com excesso de sal são muito maiores e mais imediatos do que os riscos de uma dieta com "pouco sal".
O caminho mais seguro e baseado em evidências é a moderação consciente. Busque o equilíbrio, priorizando alimentos frescos e naturais e ficando atento aos rótulos dos produtos.