Seu conteúdo pode salvar vidas: Mais que likes - O papel dos influenciadores na saúde mental - Responsabilidade, informação e acolhimento

As redes sociais são mais do que entretenimento: são espaços poderosos onde milhões de pessoas buscam informação e se conectam. Nesse cenário, os influenciadores digitais têm um papel fundamental, especialmente ao abordar temas delicados como a saúde mental.
Reconhecendo essa responsabilidade, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) lançou a cartilha "Como Falar Sobre Saúde Mental e Setembro Amarelo". Este guia transforma a influência digital em uma ferramenta de prevenção e apoio, com o objetivo de proteger e ajudar vidas.
Por que um guia é necessário? A influência responsável salva vidas
Falar de saúde mental de forma ética e segura é crucial. A cartilha da ABP não é restritiva; ela oferece diretrizes baseadas em evidências científicas para uma comunicação que realmente faz a diferença. A maneira como a depressão, doenças mentais e suicídio são abordados tem um impacto direto e profundo na vida das pessoas.
A iniciativa da ABP é fundamental por várias razões:
- Prevenção do "Efeito Werther": Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que a divulgação inadequada de casos de suicídio, com muitos detalhes, pode levar ao chamado "efeito contágio". A cartilha atua diretamente para evitar esse risco, protegendo pessoas em situação de vulnerabilidade.
- Combate à desinformação e ao estigma: A internet é um ambiente fértil para informações falsas e preconceitos. O guia orienta o uso de fontes confiáveis e uma linguagem adequada, por exemplo, preferindo "morte por suicídio" em vez de "cometer suicídio", um termo que carrega culpa. Isso ajuda a educar o público e a reduzir o preconceito.
- Incentivo à busca por ajuda profissional: Um dos pilares mais importantes da cartilha é direcionar o público para o apoio certo. Profissionais como psiquiatras, psicólogos e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são os recursos adequados. A cartilha desaconselha conselhos leigos ou a automedicação, garantindo que a demanda seja canalizada para os canais corretos de saúde.
- Transformando a influência em acolhimento: A ABP reconhece a proximidade e confiança que influenciadores constroem com sua audiência. Uma fala empática e acolhedora de uma figura admirada pode ser o primeiro passo para que alguém que sofre em silêncio sinta que não está sozinho e que buscar ajuda é um ato de coragem, não de fraqueza.
O que fazer e o que evitar: Dicas para uma comunicação segura
A cartilha oferece orientações claras para uma comunicação responsável e eficaz.
O que fazer:
- Fale abertamente sobre a importância da saúde mental e normalize a busca por tratamento.
- Compartilhe histórias de recuperação e esperança, mostrando que tratamentos eficazes existem.
- Use sempre fontes de informação confiáveis, como associações médicas e órgãos de saúde pública.
- Ofereça recursos de ajuda, como o número
188 (CVV)
, sites da ABP e da campanha Setembro Amarelo. - Transmita mensagens de empatia, apoio e escuta sem julgamento.
O que evitar:
- Nunca detalhe métodos ou locais de suicídio: Essa é a recomendação mais crítica para evitar o risco de contágio.
- Evite o sensacionalismo ou a romantização do sofrimento: Doenças mentais não são "poéticas"; são condições de saúde que causam dor real e exigem tratamento.
- Não simplifique as causas: Apresentar o suicídio como consequência de um único evento é enganoso, já que ele geralmente está associado a doenças mentais não tratadas.
- Cuidado com conteúdos que promovam comparações: A exposição excessiva de vidas "perfeitas" e o uso de filtros irreais podem agravar sentimentos de inadequação e ansiedade, especialmente em jovens.
Uma aliança digital pela vida
- A cartilha da Associação Brasileira de Psiquiatria é um marco que vai além de simplesmente orientar criadores de conteúdo. É um chamado para uma corresponsabilidade social. Ao fornecer conhecimento baseado em ciência, a iniciativa equipa influenciadores para que se tornem uma ponte segura entre milhões de pessoas e o cuidado que elas precisam.
Em um mundo onde as redes sociais são parte da vida, iniciativas como essa são fundamentais para garantir que esse ambiente seja uma rede de apoio e informação qualificada. A conversa responsável sobre saúde mental, guiada pela empatia e pela ciência, pode, de fato, salvar vidas.