O que é "cobogó"? Uma invenção brasileira de 100 anos que pode ser uma poderosa aliada em um planeta cada vez mais quente.

Mais do que um simples elemento estético, o cobogó é uma invenção brasileira que se tornou um aliado inteligente e sustentável contra o calor. Com quase um século de existência, essa solução arquitetônica continua atual, oferecendo ventilação, controle de luz e conforto térmico.
A origem e a história por trás do cobogó
A história do cobogó tem um ponto de partida claro e documentado:
- A primeira aplicação notável: Um reservatório de água em Olinda, Pernambuco, construído em 1930. Projetado pelo arquiteto Luiz Nunes, o edifício usava o cobogó para proteger a água do sol e permitir a circulação de vento, mantendo-a fresca.
- A invenção: O nome cobogó é um acrônimo. Ele foi criado em 1929 no Recife pelos engenheiros Coimbra, Boeckmann e Gois. A intenção original era criar um bloco de cimento pré-fabricado mais prático e barato que os tijolos comuns, que pudesse ser usado tanto vazado quanto maciço.
- A popularização do nome: Embora o termo tecnicamente se referisse apenas à peça original da patente, sua popularidade foi tão grande que hoje qualquer elemento vazado de concreto, cerâmica ou outros materiais é chamado de cobogó.
Por que o cobogó é tão importante?
O cobogó não é apenas bonito, mas também extremamente funcional. Ele oferece diversas vantagens, especialmente para o clima brasileiro:
- Conforto térmico e ventilação natural: Conhecido como "climatização passiva", o cobogó permite que o vento circule, evitando o superaquecimento de ambientes internos e reduzindo drasticamente a necessidade de ar-condicionado.
- Controle de iluminação: Ele cria uma barreira contra o sol direto, mas permite a passagem de luz natural. Isso economiza energia, pois a necessidade de iluminação artificial é menor.
- Privacidade sem isolamento: O design vazado permite que a luz e o vento entrem, enquanto oferece uma sensação de privacidade. Quem está dentro consegue ver o exterior com mais clareza do que quem está do lado de fora.
- Valor estético e cultural: O cobogó foi adotado e elevado a ícone pelo movimento modernista brasileiro. Arquitetos como Oscar Niemeyer o usaram em grandes projetos, tornando-o um símbolo da nossa arquitetura.
- Acessibilidade: Por ser um material de baixo custo e fácil produção, o cobogó se espalhou rapidamente pelo Brasil, marcando presença em muros, varandas e quintais, especialmente no Nordeste.
O futuro do cobogó em um planeta mais quente
No cenário de crise climática, o cobogó está sendo redescoberto como uma solução para o futuro, oferecendo uma alternativa aos prédios de vidro que funcionam como "estufas".
- Relevância em pesquisas: Universidades como a UFRJ estão estudando o uso do cobogó para melhorar o conforto térmico, inclusive em habitações de interesse social e comunidades.
- Inovação e sustentabilidade: Em eventos como a Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, o cobogó tem sido reinventado com materiais sustentáveis, como resíduos de construção civil, mostrando seu potencial de evolução.
- Desafios para a readoção: Apesar de todas as vantagens, a arquitetura contemporânea brasileira priorizou edifícios mais fechados, o que dificulta a reformulação em larga escala das construções existentes.
O cobogó é mais do que uma lembrança da casa da avó; é um símbolo da arquitetura brasileira que soube responder de forma criativa e eficiente aos desafios do clima. Seus princípios de ventilação natural, proteção solar e iluminação indireta oferecem lições valiosas para construirmos cidades mais frescas, sustentáveis e confortáveis no futuro.