A Igreja Católica pode ter um papa negro? Um Vaticano antirracista - Igreja global x Poder europeu

Este resumo explora a história dos três papas de origem africana na Igreja Católica, o desenvolvimento do eurocentrismo dentro da instituição e a questão da preparação para a possível eleição de um papa negro nos tempos atuais.
A presença africana no cristianismo primitivo
1.
** Norte da África como centro cristão:** Nos primeiros séculos do cristianismo, o norte da África (região que hoje compreende Tunísia, Argélia e Líbia) era um polo vibrante da fé, integrado ao Império Romano.
2.
Identidades fluídas: As identidades eram mais ligadas à estrutura imperial do que a distinções étnicas modernas.
3.
Papas africanos como evidência: A liderança de três papas com raízes africanas demonstra a diversidade da Igreja em seus primórdios.
O surgimento do eurocentrismo na Igreja Católica
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Declínio do cristianismo no norte da África: A queda do Império Romano e a expansão islâmica no século VII enfraqueceram a presença católica no norte da África.
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Centralização do poder em Roma: Paralelamente, houve uma crescente concentração do poder eclesiástico em Roma.
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"Monopólio Italiano" da eleição papal: A eleição papal gradualmente se tornou dominada por italianos, marginalizando outras regiões e culturas.
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Estabelecimento do eurocentrismo: Esse processo histórico estabeleceu as bases para um eurocentrismo duradouro na Igreja Católica.
O legado dos papas africanos: Um desafio ao eurocentrismo
Papa Victor I (189–199 d.C.):
- Origem berbere, demonstrando liderança não europeia.
- Unificação da data da Páscoa, exercendo autoridade centralizada.
- Introdução do latim como língua oficial da Igreja.
Papa Melquíades (311–314 d.C.):
- Governo em um período de transição pós-perseguição.
- Concessão de residência oficial e início da Basílica de Latrão, estabelecendo o poder temporal da Igreja em Roma.
- Origem norte-africana, mostrando a participação africana na consolidação da Igreja.
Papa Gelasius I (492–496 d.C.):
- Possíveis raízes africanas.
- Formulação do título "Vigário de Cristo".
- Desenvolvimento da "Doutrina das Duas Espadas" (relação Igreja-Estado).
- Instituição do Dia de São Valentim, demonstrando adaptação cultural.
Contribuição ao Legado: Esses papas demonstram que a liderança inicial da Igreja não era exclusivamente europeia, contrastando com o posterior eurocentrismo.
A igreja e os fiéis diante da possibilidade de um Papa Negro
- Longo hiato de liderança africana: Mais de 1.500 anos sem um papa africano indica o enraizamento do eurocentrismo.
- Crescimento do catolicismo na África: A África Subsaariana possui uma parcela significativa dos fiéis católicos atualmente.
- Disparidade de poder: O poder eclesiástico permanece concentrado no Norte global, levantando questões de representatividade.
- Sinais de mudança: A consideração de cardeais africanos como Ambongo, Turkson e Sarah sugere uma possível abertura.
Preparação além da eleição: A preparação envolve:
- Reflexão sobre o legado do colonialismo e o racismo estrutural.
- Desconstrução de preconceitos inconscientes.
- Diálogo honesto sobre o passado eurocêntrico da Igreja.
- Educação dos fiéis sobre a história plural da Igreja e as contribuições africanas.
- Reconhecimento da liderança e da fé vibrante das comunidades católicas africanas.
- Acolhimento de diferentes perspectivas culturais e teológicas.
"Usar o nome de Deus para justificar o preconceito é contradizer o próprio princípio da fé cristã: 'amar o próximo como a ti mesmo'. Religiões não podem ditar um Deus à imagem de seus próprios preconceitos — especialmente quando Ele representa uma fé universal de justiça, igualdade, amor e paz. Quando instituições religiosas se calam ou perpetuam o racismo estrutural, falham em representar um Deus que não faz distinção de cor, gênero ou etnia. A escolha de um papa negro seria mais do que um marco histórico — seria um sinal claro de que a fé não pode andar de mãos dadas com a exclusão. É hora das lideranças espirituais refletirem o amor que pregam e romperem, de forma explícita, com todo tipo de discriminação."
Em suma, a história dos papas africanos Victor I, Melquíades e Gelasius I ilumina a diversidade presente nas origens do cristianismo, contrastando com o subsequente desenvolvimento de um eurocentrismo na Igreja Católica, marcado por um longo período sem lideranças africanas no papado; a crescente presença de católicos na África e a possibilidade de um futuro papa negro representam uma oportunidade para a Igreja reafirmar sua universalidade, o que exigirá um compromisso genuíno em superar as estruturas eurocêntricas, promover a inclusão e valorizar a rica contribuição das comunidades católicas africanas, inspirados pelo legado daqueles primeiros líderes que demonstram a pluralidade inerente à fé cristã.