Por que o Brasil está perdendo a luta contra a sífilis? Sintomas que desaparecem sozinhos - Entenda o perigo da fase latente
A sífilis continua em ritmo acelerado de crescimento no país, acompanhando uma tendência global. Embora seja uma doença de fácil diagnóstico e tratamento barato, o Brasil enfrenta dificuldades históricas para controlar os índices, especialmente entre a população jovem e gestantes.
O cenário epidemiológico atual
Dados do Ministério da Saúde revelam a gravidade da situação:
1. Gestantes em risco: Entre 2005 e meados de 2025, o país registrou mais de 810 mil casos em gestantes.
2. Distribuição regional: A Região Sudeste lidera o número de diagnósticos (45,7%), seguida pelo Nordeste (21,1%), Sul (14,4%), Norte (10,2%) e Centro-Oeste (8,6%).
3. Transmissão vertical: A taxa de detecção alcançou 35,4 casos por mil nascidos vivos em 2024, evidenciando o avanço da transmissão da mãe para o bebê durante a gestação.
Por que os casos continuam subindo?
Especialistas apontam que a queda no uso de métodos de barreira (preservativos) é o principal fator. As causas variam conforme a faixa etária:
- Jovens (15 a 25 anos): A redução do medo em relação ao HIV, que se tornou uma doença crônica tratável, gerou um relaxamento na prevenção de outras ISTs.
- Terceira idade: O aumento da vida sexual ativa, impulsionado por medicamentos para performance sexual e a ausência do risco de gravidez, contribui para o abandono do preservativo.
- Festividades: Períodos como o Carnaval aumentam a exposição a relações desprotegidas.
O perigo da infecção sem sintomas
Um dos maiores desafios para o controle da doença é o seu caráter silencioso:
- Assintomáticos: Cerca de 80% das gestantes não apresentam sintomas visíveis, permanecendo na chamada "fase latente".
- Lesões que desaparecem: No homem, a ferida inicial (cancro) desaparece sozinha mesmo sem tratamento, dando a falsa sensação de cura enquanto a bactéria continua a circular e ser transmitida.
- Localização oculta: Na mulher, as lesões frequentemente surgem no fundo da vagina ou no colo do útero, dificultando a percepção visual.
Falhas no diagnóstico e tratamento
A Dra. Helaine Milanez, da Febrasgo, alerta para erros comuns no sistema de saúde que impedem a redução dos números:
- Interpretação de exames: Profissionais por vezes confundem testes positivos com "cicatriz sorológica" e deixam de tratar pacientes que ainda podem transmitir a doença.
- Tratamento do parceiro: Muitas vezes o parceiro sexual não é tratado simultaneamente, o que gera um ciclo de reinfecção contínua da gestante e do feto.
- Pré-natal: A sífilis congênita é considerada hoje um dos principais indicadores da qualidade (ou falta dela) da atenção básica à saúde.
Riscos e evolução da doença
Se não tratada adequadamente com penicilina, a sífilis evolui por fases:
- Fase primária: Úlcera genital (cancro duro).
- Fase secundária: Manchas na pele (inclusive em palmas e plantas dos pés), queda de cabelo e mal-estar generalizado. Nesta fase, a carga bacteriana é altíssima.
- Fase terciária: Danos graves a órgãos internos, sistema cardiovascular e sistema nervoso.
- Transmissão fetal: Em gestantes com sífilis recente não tratada, o risco de infectar o bebê chega a 100%, podendo causar malformações, aborto ou morte fetal.
Um desafio de saúde pública evitável
A sífilis é uma doença secular com cura rápida, barata e acessível, mas que continua a avançar por falhas no diagnóstico e pelo abandono do uso de preservativos. O crescimento alarmante entre jovens e a alta incidência em bebês são sinais de que o Brasil precisa tratar a prevenção com a mesma urgência que trata a doença. Sem o tratamento conjunto do parceiro e uma interpretação rigorosa dos exames no pré-natal, o país continuará falhando em proteger suas futuras gerações de uma infecção totalmente evitável.
