China pode ser a maior vencedora com as tarifas de Trump contra o Brasil – Entenda quem ganha e quem perde nessa guerra comercial

O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a aplicação de tarifas de 50% em produtos brasileiros exportados para os EUA a partir de 1º de agosto de 2025, está redefinindo as estratégias comerciais do Brasil. Enquanto alguns setores, como o agronegócio e a siderurgia, podem encontrar oportunidades na China, outros, como os semimanufaturados e a indústria química, enfrentam desafios significativos. Este resumo explora os impactos heterogêneos dessa medida, as possíveis rotas alternativas e as implicações geopolíticas.
Impacto por setor: Oportunidades e desafios
- Agronegócio e siderurgia: São os setores mais favorecidos na busca por novos mercados, especialmente na China. Produtos como carne, café e minério de ferro já têm demanda consolidada no país asiático, que os utiliza para alimentação e infraestrutura. O advogado Celso Figueiredo destaca que a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações) pode ampliar campanhas para fortalecer essa realocação.
- Semimanufaturados e produtos químicos: Enfrentam barreiras devido à concorrência com a indústria chinesa, já estabelecida e competitiva. Itens como calçados, maquinário e químicos terão dificuldade para penetrar nesse mercado. A exceção pode ser a Embraer, que possui nicho na aviação comercial.
- Dependência dos EUA: Alguns produtos brasileiros, como suco de laranja e carne bovina, têm demanda inelástica nos EUA, o que pode manter as exportações mesmo com tarifas elevadas.
Reconfiguração geopolítica: Aproximação com a China
A medida de Trump acelera a tendência de realinhamento do Brasil e da América Latina com a China. Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM, avalia que a decisão é um "tiro no pé" dos EUA, pois reforça a influência chinesa na região. Além disso, a tarifa é interpretada como uma pressão política para isolar países latino-americanos da China, especialmente após o apoio de Trump a Jair Bolsonaro em questões judiciais.
Consequências para a economia global
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Para o Brasil: A necessidade de diversificar mercados pode fortalecer parcerias além da China, como com a União Europeia e outros países asiáticos. No entanto, o custo logístico e a adaptação a novos padrões de consumo são desafios.
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Para os EUA: A medida pode gerar inflação interna e reduzir a competitividade de indústrias que dependem de insumos brasileiros, como alimentos processados.
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Para a China: Aumenta sua influência como principal parceiro comercial do Brasil, consolidando seu papel como alternativa aos EUA em commodities e investimentos em infraestrutura.
As tarifas impostas por Trump representam um divisor de águas para a economia brasileira, forçando uma reavaliação urgente das rotas de exportação. Enquanto setores primários encontram portos seguros na China, a indústria de valor agregado enfrenta obstáculos que exigem inovação e políticas públicas de apoio. Geopoliticamente, a medida aprofunda a polarização entre EUA e China, com o Brasil e a América Latina sendo peças-chave nesse tabuleiro. A longo prazo, a capacidade de adaptação do setor produtivo brasileiro e a diplomacia comercial determinarão se essa mudança será uma crise ou uma oportunidade para maior autonomia estratégica.