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sábado, 15 de novembro de 2025 às 11:48 GMT+0

O gigante de pés de barro: Fuzileiros dos EUA vs. Milicianos de Maduro – O risco real de conflito na Venezuela e a posição do Brasil

A recente chegada do porta-aviões nuclear USS Gerald R. Ford ao Caribe, em novembro de 2025, elevou as tensões entre os Estados Unidos e a Venezuela a um ponto crítico. Este movimento, considerado a maior presença militar dos EUA na região desde 1989, ocorre em meio a acusações contra o presidente Nicolás Maduro. Em resposta, a Venezuela intensificou suas movimentações militares, gerando a urgente necessidade de analisar sua real capacidade de defesa e os possíveis cenários de reação.

Poder militar convencional da Venezuela: Uma visão detalhada

A capacidade de defesa venezuelana é uma complexa combinação de números impressionantes e graves deficiências operacionais.

Efetivo e força humana

  • Núcleo ativo: As Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) contam com aproximadamente 123 mil soldados ativos.
  • Apoio de milícias: O efetivo é substancialmente inflado por cerca de 220 mil milicianos e 8 mil reservistas.
  • Controvérsia de voluntários: O governo alega ter um número colossal de 8 milhões de "voluntários". Contudo, especialistas, como o ex-diplomata James Story, questionam essa cifra, citando a baixa

Força aérea e equipamentos estratégicos

  • Caças de elite: A Força Aérea possui cerca de 20 caças Sukhoi Su-30 de fabricação russa. Estas aeronaves são tecnologicamente superiores a praticamente qualquer outro caça na América do Sul.
  • Frota envelhecida: A frota inclui antigos caças F-16 comprados dos EUA nos anos 1980. A maioria estaria inoperante, com especialistas estimando que apenas "um ou dois" estariam em condições de voo.
  • Defesa antiaérea: O país possui um arsenal de defesa aérea russa:
  • Mísseis portáteis: Cerca de 5.000 mísseis Igla-S (MANPADS), com aproximadamente 700 lançadores.
  • Sistemas complexos: Sistemas mais sofisticados, como o Pantsir-S1 e o Buk-M2E, que representam uma ameaça.
  • Problema crônico: A eficácia desses sistemas é severamente comprometida pela falta de manutenção e escassez de peças de reposição.

Tecnologias assimétricas e Marinha

  • Drones nacionais: A Venezuela desenvolveu drones de ataque (ANSÚ-100 e 200), baseados em tecnologia iraniana, buscando uma vantagem em guerra não-convencional.
  • Parceria iraniana: Recebeu do Irã lanchas rápidas Peykaap-III equipadas com mísseis antinavio.
  • Fragilidade naval: A Marinha é considerada o ramo mais fraco das forças, com limitações significativas em termos de capacidade de projeção e defesa costeira.

Cenário de resposta: Discrepância entre o plano e a realidade

A análise da capacidade real de resposta revela uma grande diferença entre o arsenal teórico e a prontidão operacional.

Deficiências operacionais e vulnerabilidade tecnológica

  • "Arsenal de papel": Analistas, como Andrei Serbin Pont, afirmam que grande parte do arsenal existe apenas em teoria. A baixa disponibilidade operacional é um fator limitante.
  • Obsolescência: Sistemas mais antigos, como o antiaéreo Pechora (da década de 1960), seriam "facilmente" neutralizados pela tecnologia de guerra eletrônica e ataque dos EUA.
  • Desafio direto: O Exército convencional venezuelano não teria condições de enfrentar as Forças Armadas dos EUA em um conflito simétrico ou direto.

A estratégia de guerra assimétrica e de dissuasão

A estratégia de Maduro se baseia na dissuasão, tornando uma intervenção muito custosa politicamente para Washington, através da ameaça de uma guerra prolongada.

  • Doutrina de resistência: O governo adota a doutrina de "periodização da guerra", que prevê uma resistência prolongada e altamente descentralizada em todo o país.
  • Preparo para a guerrilha: O Ministro Diosdado Cabello anunciou o treinamento de civis em comunidades, preparando o terreno para uma "guerra prolongada" e de guerrilha urbana e rural.
  • Risco de instabilidade: Há a preocupação de que armas possam ser dispersadas para grupos irregulares, como o ELN (Exército de Libertação Nacional), aumentando o risco de instabilidade regional duradoura.

Limitações políticas e moral das tropas

A principal fragilidade da estratégia de guerrilha reside na falta de um apoio popular robusto e unificado.

  • Falta de apoio popular: Especialistas questionam o apoio a uma resistência prolongada liderada por Maduro, que é visto como uma figura impopular. A alegação oficial de milhões de votos nas eleições contestadas de 2024 é amplamente duvidada pela oposição e por observadores internacionais.
  • Moral baixa: As altas taxas de deserção e a dificuldade de manutenção minam a moral e a eficácia das tropas e milícias.

Implicações estratégicas e relevância do cenário

Um conflito na Venezuela teria consequências que transcendem as fronteiras, afetando a estabilidade global e regional.

  • Geopolítica regional: A crise representa uma ameaça direta à estabilidade da América Latina, com o potencial de gerar novos e grandes fluxos migratórios e problemas de segurança nas fronteiras.
  • Lição militar: O cenário demonstra as limitações claras de forças militares regionais em enfrentar uma superpotência, mesmo quando equipadas com armamentos modernos.
  • Impacto humanitário: Uma intervenção militar agravaria a já crítica situação humanitária dentro da Venezuela.
  • Diplomacia global: A crise testa a eficácia dos mecanismos multilaterais regionais e a capacidade de alianças internacionais (como Rússia e Irã) de influenciar a dinâmica do confronto.

Repercussão política e regional do Brasil

Como país com a mais extensa fronteira terrestre com a Venezuela, o Brasil se torna um ator inevitável e central no desenvolvimento de qualquer crise na região.

  • Desafio migratório exponencial: A ameaça de um conflito desencadearia um fluxo migratório massivo e urgente em Roraima e no Norte do Brasil, exigindo uma expansão imediata da "Operação Acolhida" e sobrecarregando a infraestrutura de saúde e social.
  • Postura diplomática de não-intervenção: O Brasil se veria na posição crucial de defender a soberania venezuelana e o princípio da não-intervenção militar em fóruns como a OEA e a ONU, buscando evitar que a crise se torne um precedente perigoso para a região.
  • Segurança de fronteiras: A estratégia de guerrilha de Maduro eleva o risco de infiltração de grupos armados irregulares e o aumento do tráfico ilícito através da fronteira. O Exército Brasileiro precisaria de um reforço significativo para garantir a neutralidade e a segurança do território nacional.
  • Liderança regional: O país teria a responsabilidade de mobilizar e coordenar as nações vizinhas (incluindo o Mercosul) em torno de uma solução pacífica e negociada, tentando mediar a crise e conter a polarização entre potências globais.

A Venezuela se apresenta como um "gigante de pés de barro" militarmente, pois seu arsenal numeroso e moderno (como os caças Su-30) é sabotado por deficiências crônicas de manutenção e uma moral baixa das tropas. Um confronto simétrico contra a superioridade tecnológica dos EUA seria insustentável; por isso, a única estratégia de Maduro é a dissuasão baseada na ameaça de uma guerra de guerrilha prolongada, elevando o custo político da intervenção. No entanto, a fragilidade operacional e a falta de apoio popular maciço enfraquecem seriamente essa ameaça, configurando um cenário de alto risco e consequências imprevisíveis para a estabilidade regional, onde o Brasil assume o papel crucial de principal amortecedor humanitário e diplomático.

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