Dólar a R$ 5,50: Entenda a tempestade perfeita entre medo fiscal e eleições 2026

O real brasileiro viveu um momento de grande turbulência, registrando o pior desempenho global em 10 de outubro de 2025. A moeda se desvalorizou acentuadamente frente ao dólar, rompendo a marca de R$ 5,50
, patamar não visto desde o início de agosto, e coroando uma semana de alta volatilidade.
A instabilidade do real foi resultado de uma perigosa combinação de cautela global com um aumento significativo das preocupações sobre a política econômica interna.
A tormenta perfeita: Fatores de desvalorização
A queda brusca do real foi catalisada por uma dupla de fatores que pressionou o câmbio:
Cenário global de aversão ao risco
- Tensão geopolítica: Novas ameaças de aumento de tarifas comerciais dos EUA contra a China, vindas do ex-presidente Donald Trump, reacenderam as incertezas globais.
- Fuga para a segurança: Diante desse quadro, investidores globais buscaram refúgio em ativos considerados mais seguros, como o dólar norte-americano, provocando uma fuga de capitais de mercados emergentes.
- Contágio regional: Moedas como o rand sul-africano e o peso colombiano também registraram perdas, refletindo a aversão ao risco global.
O epicentro do problema: Temor fiscal doméstico
- Descolamento negativo: Apesar do movimento global de cautela, o real se destacou negativamente, performando pior do que seus pares. Isso indica que as preocupações internas foram o fator decisivo.
- Percepção de afrouxamento: O mercado financeiro sinalizou forte desconfiança sobre a disciplina fiscal do governo, temendo um relaxamento no controle das contas públicas.
Os estopins do nervosismo fiscal
A desconfiança dos investidores não foi abstrata, mas alimentada por eventos concretos e notícias recentes que fragilizaram a credibilidade da política fiscal:
- Rejeição da medida provisória (MP): O Congresso rejeitou uma MP que alterava a tributação de investimentos. A derrota deixou uma lacuna nas projeções de receitas futuras, estimadas pelo Ministério da Fazenda em
R$ 14,8 bilhões
para 2025 eR$ 36,2 bilhões
para 2026. - O fantasma dos gastos eleitorais (2026): Uma reportagem indicou que o pacote de medidas do governo para o ano eleitoral de 2026 poderia somar até R$ 100 bilhões.
- Exemplos de gastos: Isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, distribuição de gás de cozinha e isenções na conta de luz.
- Ausência de receitas claras: A grande inquietação do mercado é a falta de fontes de receita definidas para cobrir o volume impressionante desses novos gastos, sugerindo um aumento do déficit orçamentário.
- Ciclo político expansionista: O mercado teme que 2026 seja marcado por uma onda de gastos públicos, motivada pela busca de reeleição, em detrimento do necessário rigor fiscal.
A importância do alerta cambial
O retorno do dólar a R$ 5,50
serve como um indicador crucial e um sinal de alerta para toda a economia:
- Termômetro da confiança: A cotação do dólar é o principal termômetro da confiança dos investidores na estabilidade econômica do Brasil. Uma alta abrupta sinaliza desconfiança nas atuais políticas.
- Impacto no poder de compra e inflação: O encarecimento da moeda norte-americana pressiona os preços internos (inflação), elevando o custo de produtos importados e corroendo o poder de compra da população.
- Alerta de descolamento: O fato de o real ter tido um desempenho dramaticamente pior que outras moedas emergentes, mesmo em um dia de tensão global, sugere que os riscos fiscais internos são percebidos como mais graves que os dos países concorrentes.
A forte desvalorização do real em outubro de 2025 foi um evento sintomático. Deixou claro que a sustentabilidade fiscal, na visão do mercado, é o pilar fundamental da estabilidade. A combinação de um cenário externo volátil com o temor sobre o afrouxamento das contas públicas no ano pré-eleitoral criou uma "tempestade perfeita" para a moeda brasileira.