O caso Becky Zerrentes: A primeira mulher morta em ringue nos EUA e os rscos do boxe - Limites do esporte

No dia 3 de abril de 2005, o boxe feminino norte-americano enfrentou uma tragédia sem precedentes: a morte de Becky Zerrentes, a primeira boxeadora a falecer em uma luta sancionada nos Estados Unidos. Sua história não apenas chocou a comunidade esportiva, mas também levantou questões urgentes sobre os riscos do boxe e a falta de suporte para atletas e famílias em situações similares.
A vida e a carreira de Becky Zerrentes:
Becky Zerrentes, uma mulher multifacetada, equilibrava sua paixão pelo boxe e pelas artes marciais com uma carreira acadêmica sólida. Aos 34 anos, ela era mestra e doutora em geografia e economia, lecionando no Front Range Community College, no Colorado. Fora das salas de aula, seu amor pelo combate a levou a competir no Campeonato Estadual de Boxe Feminino do Colorado, onde conquistou um título regional anos antes.
A noite fatídica:
Durante a luta contra Heather Schmitz no Denver Coliseum, Zerrentes sofreu um golpe na cabeça no terceiro round, desferido acima do olho esquerdo. O impacto, aparentemente superficial, causou danos cerebrais irreversíveis. Ela desmaiou no ringue e nunca recuperou a consciência. Seu marido, Stephan Weiler, foi informado de que seu estado era crítico e, ao chegar ao hospital, descobriu que o cérebro dela havia parado de funcionar.
As consequências imediatas:
Weiler autorizou a doação de órgãos, seguindo os desejos de Zerrentes. Enquanto a comunidade de Denver a homenageava, a mídia transformou o caso em um espetáculo, comparando-o ao filme Menina de Ouro, estrelado por Clint Eastwood. Weiler evitou entrevistas, escolhendo preservar a memória da esposa longe do sensacionalismo.
O impacto em Heather Schmitz:
Schmitz, a adversária de Zerrentes, enfrentou interrogatórios policiais por homicídio culposo. Apesar da absolvição, a jovem lutadora carregou o peso emocional da tragédia, entrando em contato com Weiler para pedir perdão. Ele a tranquilizou, afirmando que ela não tinha intenção de causar danos.
Paralelos com outras tragédias no boxe:
A morte de Zerrentes não foi um caso isolado. Em 2015, o australiano Davey Browne Jr. morreu após um nocaute no último round de uma luta. Sua parceira, Amy Lavelle, descreveu o trauma de perder um ente querido em circunstâncias similares. Tanto Weiler quanto Lavelle destacaram a falta de apoio institucional para familiares de atletas falecidos em combate.
Os riscos do boxe e a falta de regulamentação:
Weiler e Lavelle criticaram a ausência de padrões globais para proteger os lutadores. Enquanto esportes como o futebol americano enfrentam pressão por concussões (a NFL pagou US$ 1 bilhão em indenizações por danos cerebrais), o boxe ainda carece de protocolos eficazes. Condições como a encefalopatia traumática crônica (ETC) – associada a golpes repetidos na cabeça – são frequentemente ignoradas até que seja tarde demais.
O apelo por conscientização:
Weiler e Lavelle defendem que os atletas devem ser plenamente informados sobre os riscos antes de competir.
"É preciso educar os lutadores sobre os perigos reais", disse Lavelle. Weiler acrescentou: "O treino é saudável, mas a competição pode custar vidas. Pense duas vezes antes de entrar no ringue."
A história de Becky Zerrentes é um alerta sobre os perigos ocultos do boxe e a necessidade de maior transparência, suporte médico e responsabilidade institucional. Sua morte, assim como a de outros lutadores, expõe falhas críticas em um esporte que glorifica a resistência física, mas frequentemente negligencia a segurança. Enquanto familiares como Weiler e Lavelle buscam justiça e prevenção, suas vozes ressaltam um dilema ético: até que ponto o esporte vale uma vida?