Nepal em chamas: Como a Geração Z usou redes sociais para desafiar a corrupção política e derrubar um Primeiro Ministro

O Nepal, conhecido por suas paisagens montanhosas, está no centro de uma das maiores crises políticas e sociais de sua história recente. A capital, Katmandu, tornou-se o epicentro de uma revolta popular que se espalhou rapidamente, com cenas de violência, incêndios e uma resposta militar severa. A crise, que já resultou na renúncia do primeiro-ministro, é liderada por um movimento singular: a Geração Z.
A faísca que incendiou o país
A crise não surgiu do nada, mas foi desencadeada por uma medida do governo de Khadga Prasad Oli:
- A proibição digital: O governo decretou a proibição de 26 plataformas de redes sociais, incluindo WhatsApp, Instagram e Facebook. A justificativa oficial era combater desinformação e discurso de ódio.
- Censura x Corrupção: A população, no entanto, viu a medida como uma tentativa de censurar uma crescente campanha anticorrupção que ganhava força online.
- O catalisador: Embora a proibição tenha sido revogada, a decisão já havia agido como um estopim, liberando uma frustração acumulada com a elite política, vista como corrupta e distante.
A revolta da Geração Z
O que torna esse movimento único é a sua liderança e organização:
- Nativos digitais no comando: Os protestos são majoritariamente liderados por jovens da Geração Z. Eles usaram as próprias redes sociais que o governo tentou calar para se mobilizar.
- Um movimento sem rosto: A revolta é descentralizada, sem uma liderança única. A organização ocorre através de coletivos online.
- "Nepo Babies" e a luta por igualdade: O slogan "nepo baby" e "nepo kids" viralizou, simbolizando a frustração com o estilo de vida luxuoso e privilegiado dos filhos de políticos. Esses termos encapsulam a indignação com a desigualdade e a percepção de que o Nepal é governado por uma elite fechada.
Da paz ao caos: A escalada da violência
Os protestos, que começaram de forma pacífica, rapidamente se tornaram violentos.
- Infiltrados: Os organizadores do movimento e o exército nepalês afirmam que a violência foi, em grande parte, obra de "oportunistas" e "infiltrados" que sequestraram o movimento legítimo.
- Incêndios e vandalismo: Multidões invadiram e incendiaram prédios do poder, como o complexo governamental de Singha Durbar e a sede do Parlamento. Residências de políticos também foram atacadas.
- Tragédia: Um incidente trágico resultou em queimaduras graves na esposa de um ex-primeiro-ministro. Além disso, a violência levou à fuga de milhares de detentos.
O cenário atual: Toque de recolher e vácuo de poder
A resposta do governo e a situação atual no Nepal são de alta tensão:
- O exército nas ruas: O exército foi mobilizado para impor um toque de recolher rigoroso em Katmandu. O aeroporto, que havia sido fechado, foi reaberto.
- Abertura para o diálogo: Em um gesto notável, o exército convidou os líderes da Geração Z para dialogar.
- Limpeza e reconstrução: Jovens voluntários, que não participaram da violência, se uniram para ajudar a limpar a cidade, mostrando o lado construtivo do movimento.
- Futuro incerto: A renúncia do primeiro-ministro Khadga Prasad Oli criou um vácuo de poder. O presidente Ram Chandra Poudel tenta estabilizar o país, mas ainda não se sabe quem formará o novo governo.
O Nepal em uma encruzilhada: 5 pontos-chave
A crise no Nepal tem implicações importantes que vão além das suas fronteiras:
1.
Crise de legitimidade democrática: A revolta expõe a falência da classe política tradicional, acusada de corrupção e nepotismo.
2.
O poder da mobilização digital: A crise demonstra a capacidade das redes sociais de mobilizar uma geração conectada, mesmo diante de tentativas de censura.
3.
Risco geopolítico: A instabilidade no Nepal, um país localizado entre China e Índia, pode afetar a estabilidade regional.
4.
Alerta global: A tentativa de censura serve como um aviso sobre como governos podem usar o pretexto de combater "notícias falsas" para silenciar a dissidência.
5.
Desafios de movimentos descentralizados: A facilidade com que os protestos foram cooptados por elementos violentos mostra os desafios de se manter o controle em movimentos sem uma liderança formal.
A crise no Nepal é mais do que uma simples revolta; é um grito coletivo por uma mudança sistêmica. O país está em uma encruzilhada, onde o diálogo entre o governo e uma nova geração pode moldar seu futuro.