Autonomia e flexibilidade: Entenda por que aplicativos superam a atração do emprego CLT
O mercado de trabalho no Brasil enfrenta um momento de profunda transformação e desafios, com segmentos importantes, como a indústria e o comércio, reportando crescentes dificuldades na contratação e retenção de talentos.
O gargalo da qualificação na indústria
A falta de mão de obra qualificada é a principal preocupação do setor industrial, conforme aponta uma sondagem da CNI (Confederação Nacional da Indústria):
- 62% das empresas industriais relatam dificuldade em preencher vagas com profissionais adequados.
- A raiz do problema é identificada na educação e qualificação profissional, especialmente no contexto das novas tecnologias e modelos de trabalho.
- Novo perfil requerido: As empresas buscam profissionais capazes de atuar na resolução de problemas complexos, um perfil que demanda formação técnica e especializada.
Baixa taxa de formação técnica:
O Brasil apresenta um percentual historicamente baixo de jovens que concluem o ensino médio com formação técnica.
- Cerca de 11% dos jovens brasileiros que terminam o ensino médio fazem cursos profissionalizantes.
- Esse índice contrasta fortemente com os países da OCDE, onde a taxa varia entre 35% e 65%.
Ações em curso:
Instituições como o Senai estão criando programas setoriais focados em segmentos estratégicos para reverter o cenário, priorizando áreas com maior demanda e remuneração, como:
- Construção Civil (em parceria com a CBIC).
- Inteligência Artificial (com a Brasscom).
- Energia renovável, vestuário e alimentos.
A alta rotatividade e a crise no comércio
Além da qualificação, a alta rotatividade de funcionários é um fator de preocupação que atinge, por exemplo, o setor de comércio em São Paulo:
Aumento na troca de emprego:
Dados do IBGE mostram que, desde a pandemia, os trabalhadores têm trocado mais de emprego.
- Em 2018, menos de 12% dos brasileiros trocaram de emprego entre um ano e outro.
- Em 2022, o número chegou a ultrapassar 14%, situando-se em 13,7% atualmente.
Redução do tempo de permanência:
- No comércio, o tempo médio de permanência no emprego caiu 7% entre 2015 e 2024, chegando a apenas 26 meses.
Impacto no varejo:
- O tempo que uma empresa varejista leva para trocar todo o seu quadro de funcionários caiu de 2 anos e 3 meses (em 2020) para apenas 1 ano e 7 meses (em 2024).
A atração da nova economia e o comportamento jovem
Especialistas apontam que a mudança no comportamento dos jovens e a migração para plataformas de trabalho autônomo (a chamada nova economia) representam um terceiro motivo para a crise de mão de obra formal:
Baixa atratividade do serviço formal:
O trabalho formal é visto como menos atraente em comparação com a autonomia e flexibilidade oferecidas por:
- Serviços informais.
- Trabalho por projeto.
- Abrir a própria empresa.
Prioridade na autonomia:
- Profissionais, como motoristas de aplicativo, valorizam a flexibilidade de horários e a autonomia para gerenciar seus próprios rendimentos e tempo de trabalho.
Necessidade de "encantamento":
- Para competir com as oportunidades da nova economia, as empresas precisam criar um desenho de atração e recrutamento mais "encantador" para os profissionais.
O Brasil enfrenta uma crise tripla de mão de obra: o descompasso entre a qualificação educacional e as demandas tecnológicas da indústria, a alta rotatividade no comércio e a migração de jovens para a autonomia da nova economia. Reverter esse cenário exige um esforço urgente para tornar o emprego formal mais competitivo e atraente, investindo massivamente na formação técnica para os complexos desafios do futuro.
