EUA poderiam cortar o GPS no Brasil? Entenda os riscos, como funciona o sistema e quais seriam as alternativas

A recente tensão entre Brasil e Estados Unidos, incluindo a imposição de sanções ao Ministro do STF Alexandre de Moraes, levantou uma questão preocupante: Seria possível os EUA cortarem o sinal de GPS no Brasil?
Para entender essa possibilidade, é crucial compreender como o Sistema de Posicionamento Global (GPS) funciona e suas implicações.
O que é e como funciona o GPS?
O Sistema de Posicionamento Global (GPS) é uma tecnologia de navegação por satélite desenvolvida pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos na década de 1970, inicialmente para uso militar. Atualmente, ele é fundamental para diversas aplicações civis, como:
- Navegação: Em celulares, carros, aviões e embarcações.
- Logística: Rastreamento de cargas e otimização de rotas.
- Sincronização: De redes financeiras, de telecomunicações e de energia.
O GPS opera com base em uma constelação de 31 satélites que orbitam a Terra, transmitindo sinais de rádio contendo informações de posição e tempo. Receptores em terra, como seu smartphone, captam esses sinais de pelo menos quatro satélites. Ao comparar o tempo que cada sinal leva para chegar, o receptor consegue triangular sua localização com precisão.
Existem dois tipos principais de serviço:
1.
SPS (Standard Positioning Service): O serviço padrão, disponível para uso civil em todo o mundo.
2.
PPS (Precise Positioning Service): Um serviço de alta precisão, criptografado e restrito ao uso militar dos EUA e seus aliados.
É possível bloquear o GPS em um país específico?
Especialistas em tecnologia e segurança afirmam que um bloqueio seletivo do sinal de GPS em um país específico, como o Brasil, é altamente improvável. Isso se deve à própria natureza do sistema:
Sinais unidirecionais e abrangentes:
Os satélites GPS transmitem seus sinais de rádio em todas as direções, cobrindo o planeta inteiro simultaneamente. Interromper o sinal apenas no Brasil exigiria uma complexa modificação técnica que afetaria, inevitavelmente, regiões vizinhas e até mesmo áreas de interesse dos próprios EUA.
Técnicas de interferência limitadas:
- Jamming (Bloqueio): Consiste no uso de transmissores terrestres que emitem sinais mais fortes para "sobrepor" e anular o sinal do GPS. Essa técnica é geralmente usada em zonas de conflito (como observado na Ucrânia pela Rússia) e é de alcance limitado. Para afetar o Brasil inteiro, seria necessária uma vasta infraestrutura de transmissores terrestres dentro do país, o que é inviável e facilmente detectável.
- Spoofing (Falsificação): Envolve a emissão de sinais falsos para enganar os receptores, fazendo-os acreditar que estão em uma localização diferente. Assim como o jamming, é uma técnica localizada e extremamente difícil de ser escalada para cobrir um país inteiro.
É importante notar que, em 2024, a Rússia bloqueou sinais de GPS próximos às suas fronteiras, afetando voos civis. No entanto, essa foi uma ação regional e localizada, e não um desligamento seletivo de um país inteiro.
Impactos de um bloqueio hipotético
Se um bloqueio, por mais improvável que seja, realmente ocorresse, as consequências seriam severas e de grande alcance:
- Transportes: Aviação, navegação marítima e logística rodoviária seriam gravemente comprometidas, gerando caos e prejuízos econômicos.
- Telecomunicações e energia: Redes de comunicação e sistemas de energia dependem do GPS para a sincronização precisa do tempo, essencial para seu funcionamento adequado.
- Sistemas financeiros: Transações bancárias e operações financeiras utilizam o GPS para registrar horários exatos, garantindo a integridade e a segurança das operações.
Alternativas ao GPS
Apesar da proeminência do GPS, o Brasil e outros países não dependem exclusivamente do sistema americano. Existem outros sistemas de navegação por satélite operados por diferentes nações e blocos econômicos:
- GLONASS (Rússia)
- BeiDou (China)
- Galileo (União Europeia)
- Além desses sistemas globais, há também sistemas regionais, como o NavIC (Índia) e o QZSS (Japão).
Muitos dispositivos modernos, como smartphones, já são compatíveis com múltiplos sistemas de navegação por satélite, o que reduz a dependência exclusiva do GPS. Além disso, tecnologias de backup terrestre, como o eLoran, podem fornecer informações de localização sem depender de satélites.
Um cenário improvável, mas não impossível
Embora os EUA tenham o controle sobre o GPS, um bloqueio direcionado especificamente ao Brasil é altamente improvável no curto prazo. As razões principais são:
- Complexidade técnica: O sistema GPS não foi projetado para permitir restrições geográficas precisas e isoladas.
- Consequências globais: Um bloqueio teria um efeito cascata, afetando outros países e até mesmo as próprias operações militares e civis dos EUA globalmente.
- Alternativas existentes: A proliferação de outros sistemas de geolocalização e a compatibilidade de dispositivos com múltiplos sistemas diminuem o risco de um "apagão" total.
Especialistas ressaltam que qualquer ação dos EUA seria mais próxima de um ato de sabotagem localizada (como jamming) do que de um desligamento completo do sistema no Brasil. As implicações diplomáticas, econômicas e práticas de tal medida a tornam pouco atraente para os Estados Unidos. O GPS continua sendo um recurso globalizado, e sua restrição em larga escala exigiria um consenso internacional ou um cenário de conflito extremo.