Quem é quem na economia global? O duelo de gigantes (EUA vs. China) e a posição estratégica do Brasil na maratona pelo crescimento econômico
A economia global pode ser compreendida como uma complexa corrida de resistência, onde não há uma linha de chegada definida. Nesta disputa, cada país é um atleta que precisa demonstrar fôlego, manter o ritmo, ajustar sua estratégia e superar obstáculos inesperados para não ficar para trás. A particularidade desta corrida contemporânea são os obstáculos novos e imprevisíveis, como pandemias globais, conflitos geopolíticos e guerras comerciais, para os quais muitos "corredores" não estavam totalmente preparados. Este cenário dinâmico faz com que o bastão do crescimento econômico mude de mãos constantemente, criando um ambiente volátil e competitivo.
Os principais competidores e a dinâmica da disputa
Nesta arena global, dois corredores de elite ditam o ritmo e a direção da corrida.
- Estados Unidos: O competidor tenta equilibrar o crescimento econômico com o controle da inflação. Sua estratégia tem sido marcada por uma postura mais protecionista, que busca proteger suas indústrias nacionais e redefinir acordos comerciais.
- China: A China enfrenta o desafio de uma desaceleração estrutural em sua economia. Para recuperar o fôlego, a potência asiática aposta em estímulos internos e em um forte apoio estatal à sua indústria, mantendo-se como uma peça central no comércio mundial.
O embate entre essas duas superpotências causa ondas de impacto em toda a economia global, reconfigurando as rotas do comércio internacional. É justamente nessas fendas abertas pela disputa que outros países, como o Brasil, buscam oportunidades para avançar e ganhar espaço.
O Brasil na pista: um emergente com potencial e desafios
O Brasil se apresenta como um "velocista" com grande potencial, mas que precisa correr em uma pista cheia de obstáculos. Seu desempenho é marcado por contrastes.
- Pontos fortes: o país exibe um mercado de trabalho aquecido, com taxa de desemprego em patamares historicamente baixos (5,6% em agosto, segundo o IBGE), indicando uma economia com vitalidade.
- Desafios prementes: por outro lado, convive com uma inflação que ainda persiste acima da meta estabelecida e com uma taxa de juros elevada, o que pode frear investimentos e o consumo.
- A questão fiscal: este é um dos maiores obstáculos. A dívida bruta do setor público apresenta uma trajetória de crescimento, projetada para chegar a 79% do PIB até o final de 2025, segundo o Tesouro Nacional. Isso exige coordenação e disciplina fiscal para evitar que o "atleta" fique sem fôlego.
A diplomacia como estratégia para virar o jogo
Em uma corrida deste nível, a estratégia diplomática torna-se tão crucial quanto os indicadores econômicos. O reatamento do diálogo direto entre os Presidentes do Brasil e dos Estados Unidos é um movimento estratégico. Especialistas, como Roberto Uebel, economista e professor de Relações Internacionais da ESPM, veem nisso um primeiro passo para negociações tarifárias essenciais. A expectativa é a formação de grupos de trabalho técnicos e, posteriormente, um encontro presidencial para consolidar uma agenda de cooperação. Se bem-sucedido, este revezamento diplomático pode posicionar o Brasil de maneira estratégica entre os dois polos comerciais mais importantes do mundo, atraindo capitais e abrindo mercados.
Credibilidade e confiança: O combustível indispensável
Para um país manter seu ritmo na corrida, a confiança é o combustível primordial. No caso brasileiro, a percepção da comunidade internacional e dos agentes de mercado é um ponto de atenção.
- O papel das agências de rating: instituições como a Moody's avaliam a capacidade de pagamento de um país com base em estruturas permanentes, e não em governos passageiros. A mensagem é clara: para melhorar sua classificação e conquistar confiança, o Brasil precisa avançar em reformas estruturais e no controle de gastos, medidas que muitas vezes não são populares, mas são vitais a longo prazo.
- Sinais positivos do setor privado: a confiança começa a ser reconstruída com ações concretas. O anúncio de um novo ciclo de investimentos da Honda Motos no Brasil, no valor de
R$ 1,6 bilhãoaté 2029, é um exemplo tangível deste otimismo renascente. Este tipo de movimento sinaliza para o mercado que o Brasil oferece um ambiente propício para investimentos produtivos, especialmente nos setores de indústria e tecnologia, desde que a estabilidade regulatória seja mantida.
O próximo bastão está em disputa
A corrida global da economia é uma maratona contínua e incerta. O Brasil, com seus desafios fiscais e avanços diplomáticos, permanece na pista dos países emergentes, demonstrando potencial para alcançar os líderes. O próximo bastão do crescimento está em disputa, e a capacidade de coordenar de forma harmoniosa as políticas econômicas, as estratégias diplomáticas e as reformas estruturais internas será o fator determinante para definir quem conseguirá manter um ritmo sustentável de crescimento nos próximos anos. A corrida está longe do fim, e cada ajuste de passada é crucial para o resultado final.
