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quarta-feira, 20 de agosto de 2025 às 11:02 GMT+0

Por que o Brasil não cresce economicamente? Os 5 maiores obstáculos econômicos explicados por especialistas.

O Brasil, uma nação de dimensões continentais e potencial econômico incontestável, vive um paradoxo persistente: a incapacidade de manter um crescimento robusto e sustentável ao longo do tempo. Enquanto outras economias emergentes, como China e Índia, transformaram-se em gigantes globais, e até mesmo vizinhos latino-americanos apresentaram desempenho superior, o Brasil ficou estagnado em uma média de apenas 2,4% ao ano desde 2000. Este resumo detalha as causas profundas, apontadas por economistas e especialistas, que explicam por que o país parece condenado aos chamados "voos de galinha" – breves períodos de bonança seguidos por longas crises.

1 - A âncora fiscal: Gastos excessivos e endividamento crônico

A raiz de muitos dos problemas brasileiros reside na gestão fiscal desequilibrada, uma herança que se arrasta há décadas.

  • Uma situação fiscal frágil é como tentar correr uma maratona com pesos nos tornozelos. Ela impede o governo de investir no futuro, assusta investidores, exige juros altos e consome recursos que poderiam ser destinados a áreas produtivas.
  • O país enfrenta um déficit público crônico desde 2014, meaning o governo gasta consistentemente mais do que arrecada. Esse endividamento crescente consome a poupança nacional, que é a principal fonte de capital para investimentos produtivos em infraestrutura, indústria e tecnologia. Como explicou Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, o governo brasileiro gasta muito mais do que seus pares emergentes, resultando em baixa poupança e, consequentemente, baixo investimento. A solução apontada passa por reformas estruturais profundas, como a tributária, a administrativa e a previdenciária, para conter a expansão dos gastos obrigatórios.

2 - A baixa produtividade: O motor que não funciona em potência máxima

A produtividade: A capacidade de gerar mais riqueza com os mesmos recursos é o motor do crescimento moderno. No Brasil, esse motor está defasado.

  • Sem ganhos de produtividade, uma economia não consegue se tornar mais competitiva, inovadora ou gerar riqueza de forma sustentável. Ela fica presa em atividades de baixo valor agregado, vulnerável à concorrência global.
  • Vários fatores convergem para a baixa produtividade. Um deles é o "custo Brasil", um conjunto de obstáculos burocráticos, tributários e de infraestrutura que encarece a produção. Outro fator crucial é o atraso tecnológico. Como destacou Marcos Lisboa, do Insper, o Brasil, influenciado por lobbies, manteve um foco antiquado na indústria de montagem (carros, eletrodomésticos), enquanto países como Coreia do Sul e Taiwan investiram pesadamente em setores de ponta como computação, inteligência artificial e semicondutores.

3 - O gargalo educacional: Investir muito para colher pouco

A educação é a base para qualquer projeto de nação desenvolvida. O Brasil investe de forma significativa, mas com resultados pífios.

  • Um sistema educacional forte é pré-requisito para formar a mão de obra qualificada necessária para as profissões do futuro, promover inovação e reduzir desigualdades. É o alicerce do capital humano de uma nação.
  • O Brasil gasta cerca de 5,5% do seu PIB em educação, um percentual comparable ao da Alemanha e superior ao de Canadá, Chile e Coreia do Sul. No entanto, ocupa as últimas posições no ranking do Pisa, que avalia o aprendizado de alunos em matemática, ciências e leitura. O problema, portanto, não é o volume de recursos, mas sim a eficiência do gasto e a qualidade da gestão. O debate público frequentemente se concentra no aumento de verbas, que são "capturadas por lobbies", e não em metodologias de ensino, formação de professores de excelência e no aprendizado real do aluno.

4 - A instabilidade macroeconômica e política: Um ambiente de incerteza

A história econômica recente do Brasil é marcada por sucessivas crises que erodem a confiança e impedem o planejamento de longo prazo.

  • A estabilidade é o oxigênio para os investimentos. Sem previsibilidade sobre regras, políticas e o futuro da economia, empresários e investidores preferem não apostar seus recursos, travando o ciclo virtuoso do crescimento.
  • Desde a redemocratização, o país viveu dois processos de impeachment presidencial, diversas trocas de rumo na política econômica e uma "indexação geral da economia" (como citou Henrique Meirelles) que dificultou o controle da inflação. Marcos Lisboa ressaltou que o Brasil teve 14 anos de crise nas últimas quatro décadas, um número excepcionalmente alto se comparado a outros países. Essa instabilidade gera uma permanente necessidade de o Banco Central manter juros elevados para conter pressões inflacionárias, o que, por sua vez, encarece o crédito e desestimula investimentos produtivos.

5 - A herança histórica e a inserção internacional: As escolhas do passado

As decisões tomadas no século XX criaram amarras que perduram até hoje.

  • Compreender a origem dos problemas é essencial para não repetir os mesmos erros. A forma como um país se insere na economia global define suas oportunidades de crescimento.
  • O "milagre econômico" da ditadura militar (1968-1973) foi financiado por um endividamento externo massivo. Com a crise do petróleo e a alta dos juros internacionais nos anos 1980, essa dívida tornou-se uma "herança maldita", leading à chamada "década perdida" de estagnação e inflação galopante. Além disso, o Brasil manteve-se relativamente fechado ao comércio exterior. Armínio Fraga criticou a excessiva dependência do Mercosul, arguing que o custo de não se conectar plenamente com o mundo e diversificar parcerias foi muito alto para o país.

Um caminho árduo, mas necessário

A análise evidencia que não existe uma única "bala de prata" para destravar o crescimento brasileiro. O problema é multifacetado e complexo, resultado de um conjunto de fatores estruturais que se reforçam mutuamente: a fragilidade fiscal sufoca investimentos, a educação deficiente limita a produtividade, a baixa produtividade reduz a competitividade, e a instabilidade política impede reformas profundas. A conclusão é clara: o Brasil precisa, com urgência, de um projeto de Estado de longo prazo, que transcenda governos e ciclos políticos, focado em:

  • Equilíbrio fiscal permanente através de reformas que controlem gastos.
  • Melhoria drástica da qualidade da educação, priorizando resultados de aprendizagem.
  • Abertura comercial e integração competitiva na economia global.
  • Criação de um ambiente de negócios estável que incentive a inovação e os investimentos privados.

Sem essas mudanças estruturais, o país continuará patinando, assistindo a outros nations emergirem enquanto fica para trás, preso em seu ciclo vicioso de baixo crescimento e potencial desperdiçado.

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