Triangulação da carne: Há um caminho "secreto" do Brasil para burlar o tarifaço de Trump?

Em meio à tensão do comércio global, uma investigação da CNN levanta uma questão intrigante: seria a indústria da carne brasileira usando rotas alternativas para driblar as tarifas impostas pelos Estados Unidos? A análise de dados oficiais revela um padrão curioso e, no mínimo, suspeito nas exportações brasileiras.
O ponto de partida: O "tarifaço" de Trump
Tudo começou com a decisão do governo de Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre a carne bovina do Brasil. O objetivo era claro: proteger os produtores norte-americanos, tornando a carne brasileira menos competitiva. Diante dessa barreira, o setor de exportação precisou encontrar uma forma de evitar prejuízos.
A descoberta: Dados que falam por si só
A reportagem cruzou dados do governo brasileiro e americano e revelou um movimento simultâneo e anormal envolvendo três países: México, Paraguai e Uruguai.
- Exportações recorde do Brasil para países terceiros: Em julho de 2025, as exportações de carne bovina brasileira para o México dispararam 112%, atingindo um valor recorde. Para o Paraguai, o crescimento foi ainda mais impressionante: 967%. Já para o Uruguai, o aumento foi de 28%, também um recorde histórico.
- Exportações recorde desses países para os EUA: No mesmo período, as importações de carne dos EUA vindas desses mesmos três países também alcançaram marcas históricas. As compras dos EUA do México subiram 21%, do Paraguai 225% e do Uruguai 44%.
A sincronia desses números é o que levanta a grande suspeita.
A hipótese da triangulação
- A coincidência de dados sugere a possibilidade de uma "triangulação". Nesse suposto esquema, a carne brasileira seria enviada primeiro para um desses países intermediários. Lá, ela seria reprocessada ou reembalada para, então, ser reexportada para os EUA com uma nova certificação de origem. Assim, a tarifa de 50% seria driblada.
A defesa da indústria: "Diversificação de mercados"
- A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) nega veementemente qualquer esquema. Segundo eles, os números são resultado de uma bem-sucedida diversificação de mercados. A explicação é que países como o México estariam usando a carne brasileira para consumo interno, liberando sua própria produção de alta qualidade para exportar para outros mercados, incluindo os EUA.
Por que este assunto é relevante?
- Economia e resiliência: O caso mostra a capacidade do agronegócio brasileiro de se adaptar a barreiras protecionistas.
- Comércio global: Ele revela como as guerras comerciais podem criar novas rotas e dinâmicas, envolvendo nações terceiras de maneiras inesperadas.
- Fiscalização e regras: O episódio põe em xeque a eficácia das regras de origem, essenciais para evitar a evasão de tarifas.
- Jornalismo de dados: O caso destaca a importância da análise de dados públicos para desvendar possíveis distorções no comércio internacional.
Uma combinação de fFatores?
Apesar da negação do setor, a coincidência dos dados é notável. A verdade, provavelmente, está em uma combinação de ambos os fatores: uma busca legítima por novos mercados que, em alguns casos, pode estar sendo usada para criar rotas indiretas e, assim, contornar as regras do comércio internacional. Este episódio nos lembra da complexidade e, muitas vezes, da opacidade dos caminhos que os produtos percorrem no mundo globalizado.