Netflix: Quem foram as guerreiras Agojie? A história real por trás do fenômeno 'A Mulher Rei' - Amazonas de Daomé

O filme "A Mulher Rei", um sucesso de público, vai muito além de uma história de ação. Ele nos transporta para o Reino de Daomé, uma civilização africana real do século XIX, e nos apresenta as Agojie, um lendário exército de guerreiras. Mas o que no filme é realidade e o que é pura ficção?
Vamos desvendar a história real por trás do filme de Viola Davis.
O cenário: Conheça o Reino de Daomé
O filme se passa em um lugar real e poderoso: o Reino de Daomé, que existiu de 1620 a 1894 na região que hoje é a República do Benim. Daomé era conhecido por sua organização militar, sua estrutura política sofisticada e, principalmente, pelo papel central que as mulheres tinham em sua sociedade. Elas não eram apenas coadjuvantes, mas líderes e guerreiras.
As Agojie: O exército feminino que inspirou o filme
O coração do filme são as guerreiras Agojie, conhecidas pelos europeus como "as amazonas de Daomé". Elas não são uma invenção de Hollywood, mas a força de combate de elite do reino.
- A origem e o recrutamento: Inicialmente um grupo de caçadoras de elefantes, as Agojie se tornaram um exército profissional. As meninas eram recrutadas na adolescência (ou, em alguns casos, capturadas em guerras), e dedicavam suas vidas ao reino, abrindo mão do casamento e de uma família para se tornarem guerreiras.
- O treinamento implacável: Seu treinamento era brutal e rigoroso, forjando guerreiras de elite com resistência física e mental extrema. Elas eram mestras em combate, táticas de emboscada e no uso de diversas armas, como facas, lanças e mosquetes.
- Status e respeito: Na sociedade de Daomé, as Agojie gozavam de um status elevadíssimo. Eram as protetoras pessoais do rei e detinham uma autoridade que desafiava todas as normas de gênero da época.
Fatos e ficção: As personagens principais
Muitos dos personagens do filme são baseados em figuras históricas reais ou representam tipos de guerreiras que existiram.
- Nanisca (Viola Davis): A personagem é inspirada nas poderosas generais Agojie. Embora o nome seja uma criação dramática para o filme, Nanisca representa as líderes reais que comandavam as tropas e eram figuras de grande autoridade.
- Nawi (Thuso Mbedu): A jovem recruta é baseada em uma guerreira real chamada Nawi. A última Agojie documentada, Nawi, viveu até 1979 e lutou nas guerras históricas contra a colonização francesa.
A complexidade histórica: O papel de Daomé no tráfico de escravos
O filme não ignora um dos aspectos mais controversos do Reino de Daomé: seu papel central no comércio de escravos.
- A dependência econômica: Daomé se tornou um dos maiores exportadores de escravos na África Ocidental, vendendo prisioneiros de guerra para comerciantes europeus em troca de armas, pólvora e outros bens.
- O conflito moral: O filme aborda a tensão interna dessa prática. Ele mostra o dilema de um império que lutava por sua soberania, mas dependia de um sistema desumano. A narrativa sugere que as guerreiras, e a sociedade como um todo, lidavam com as contradições morais de vender outros africanos.
O legado das Agojie: Do declínio à celebração
O fim do reino de Daomé e a luta das Agojie são um capítulo crucial da história africana.
- As guerras finais: Quando o tráfico de escravos foi abolido, a economia de Daomé entrou em colapso. Isso, somado à expansão colonial francesa, levou a duas guerras devastadoras. Mesmo com a bravura das Agojie, o poder de fogo francês era superior.
- O fim de uma era: A derrota de Daomé em 1894 marcou o fim do reino e sua incorporação ao império colonial francês.
- A força do legado: O território se tornou independente em 1960, dando origem à República do Benim. As Agojie e sua história permanecem um símbolo poderoso de força feminina, resistência e organização militar, inspirando e sendo estudadas até hoje.
"A Mulher Rei" nos convida a ir além da tela e a explorar um capítulo da história africana pouco conhecido, cheio de força, coragem e complexidade. A história de Daomé nos lembra que a realidade é muitas vezes mais fascinante do que a ficção.