Tratamento de princesa: A obsessão da geração Z por romance de conto de fadas ou retrocesso perigoso?

Nos últimos anos, uma nova tendência de relacionamento ganhou destaque nas redes sociais, especialmente entre a geração Z: o tratamento de princesa. Inspirado em cortejos aristocráticos retratados em séries como Bridgerton e A Idade Dourada, esse fenômeno mistura cavalheirismo, romantismo e uma pitada de fantasia. Mas o que exatamente define esse movimento? Por que ele desperta tanto fascínio e, ao mesmo tempo, críticas?
O que é o tratamento de princesa?
O tratamento de princesa refere-se a gestos românticos e supostamente "dignos de contos de fadas"
que os parceiros (geralmente homens) devem oferecer às mulheres. Entre as práticas mais comuns estão:
- Café na cama.
- Flores entregues toda sexta-feira.
- Manicure paga pelo parceiro.
- Portas abertas e outros pequenos mimos.
Essa tendência é frequentemente contrastada com o mínimo necessário, expectativas básicas em relacionamentos, como comunicação e lembrança de datas importantes.
Por que isso viralizou?
- Influência das redes sociais: Plataformas como TikTok e Instagram transformam atos privados de afeto em espetáculos públicos, aumentando o engajamento.
- Exemplo de influenciadoras: Courtney Palmer, autointitulada "princesa dona de casa", viralizou ao descrever suas expectativas, como não abrir portas ou pedir comida em restaurantes.
A fascinação pelo romantismo histórico
A geração Z não está sozinha nessa obsessão. Séries e filmes de época reacenderam o interesse por um flerte mais formal e cortês. Especialistas apontam que:
- Séries como Bridgerton e The Crown romantizam a aristocracia, tornando-a atraente para o público moderno.
- O cavalheirismo ressurge como uma resposta à frieza dos relacionamentos atuais, muitas vezes vistos como "transacionais" e pouco românticos.
- Myka Meier, especialista em etiqueta, defende que o tratamento de princesa não é sobre materialismo, mas sobre atenção emocional e intencionalidade.
A relação dos EUA com a realeza e os contos de fadas
Apesar de os EUA não terem uma monarquia, os americanos sempre foram fascinados pela realeza. Alguns marcos históricos explicam isso:
- Rainha Victoria (século XIX): Sua coroação desencadeou uma "febre Victoria" nos EUA.
- Princesa Diana: Tornou-se um ícone popular por seu carisma e trabalho humanitário.
- Casamentos reais recentes: Meghan Markle e Wallis Simpson aproximaram a realeza do público americano.
Arianne Chernock, historiadora, explica que a realeza representa uma fantasia política e cultural, longe das divisões da vida real.
Críticas e debates: Empoderamento ou regressão?
O tratamento de princesa não é consensual. Enquanto alguns o veem como uma forma de valorizar a mulher, outros alertam para riscos:
- Cavalheirismo vs. patriarcado: Alguns acadêmicos argumentam que o cavalheirismo reforça papéis tradicionais de gênero.
- Comparação com as trad wives: Assim como o movimento das "esposas tradicionais", o tratamento de princesa pode ser visto como uma nostalgia perigosa de um passado idealizado.
- Princesa vs. rainha: Enquanto a figura da princesa é associada à juventude e passividade, a rainha simboliza poder e autonomia, algo que faltaria nessa tendência.
Uma tendência complexa e multifacetada
O tratamento de princesa reflete um desejo por romance e cuidado em uma era de relacionamentos muitas vezes impessoais. No entanto, também levanta questões importantes:
- Até que ponto é saudável idealizar dinâmicas de relacionamento baseadas em hierarquias históricas?
- As mulheres estão realmente no controle ao exigir esse tratamento, ou estão reforçando estereótipos?
Como aponta Chernock, o debate sobre o tratamento de princesa é, no fundo, um debate sobre o papel da mulher na sociedade. Seja uma fantasia inofensiva ou um retrocesso disfarçado, uma coisa é certa: A geração Z continuará discutindo e postando sobre esse fenômeno enquanto ele gerar likes e reflexões.