Crença do "arrebatamento": Por que as profecias do fim do mundo se espalham tão rápido?

Em um mundo cada vez mais complexo e incerto, a busca por significado e esperança se intensifica. Em setembro de 2025, uma profecia sobre o Arrebatamento viralizou nas redes sociais, reacendendo debates antigos sobre o fim dos tempos.
A profecia que mobilizou a internet: O pastor sul-africano Joshua Mhlakela usou o TikTok e o X (antigo Twitter) para anunciar que o Arrebatamento ocorreria na virada do dia 23 para 24 de setembro. Sua mensagem, baseada em uma suposta visão de Jesus, ecoou em diversos países, especialmente nos Estados Unidos, África e Índia.
O que é o arrebatamento?
O Arrebatamento é uma crença cristã que ganhou popularidade em certas denominações. Ela se baseia na ideia de que Jesus Cristo retornará de forma repentina e invisível para levar seus seguidores ao céu.
- Origens bíblicas: A base dessa crença é encontrada principalmente na Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses, que descreve os fiéis sendo "arrebatados juntamente com eles nas nuvens" após a ressurreição dos mortos em Cristo.
- Esperança em meio ao caos: Para os crentes, o Arrebatamento oferece conforto, prometendo a união com Deus e o reencontro com entes queridos em um mundo onde as tribulações são vistas como sinais do apocalipse, conforme descrito no livro de Apocalipse.
Múltiplas visões: Não há consenso sobre a profecia
Mesmo entre os que creem no arrebatamento, existem diferentes interpretações sobre o momento de sua ocorrência.
- Pré-tribulacionista: Defende que os fiéis serão arrebatados antes do período de grande tribulação.
- Meso-tribulacionista: Acredita que a igreja passará pela metade desse período.
- Pós-tribulacionista: Entende que os cristãos enfrentarão todo o período de sofrimento.
Além disso, a profecia de uma data exata é um tema recorrente na história, com diversas previsões que não se concretizaram, como as do pastor Harold Camping para 1994 e 2011. A própria Bíblia, em Mateus 24:36, afirma que "ninguém sabe o dia nem a hora".
Por que profecias ganham força em nossa época?
A viralização de profecias como a de Mhlakela não é um evento isolado, mas um reflexo do nosso tempo, segundo o sociólogo da religião Francisco Borba Ribeiro Neto.
- Incerteza global: Vivemos em uma era de crises climáticas, guerras e pandemias. Essa sensação de catástrofe iminente cria um ambiente fértil para narrativas que oferecem explicações e escapismo.
- O poder das redes sociais: Plataformas digitais amplificam e disseminam rapidamente teorias, conectando pessoas com crenças semelhantes e criando "bolhas" sociais.
- Frustração com o progresso: Há uma crescente desilusão com a promessa de que o avanço científico e econômico traria segurança e prosperidade para todos, deixando um vazio que narrativas espirituais podem preencher.
Uma crença não universal
- É fundamental destacar que o conceito do arrebatamento viralizado é uma interpretação específica, e não é aceito por todas as vertentes do cristianismo. Por exemplo, a Igreja Católica rejeita essa doutrina, popularizada no século XIX por teólogos como John Nelson Darby.
- Teólogos como Gerson Leite de Moraes lembram que o texto original de Paulo aos Tessalonicenses tinha um objetivo prático: motivar a comunidade a continuar sua vida e trabalho, pois a data do retorno de Cristo era incerta.
Reflexo de nossos medos e esperanças
- Embora a profecia de 2025 não tenha se concretizado, sua viralização revela muito sobre nossa sociedade. Ela mostra uma humanidade que, diante de incertezas e de um futuro ameaçador, busca respostas imediatas e conforto espiritual.
O fenômeno é menos sobre a data em si e mais sobre como nossos medos coletivos e a necessidade de encontrar esperança se manifestam em um mundo cada vez mais complexo. A história nos ensina que, apesar das constantes preocupações com o fim, a vida sempre segue adiante, desafiando previsões e criando novos futuros.