Arquivos secretos da PF explicam o indiciamento da tríade Jair, Eduardo Bolsonaro e Silas Malafaia - Pedido de asilo e conspiração contra a soberania nacional

A Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), atualmente nos Estados Unidos, por coação a autoridades envolvidas no processo que apura a suposta tentativa de golpe de Estado. Segundo a PF, pai e filho atuaram de forma coordenada para pressionar o Poder Judiciário e o Legislativo, inclusive estimulando a adoção de sanções contra o Brasil pelos Estados Unidos como forma de intimidação.
Motivos centrais do indiciamento
- A PF afirma que Jair e Eduardo Bolsonaro buscaram influenciar decisões de ministros do STF e parlamentares utilizando pressões externas, como as tarifas de 50% impostas pelo governo Donald Trump ao Brasil.
- Mensagens revelam que Eduardo pressionava o pai a se posicionar publicamente em apoio ao tarifaço, apresentando-o como parte de uma estratégia política.
- Jair Bolsonaro teria defendido a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023 como condição para retirada de sanções, sugerindo uso político da medida.
Pedido de asilo na Argentina
- No celular de Jair Bolsonaro, a PF encontrou uma minuta de 33 páginas de pedido de asilo dirigida ao presidente argentino Javier Milei, aliado político.
- O documento teria sido redigido em fevereiro de 2024, pouco depois da operação Tempus Veritatis, quando Bolsonaro teve de entregar o passaporte.
- Para a PF, o texto mostra intenção de fuga para evitar aplicação da lei penal no Brasil.
Envolvimento de Silas Malafaia
- O pastor e aliado histórico de Bolsonaro, Silas Malafaia, teria desempenhado papel ativo na estratégia de intimidação ao STF.
- Mensagens atribuídas a ele indicam incentivo para que Bolsonaro pressionasse ministros com a narrativa de que a anistia era necessária para suspender sanções.
- Segundo a PF, Malafaia usava sua influência pública para reforçar atos de coação, embora não tenha sido indiciado.
Descumprimento de medidas cautelares
- O relatório aponta que Bolsonaro violou restrições impostas pelo STF, como uso de tornozeleira eletrônica e proibição de redes sociais.
- Mesmo após ter celulares apreendidos, ele adquiriu um novo aparelho e manteve atividade digital intensa, inclusive durante manifestações em seu favor.
- Essa conduta levou à decretação de sua prisão domiciliar após participação virtual em atos públicos.
Contato com advogado ligado a Donald Trump
- A PF identificou trocas de mensagens entre Bolsonaro e Martin de Luca, advogado da Trump Media e da plataforma Rumble.
- Bolsonaro teria solicitado ajuda para redigir mensagens a Donald Trump e recebido documentos jurídicos antes de sua apresentação à Justiça americana.
- Para a PF, isso evidencia coordenação entre o ex-presidente e representantes de empresas ligadas a Trump em ações contra o ministro Alexandre de Moraes.
Defesa de Eduardo Bolsonaro
- Eduardo alegou que suas ações nos EUA visavam apenas a defesa das liberdades individuais e não interferiam em processos brasileiros.
- Ele questionou por que a PF não investigou diretamente autoridades americanas envolvidas, já que a decisão sobre sanções dependia delas.
- Também criticou o vazamento de mensagens privadas e a ausência de investigação sobre supostos autores reais das pressões.
Repercussões jurídicas e políticas
- O ministro Alexandre de Moraes deu 48 horas para a defesa de Jair Bolsonaro se manifestar sobre risco de fuga e descumprimento de medidas.
- O indiciamento reforça a tese da PF de que houve um esforço coordenado para coagir autoridades brasileiras, envolvendo articulações internacionais, apoio religioso e mobilização digital.
- A investigação se soma aos demais processos em que o ex-presidente é réu, aumentando a pressão sobre sua situação jurídica.
O relatório da Polícia Federal descreve uma rede complexa de ações envolvendo Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, Silas Malafaia e contatos internacionais ligados a Donald Trump. A narrativa apresentada pelos investigadores aponta para uma estratégia deliberada de pressão contra o Estado brasileiro, utilizando sanções externas, discursos religiosos e mobilizações digitais como instrumentos de intimidação. A descoberta da minuta de asilo político na Argentina reforça a suspeita de tentativa de fuga, enquanto o contato com advogados ligados a Trump sugere articulação transnacional. A defesa nega a interferência e acusa a PF de distorções e vazamentos seletivos. O caso segue em análise no Supremo Tribunal Federal e terá desdobramentos decisivos nos próximos meses, especialmente a partir de setembro, quando o processo entra em fase final.