Mega fraude Banco Master: Vínculos com Toffoli e contrato milionário da esposa de Alexandre de Moraes acendem alerta no STF
A relação entre Daniel Vorcaro, controlador do Banco Master, e membros do Supremo Tribunal Federal (STF) ganhou destaque após a Operação Compliance Zero da Polícia Federal, que investiga suspeitas de fraude bilionária no sistema bancário. A revelação de contratos e encontros levanta questões sobre conflito de interesses e transparência no Judiciário.
O contrato milionário com o escritório de Alexandre de Moraes
Um dos pontos centrais da controvérsia é um contrato encontrado no celular de Daniel Vorcaro, envolvendo o escritório de advocacia da esposa do ministro Alexandre de Moraes, Viviane Barci de Moraes.
- Valor e prazo: O contrato previa pagamentos mensais de
R$ 3,6 milhões, totalizandoR$ 129milhões ao longo de três anos, a partir de 2024. - Escopo amplo: O documento, conforme divulgado, não especificava causas ou processos definidos, estabelecendo uma atuação ampla para representar o banco "onde fosse necessário."
- Prioridade interna: Mensagens entre executivos indicavam que o pagamento ao escritório era tratado internamente como uma prioridade, apesar de o acordo não ter sido totalmente executado devido à liquidação do banco.
- Envolvimento familiar: Os filhos do casal Moraes, que também integram a banca, aparecem em pelo menos um processo ligado a Vorcaro.
O encontro no voo de Dias Toffoli
Outro episódio que gerou críticas envolve o ministro Dias Toffoli, relator do caso Master no STF:
- Viagem compartilhada: Toffoli viajou para assistir à final da Libertadores, em Lima, no Peru, no mesmo voo particular que Augusto Arruda Botelho, advogado de um dos diretores do Banco Master.
- Coincidência questionável: A viagem ocorreu logo após Toffoli ser sorteado relator do recurso apresentado pela defesa de Daniel Vorcaro. O ministro confirmou a viagem, mas negou ter discutido o processo durante o trajeto.
- Transferência e sigilo: Posteriormente, Toffoli acolheu o pedido de um diretor do Master, transferiu o inquérito para o STF, sob sua própria relatoria, e decretou sigilo absoluto, justificando a medida por envolver informações econômicas sensíveis.
As implicações da Operação Compliance Zero
As revelações vieram à tona no contexto de uma grave investigação sobre a instituição financeira:
- Prisão e soltura: Daniel Vorcaro foi preso preventivamente em 17 de novembro, acusado de fraudar
R$ 12,2 bilhões, mas foi solto 11 dias depois por habeas corpus concedido pelo TRF da 1ª Região, sendo monitorado por tornozeleira eletrônica e proibido de atuar no setor financeiro. - Maior quebra da história: A liquidação extrajudicial do Banco Master foi decretada pelo Banco Central no mesmo dia das prisões e é considerada a maior da história do país em impacto para o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), podendo ressarcir 1,6 milhão de investidores.
- Suspeitas de fraude: A PF investiga fraudes como concessão de créditos, emissão de títulos irregulares e criação de carteiras falsas, operações que teriam alimentado uma tentativa de venda do banco.
Debate sobre ética e transparência no STF
Para especialistas, os episódios expõem fragilidades na accountability (prestação de contas e transparência) do Supremo Tribunal Federal, reacendendo o debate sobre a conduta dos ministros:
- Conflito de interesses: A professora Ligia Maura Costa (FGV) aponta que os casos sinalizam uma "falha séria de accountability" e que a mistura entre interesse público e privado deve acender um alerta máximo para ministros do STF.
- Suspeição argumentada: Costa argumenta que Toffoli deveria, no mínimo, ter se julgado suspeito para relatar o caso, e que a imposição de sigilo em um caso de corrupção é "totalmente fora do padrão."
- Necessidade de regulação: Há um consenso entre os especialistas sobre a insuficiência da legislação atual para ministros do STF, defendendo a criação de um código de conduta específico e uma instância externa de controle para a Corte.
Outras conexões políticas
Além dos ministros, o Banco Master também demonstrou ter conexões com a política por meio de doações eleitorais:
- Maiores doações: Fabiano Campos Zettel, cunhado de Daniel Vorcaro, foi o maior doador pessoa física para as campanhas de Tarcísio de Freitas
(R$ 2 milhões)e Jair Bolsonaro(R$ 3 milhões)em 2022. - Posicionamento político: Zettel, fundador e CEO da Moriah Asset, foi o sexto maior doador pessoa física do país no último pleito.
A crise de credibilidade no STF
Os laços financeiros e pessoais entre o controlador do Banco Master e membros da cúpula do STF, evidenciados por um contrato milionário de R$ 129 milhões para o escritório da esposa de um ministro e a viagem de outro ministro em voo particular com o advogado de um dos diretores do banco, erodem profundamente a confiança pública na imparcialidade do Judiciário . Tais ocorrências, que culminaram na transferência e sigilo do inquérito pelo próprio ministro envolvido em uma das controvérsias, reforçam a urgência de um código de conduta rigoroso e um mecanismo externo de controle para o STF, pois, na ausência de transparência e accountability, a mais alta corte corre o risco de aprofundar a percepção de que opera acima das regras que deveria aplicar, comprometendo a integridade e a credibilidade do sistema de justiça nacional.
