Crise Brasil x EUA: Por que Lula e Trump chegaram ao pior momento da história diplomática?

As relações entre Brasil e Estados Unidos, que completaram 201 anos em 2024, passam por seu momento mais crítico em dois séculos. O anúncio de tarifas comerciais por Donald Trump, vinculado ao processo judicial contra Jair Bolsonaro, gerou uma crise diplomática sem precedentes, com trocas de acusações públicas entre os governos. Este resumo explora a história dessa relação, os motivos da atual tensão e suas possíveis consequências.
A histórica relação entre Brasil e Estados Unidos:
- Origem e fortalecimento: Os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil (1824). Durante a República (a partir de 1889), o Brasil inspirou-se em instituições norte-americanas, como o sistema presidencialista, e aprofundou laços comerciais.
- Parceria estratégica: Os EUA foram o principal parceiro comercial do Brasil até 2009, quando a China assumiu a posição. Em 2023, o fluxo bilateral atingiu US$ 80 bilhões.
Momentos de tensão anteriores:
- Golpe de 1964: Os EUA apoiaram a deposição de João Goulart, temendo a influência soviética. Documentos revelam o planejamento da "Operação Brother Sam", que previa envio de tropas caso houvesse resistência.
- Ditadura militar (anos 1970): O governo Jimmy Carter pressionou o regime brasileiro por violações de direitos humanos e tentou barrar o programa nuclear do país, levando ao rompimento de acordos militares.
- Espionagem de Dilma Rousseff (2013): Revelações de que a NSA grampeou a presidente Dilma causaram atrito com Barack Obama, resultando no cancelamento de uma visita de Estado.
O atual conflito: Trump, Lula e as tarifas comerciais
Contexto político:
- Trump e Bolsonaro mantiveram relações próximas, enquanto Lula e Trump nunca dialogaram diretamente. Em 2022, Trump chamou Lula de "lunático radical" e, em 2024, Lula declarou apoio a Kamala Harris, rival de Trump.
- Eduardo Bolsonaro (filho do ex-presidente) mudou-se para os EUA e pressionou por sanções contra o Brasil, especialmente contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF.
A crise recente:
- Ameaças de Trump: Em julho de 2025, Trump anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, vinculando-as ao julgamento de Bolsonaro, que ele chamou de "caça às bruxas".
- Resposta de Lula: O presidente brasileiro classificou as declarações como interferência na soberania nacional e afirmou que o Brasil "não aceita tutela".
- Impacto imediato: O governo brasileiro vê a medida como um ataque à democracia e uma tentativa de influenciar as eleições de 2026.
Por que este é o pior momento da relação bilateral?
Opinião dos especialistas:
- Rubens Ricupero (ex-embaixador):
"É o episódio mais grave em 200 anos, pior que o golpe de 1964, pois há uma interferência direta em instituições brasileiras, como o STF."
- Hussein Kalout (Cebri):
"Trump adotou uma postura coercitiva, sem precedentes na história diplomática."
- Guilherme Casarões (FGV):
"A agressão é frontal e gratuita, com claro desrespeito à soberania."
Diferencial em crises passadas:
- Em 1964 e 2013, havia canais de diálogo. Agora, a vinculação das tarifas ao caso Bolsonaro limita a margem de negociação.
Possíveis cenários e consequências:
- Efeitos econômicos: As tarifas podem prejudicar setores como aço, café e suco de laranja, principais exportações brasileiras para os EUA.
- Retaliação do Brasil: Especialistas sugerem que o país pode retaliar com medidas similares, afetando produtos como trigo e combustíveis.
Estratégias para o Futuro
O Brasil enfrenta o desafio de manter canais de diálogo abertos e tentar negociar as tarifas para controlar os danos econômicos. Analistas sugerem algumas abordagens cruciais:
1.
Diálogo e engajamento: É essencial que o governo brasileiro mantenha o "espírito diplomático de engajamento", evitando o fechamento total dos canais de negociação. A meta é tentar adiar as tarifas ou encontrar outros resultados favoráveis.
2.
Retaliação (último recurso): Caso a inflexibilidade norte-americana em manter as tarifas persista, o Brasil pode ser obrigado a retaliar. Mapear vulnerabilidades na relação comercial permite que o Brasil aplique a "lei da reciprocidade" para evitar submissão a uma "extorsão indevida".
3.
Incerteza eleitoral: A proximidade das eleições presidenciais nos EUA e no Brasil adiciona uma camada de complexidade. A incerteza sobre a política externa da próxima administração americana dificulta o restabelecimento de boas relações. Além disso, o cenário de crise pode levar o governo brasileiro a adotar uma postura mais nacionalista, o que pode aprofundar a polarização interna.
O futuro das relações Brasil-EUA depende da capacidade de ambos os países em priorizar o pragmatismo e o diálogo sobre os interesses políticos imediatos.