Café sob pressão: O pedido "horizontal" do Brasil vs. a Isenção "seletiva" dos EUA - Riscos das negociações
A negociação sobre as tarifas do café entre Brasil e Estados Unidos é um ponto nevrálgico nas relações comerciais bilaterais. O que está em jogo não é apenas o grão, mas a política internacional, a inflação e a liderança global do Brasil como maior produtor de café.
O nó central da negociação
O cerne do impasse reside na metodologia de isenção tarifária defendida por cada país:
Posição dos EUA: Alívio específico e seletivo
- O que buscam: Conceder isenção da sobretaxa de 40% (o "tarifaço") de forma seletiva, focando em itens específicos.
- Motivação: Aliviar a forte pressão da inflação interna. O preço do café no varejo norte-americano subiu quase 21% em agosto, e Washington reconhece o papel das tarifas nesse aumento. O foco no café permite gerenciar pressões setoriais internas.
Posição do Brasil: Corte amplo e horizontal
- O que buscam: Uma suspensão "horizontal" das tarifas, ou seja, um corte que beneficie todos os produtos brasileiros atualmente sobretaxados, e não apenas o café.
- Motivação: Uma vitória ampla garantiria benefícios para toda a pauta de exportação penalizada e fortaleceria a posição negociadora do país em futuras conversas, evitando focar apenas em ganhos pontuais.
Principais atores e a dinâmica diplomática
Diversos grupos exercem influência direta nos bastidores da negociação:
Força motriz americana: Os torrefadores
- Os quatro maiores torrefadores dos EUA estão ativamente pressionando o governo pela isenção da tarifa sobre o café. O aumento de seus custos é repassado ao consumidor, tornando-os uma voz poderosa contra a tarifa.
A ponte brasileira: O Cecafé
- O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) atua como intermediário, trocando informações entre o setor privado e o governo. Eles informam a presidência e o chanceler brasileiro sobre o feedback e as expectativas das autoridades e torrefadores americanos.
O palco da diplomacia: Mauro Vieira e Marco Rubio
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, são os negociadores-chave. A continuidade das tratativas em encontros internacionais, como o previsto na reunião do G7, demonstra a prioridade do tema na agenda bilateral.
A relevância desse acordo comercial
O desfecho desta negociação tem implicações que vão muito além do comércio de café:
- Controle inflacionário nos EUA: A isenção tarifária é vista como uma ferramenta direta para baixar os custos dos torrefadores e, consequentemente, os preços para o consumidor final americano.
- Preservação de mercado para o Brasil: Os EUA são um dos maiores importadores globais. Manter a competitividade do café brasileiro neste mercado é vital para a balança comercial e para os produtores rurais.
- Fortalecimento da posição brasileira: Um acordo bem-sucedido reforça a imagem do Brasil como uma potência agroexportadora cujos interesses precisam ser levados a sério no comércio mundial.
- Termômetro bilateral: O resultado definirá o tom das futuras relações comerciais entre os países, indicando se a cooperação prevalecerá sobre o protecionismo.
Caminhos para a solução
O sinal de abertura dos Estados Unidos é um avanço notável. Contudo, o acordo final dependerá de dois fatores cruciais:
1. A disposição do Brasil em flexibilizar sua demanda por um corte amplo em troca de um ganho imediato e significativo para o setor cafeeiro.
2. A vontade política dos EUA em conceder o alívio, superando as pressões de lobbies internos que poderiam ser contrários a uma solução mais abrangente.
A admissão pública dos Estados Unidos sobre a possível isenção do café é um sinal positivo e um primeiro passo importante. No entanto, o caminho para um acordo permanece cheio de complexidades diplomáticas. A disposição do Brasil em abrir mão de uma demanda ampla em troca de ganhos setoriais imediatos, e a vontade política dos Estados Unidos em enfrentar lobbies internos contrários, serão os fatores determinantes. Enquanto o chanceler Mauro Vieira e o secretário Marco Rubio se preparam para novos diálogos, o setor cafeeiro de ambos os países aguarda, com expectativa, uma solução que acalme os mercados e garanta que a xícara de café matinal dos norte-americanos continue a ser abastecida pelo grão produzido nas terras brasileiras.
