"Os opostos se atraem" se tornou um mito? Match - Como a tecnologia prova que buscamos semelhanças, e não opostos, no amor

O ditado "Os opostos se atraem" é um pilar da cultura popular, alimentando narrativas românticas sobre a união improvável. No entanto, a ciência moderna apresenta um cenário diferente e bem menos poético. Décadas de pesquisa em psicologia e sociologia revelam que, no mundo real, a atração é majoritariamente alimentada pela semelhança, e não pela diferença. Este texto desmistifica o mito, analisa as razões de sua persistência e examina como a tecnologia está reforçando ainda mais a busca por parceiros semelhantes.
As evidências científicas: A força inegável da semelhança
Numerosos estudos, realizados ao longo de décadas, convergem para a mesma conclusão: pessoas tendem a se conectar com quem é parecido com elas.
- A queda da hipótese dos opostos: A crença nos opostos atingiu seu auge acadêmico em 1954, mas essa teoria foi rapidamente refutada. O pesquisador Donn Byrne demonstrou o contrário, mostrando que os indivíduos preferiam e avaliavam melhor aqueles que compartilhavam de suas atitudes e opiniões.
- A semelhança como regra: A psicóloga Angela Bahn consolidou essas descobertas em um estudo de 2017. Sua equipe observou casais e amigos, constatando semelhanças estatisticamente significativas em 86% das variáveis analisadas, que incluíam desde atitudes sobre aborto e casamento gay até valores pessoais.
- Personalidade - Mais semelhante do que parece: Embora a área da personalidade (os "Cinco Grandes" traços) apresente resultados mais variados, um estudo de 2017 da University College London, que analisou milhares de casais, encontrou fortes semelhanças em todos os cinco traços de personalidade. Isso sugere que a atração pela semelhança se estende até mesmo aos aspectos mais profundos do comportamento.
Por que o mito aparenta ser verdadeiro?
Se a ciência é tão clara, por que o ditado "Os opostos se atraem" persiste em nossa mente? A resposta está em como percebemos as diferenças e as similaridades.
- Valores centrais vs. Diferenças superficiais: Muitas vezes, diferenças de hobbies ou estilos de vida (ex: um economista e um artista) mascaram uma profunda semelhança em valores fundamentais. O casal provavelmente compartilha crenças sobre família, ideologia política e visão de mundo. Vemos as diferenças aparentes, mas a base sólida do relacionamento são as semelhanças invisíveis.
- Complementaridade como exceção pontual: Em traços muito específicos, a complementaridade pode ocorrer. Por exemplo, duas pessoas com alta dominância podem entrar em conflito constante, fazendo com que uma pessoa dominante se harmonize melhor com alguém mais cooperativo. No entanto, isso é uma exceção tática dentro de um vasto oceano de concordância em aspectos mais amplos.
Tecnologia e polarização: O reforço da homogeneidade
O cenário social e tecnológico contemporâneo está tornando a atração pelos semelhantes ainda mais evidente e pronunciada.
- As bolhas algorítmicas: Redes sociais e seus algoritmos conectam indivíduos com crenças similares, criando "bolhas" onde a exposição a opiniões diferentes é mínima. Isso influencia diretamente a forma como conhecemos e nos relacionamos.
- Filtros nos aplicativos de namoro: Aproximadamente metade dos jovens adultos usa aplicativos de relacionamento, e muitos deles oferecem filtros para buscar parceiros com opiniões políticas e estilo de vida específicos. Relatos indicam que o uso de selos de identificação ideológica (como "Black Lives Matter") pode dobrar as chances de match com alguém que também o utilize, indicando uma forte seleção ideológica.
- A polarização como critério: Questões sociais e políticas tornaram-se fatores críticos. Pessoas estão cada vez menos dispostas a se envolver com quem não compartilha suas convicções mais profundas (como feminismo ou direitos LGBTQ+), impulsionando o surgimento de aplicativos criados especificamente para atender a essa demanda por homogeneidade ideológica.
Semelhança para a estabilidade, diferença para o crescimento
- A ciência é categórica: O ditado "Os opostos se atraem" é, em grande medida, um mito. A regra geral é a atração pela semelhança, especialmente em valores, crenças e atitudes.
- Relacionamentos baseados em semelhanças têm maior potencial para serem estáveis e duradouros, pois os conflitos fundamentais são minimizados. No entanto, a contrapartida é que relacionamentos excessivamente homogêneos podem limitar a exposição a novas ideias e o crescimento pessoal.
O futuro das conexões sugere um cenário onde a semelhança é o principal combustível. Embora a complementaridade ainda tenha seu lugar em áreas pontuais, o velho ditado está sendo substituído pela evidência de que, para a maioria das pessoas, o verdadeiro conforto e a atração estão em encontrar um espelho e não um oposto.