Alerta RJ: Disputa pelo poder no Rio - O recuo das milícias e a expansão contínua do Comando Vermelho no mapa do crime
O mais recente Mapa dos Grupos Armados (Instituto Fogo Cruzado e Geni/UFF) revela um cenário dinâmico na disputa por território e população na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, com sinais de retração das milícias e um avanço contínuo das facções do tráfico, como o Comando Vermelho (CV).
O recuo das milícias: Uma mudança significativa
Pelo quinto ano consecutivo, as milícias registraram perdas importantes, que, segundo especialistas, podem estar ligadas a ações de inteligência e combate a líderes.
- Menos pessoas e território dominados: Entre 2019 e 2024, as milícias deixaram de dominar ou influenciar 359 mil pessoas (queda de quase 18%). A área sob seu controle ou influência diminuiu de 246,4 km² para 201,2 km².
- Impacto das investigações: A morte ou prisão de grandes líderes (como Ecko e Zinho) e a atuação qualificada do Ministério Público do Rio (em operações como Intocáveis e EMBRYO) são apontadas como fatores cruciais para esse enfraquecimento recente.
- Críticas à força bruta: Especialistas destacam que investigações que miram o modelo de negócios dos grupos armados são mais eficazes do que operações policiais com uso intenso da força, como a "Operação Contenção", cuja efetividade nos territórios dominados é questionada.
Domínio persistente e ascensão das facções
Apesar da retração miliciana, o crime organizado como um todo ainda mantém uma influência massiva, com as facções do tráfico capitalizando o espaço deixado.
- População sob domínio armado: Mais de 4 milhões de pessoas (34,9% da população metropolitana) ainda vivem sob algum tipo de domínio de grupos armados (controle total ou influência intermitente).
Comando Vermelho (CV) em expansão:
Ao longo da série histórica (desde 2007), o CV manteve um crescimento quase contínuo, ampliando em 46,4% seus territórios sob controle.
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O CV é o grupo com o maior número de pessoas dominadas ou influenciadas, atingindo 1,7 milhão de moradores.
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Em termos de controle efetivo (domínio total), o CV lidera com 47,5% das áreas completamente dominadas.
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Disputa territorial intensificada: O enfraquecimento das milícias abriu caminho para as facções. O CV e o Terceiro Comando Puro (TCP) têm avançado, com o crescimento populacional recente ocorrendo majoritariamente por conquista (disputas), e não por "colonização" (ocupação silenciosa).
A situação na cidade do Rio de Janeiro
A capital fluminense concentra a maior proporção de sua população sob a égide do crime organizado.
- Quase metade da população atingida: Cerca de 2,5 milhões de moradores da capital (42,4% do total) vivem sob influência ou controle armado, espalhados por 212 km² (31,6% da área da cidade).
- Milícias lideram na Capital: Na série histórica, as milícias foram as principais responsáveis pela expansão territorial e populacional na cidade, liderando majoritariamente na Zona Oeste.
- Hegemonia regional do CV: Nas demais regiões da cidade, o Comando Vermelho é quem dita as regras.
Segurança pública no centro do debate nacional
O combate ao crime organizado e a segurança pública tornam-se o principal foco de preocupação nacional e pautarão as próximas eleições.
- Prioridade do eleitorado: Pesquisas mostram que o tráfico de drogas e a criminalidade superaram a corrupção como a principal preocupação dos brasileiros.
- Propostas em disputa: No Congresso, a pauta da segurança é palco de disputa política entre a PEC da Segurança Pública (que busca um sistema coordenado e integrado, como o SUS) e o PL Antifacção (que foca em penas mais duras para o crime organizado e líderes).
- Risco depolíticas baseadas em percepção: Especialistas alertam para o risco de as ações governamentais serem direcionadas para gerar confrontos (e consequente aprovação popular em pesquisas), em vez de focar em soluções estruturais e na inteligência.
O enfraquecimento das milícias, resultado de ações de inteligência focadas em seus modelos de negócio, prova que a qualidade da intervenção pública supera a intensidade da força. Contudo, com a segurança pública dominando as preocupações nacionais, a política corre o risco de focar em operações espetaculares para ganhar a percepção popular, em vez de implementar as reformas estruturais (como a coordenação e a inteligência financeira) essenciais para desmantelar o crescente domínio do Comando Vermelho e o aumento da conflitividade territorial. A eficácia real depende da capacidade dos líderes de priorizar a estratégia de longo prazo sobre o ganho eleitoral imediato.
