Análise: Enquanto Lula e Bolsonaro disputam narrativa, tarifaço de Trump atinge economia brasileira

O recente anúncio de tarifas por parte do ex-presidente Donald Trump contra o Brasil desencadeou uma reação imediata no cenário político e nas redes sociais. O episódio gerou uma polarização que expôs interesses eleitorais e o uso político da crise, especialmente entre os grupos ligados ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O papel do bolsonarismo no estopim da crise
- Levantamentos nas redes sociais indicam que parte expressiva da população brasileira associa o bolsonarismo à responsabilidade direta pelo chamado “tarifaço”. Isso não acontece por acaso: segundo análises de bastidores políticos e relatos da imprensa, setores ligados a Bolsonaro atuaram nos bastidores nos Estados Unidos buscando apoio de Donald Trump. A intenção seria evitar investigações e possíveis prisões do ex-presidente e aliados, apostando em Trump como peça-chave para conter avanços judiciais.
- Esse movimento, conforme amplamente noticiado, envolveu articulações políticas pouco discretas e contribuiu para criar um clima de instabilidade diplomática entre Brasil e Estados Unidos. Além disso, figuras como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) foram envolvidas em suspeitas de apoio à permanência irregular de Bolsonaro fora do país.
Falhas na política externa do governo Lula também pesam
- Apesar do uso político favorável ao governo nas redes, a crise com os Estados Unidos também tem relação com erros da diplomacia atual. O governo Lula, ao apoiar abertamente figuras como Kamala Harris (adversária de Trump), defender a desdolarização mundial, e aproximar-se de blocos considerados antiamericanos, acabou alimentando o desgaste com o ex-presidente norte-americano.
- A ausência de canais de diálogo com a ala republicana e, em especial, com o próprio Trump, deixou o Brasil vulnerável à retaliação política e econômica num momento de alta tensão eleitoral nos EUA.
Capital político, mas sem solução concreta
- Nos primeiros dias após o tarifaço, o governo Lula conseguiu capitalizar politicamente. O petismo, geralmente malvisto nas redes sociais, conseguiu “surfar” em uma onda de indignação pública direcionada ao bolsonarismo, o que pode melhorar a imagem do presidente e fortalecer sua base pensando em 2026.
- No entanto, esse ganho é superficial: ele não resolve o impacto direto das tarifas sobre a economia brasileira. As medidas protecionistas de Trump afetam exportações brasileiras, principalmente do setor de aço e alumínio, e podem gerar efeitos colaterais como desvalorização do real, aumento da inflação e perda de competitividade.
Atores em movimento, mas sem plano claro
O vice-presidente Geraldo Alckmin foi escalado para liderar um grupo de diálogo com empresários e tentar reverter ou mitigar os danos do tarifaço. O esforço é visto como importante, mas até agora sem uma estratégia clara ou garantias de que surtirá efeito diante de um cenário internacional cada vez mais imprevisível.
Resultados desse embate:
O tarifaço imposto por Trump ao Brasil foi transformado em arma política interna, alimentando disputas e narrativas tanto da esquerda quanto da direita. No entanto, o uso eleitoral do episódio não resolve o problema real: uma deterioração das relações comerciais e diplomáticas com os Estados Unidos, agravada por ações de bastidores do bolsonarismo e pela falta de habilidade do atual governo em manter pontes abertas com diferentes espectros políticos internacionais.
Para o Brasil, a única saída real será construir uma diplomacia sólida, técnica e despolitizada, que antecipe riscos e atue com inteligência geopolítica. Enquanto isso não acontece, o país permanece vulnerável — e a conta, mais uma vez, será paga pela economia nacional.