Qual seria o caminho do Brasil para barrar o tarifaço de Trump sem ceder à chantagem? Quem pode impedir e quais os riscos?

Em uma situação inédita e alarmante, o Brasil enfrenta uma ameaça econômica direta dos Estados Unidos. O presidente Donald Trump anunciou a imposição de sobretaxas de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os EUA, a partir de 1° de agosto de 2025. A medida é parte de uma chantagem política que exige, entre outras coisas, o arquivamento de ações judiciais contra Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) e mudanças em políticas brasileiras, como a regulamentação de big techs e o sistema Pix. Diante desse cenário, surge a pergunta: há como frear esse tarifaço sem ceder às pressões?
O contexto da ameaça e suas implicações:
- Trump utiliza uma estratégia sem precedentes em democracias ocidentais, vinculando políticas comerciais a interferências em processos judiciais internos de outro país.
- Além do STF, as críticas abrangem decisões do Brasil sobre tecnologia e finanças, como o Pix, que compete com sistemas americanos.
- A medida pode prejudicar setores estratégicos da economia brasileira, como agronegócio, aviação (Embraer) e indústria.
Possíveis caminhos para o Brasil:
1. Recurso à Organização Mundial do Comércio (OMC):
- A OMC regula disputas comerciais entre países e poderia analisar a legalidade das tarifas.
- Limitação: Processos são lentos (podem levar anos) e a organização não tem poder para obrigar a suspensão imediata das taxas.
2. Ação no Congresso dos EUA:
- A Constituição americana dá ao Congresso o poder de regular comércio internacional, mas Trump tem maioria parlamentar e usa decretos presidenciais para impor tarifas, evitando votação.
A solução mais viável - O Tribunal Americano de Comércio Internacional:
Única instituição com poder legal para barrar o tarifaço:
- Empresas afetadas (como as que importam produtos brasileiros) podem entrar com ações contestando as sobretaxas.
- Em maio de 2025, o tribunal já derrubou tarifas globais de Trump, considerando-as ilegais por excesso de poder presidencial.
Desafios no caso do Brasil:
- Diferentemente da tarifa global de abril, agora os EUA alegam "práticas comerciais desleais" do Brasil, com base em uma lei de 1974.
- Uma investigação em curso pelo governo americano pode prolongar a disputa, mas empresas podem agir judicialmente antes da conclusão.
Estratégias complementares:
Aliança com empresas americanas:
- Setores como petróleo, tecnologia e agricultura nos EUA podem pressionar contra as tarifas, pois dependem de produtos brasileiros.
- Exemplo: A empresa americana que comprou 74 aviões da Embraer já criticou a medida.
Diplomacia e articulação política:
- Senadores brasileiros já se reuniram com representantes da Câmara de Comércio dos EUA para buscar apoio.
- A União Europeia, antes aliada em disputas comerciais, recentemente fez acordo com os EUA, reduzindo opções de parceria para o Brasil.
O Brasil tem alternativas para resistir ao tarifaço, embora nenhuma seja simples ou imediata. O caminho mais eficaz no curto prazo é a judicialização no Tribunal de Comércio Internacional dos EUA, aproveitando precedentes favoráveis. Paralelamente, aliar-se a setores empresariais americanos descontentes e fortalecer a diplomacia são medidas essenciais. A situação expõe a vulnerabilidade de países em disputas assimétricas com potências, mas também reforça a importância de instituições multilaterais e da cooperação econômica global. Enquanto o governo brasileiro busca soluções, o mundo observa um teste inédito dos limites entre política externa e interferência em soberanias nacionais.