Patriot 2.0 vs. Brasileiros em Massachusetts: Redes de solidariedade, drones e a luta secreta por dignidade contra a deportação do ICE

A maior comunidade estrangeira de Massachusetts, composta por brasileiros, vive sob intenso medo e incerteza. Desde o início de setembro, a implementação da Operação "Patriot 2.0", liderada pelo governo do Presidente Donald Trump, intensificou a perseguição a imigrantes indocumentados. Este resumo, baseado em uma reportagem da BBC News Brasil, detalha como essa comunidade tem criado redes de apoio inovadoras para enfrentar a ameaça constante de deportação.
O que é e por que "Patriot 2.0"?
A operação não é um caso isolado, mas parte de uma política de imigração mais rígida e focada na região:
- Objetivo declarado: O Departamento de Segurança Interna (DHS) tem a meta clara de "Caçar, Prender, Deportar" indivíduos que entraram ou permaneceram ilegalmente no país, com a mensagem categórica de que não poderão retornar.
- Contexto político: A iniciativa é vista como uma resposta direta à prefeita democrata de Boston, Michelle Wu, que governa uma "cidade-santuário"— um município que adota políticas de não colaboração com as ações federais de repressão a imigrantes.
- Escala da deportação: A política do governo Trump já resultou na deportação de 400 mil pessoas desde seu retorno à Casa Branca. Desse total, quase 2 mil são brasileiros que foram deportados em voos diretos para o Brasil.
Estratégias de autodefesa e comunicação comunitária
Diante da pressão, a comunidade brasileira, estimada entre 150 mil e 300 mil pessoas na região, desenvolveu mecanismos complexos de autodefesa e monitoramento:
1. WhatsApp: A central de alerta em tempo real
Milhares de membros usam grupos de WhatsApp como a espinha dorsal da comunicação e um sistema de alerta precoce.
- Avisos matinais: As mensagens começam por volta das 5h da manhã, o horário em que os agentes do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega) se reúnem.
- Informações compartilhadas: Os participantes trocam localizações de blitzes, fotos de veículos suspeitos (muitas vezes descaracterizados), imagens de pessoas detidas e avisos sobre áreas de risco.
2. Mudanças de comportamento e "americanização"
O medo alterou radicalmente a rotina dos imigrantes, levando a medidas extremas para evitar a detecção:
- Comportamento em público: Evitar sair com os filhos, não falar português em locais públicos.
- Sacrifício financeiro: Recomendações para não ir trabalhar por alguns dias, preferindo a perda de renda ao risco da detenção.
- Dissimulação: Sugestões para "americanizar" a aparência, incluindo o uso de óculos escuros e até a colocação de adesivos de apoio a Trump nos carros para tentar passar despercebido.
3. Inovação no monitoramento: O uso de drones
Em um ato de resistência tecnológica, moradores de um condomínio majoritariamente brasileiro passaram a utilizar drones.
- Tática aérea: Os dispositivos são usados para obter imagens aéreas e vigiar a vizinhança, identificando carros de agentes à espreita e permitindo que os moradores evitem sair de casa em momentos de perigo.
Redes de apoio organizado e o custo humano
Paralelamente aos grupos informais, organizações como a LUCE (Coalizão de Organizações Comunitárias) oferecem uma estrutura de apoio crucial:
- Suporte organizado: A LUCE mantém uma linha telefônica para denúncias de ações do ICE.
- Documentação e fiscalização: Envio de "Verificadores" aos locais de abordagem para documentar e filmar as ações, exercendo o direito constitucional de registro e buscando coibir violações de direitos.
- Assistência completa: Oferecem apoio jurídico, auxiliam com compras de supermercado para famílias afetadas e trabalham na coleta de evidências.
A situação revela um custo humano profundo, que vai além das estatísticas de deportação:
- Fragilidade jurídica: A permissão da Suprema Corte dos EUA para abordagens baseadas em raça ou idioma é vista como uma "carta branca" para perfis raciais e linguísticos.
- Angústia e desaparecimento: As mensagens revelam a angústia, o desejo de retornar ao Brasil, e o medo de "desaparecer" após a detenção, já que os indivíduos são frequentemente transferidos rapidamente para outros estados.
A história da comunidade brasileira em Massachusetts é um poderoso retrato de resiliência civil e adaptação no Século XXI, onde a tecnologia e a solidariedade se tornam armas em um conflito assimétrico contra o poder estatal.