Belém COP30: Lula, petróleo e o desafio de US$ 1,3 trilhão – O Brasil no centro da crise climática global
A capital paraense Belém se transforma no palco central da diplomacia global ao sediar a Cúpula do Clima, evento que antecede a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30. Recebendo delegações de 143 países e esperando atrair cerca de 100 mil pessoas, a conferência é considerada a maior aposta diplomática do terceiro governo Lula, colocando o Brasil sob os holofotes internacionais em um momento crucial para o futuro climático do planeta.
Os objetivos estratégicos do governo brasileiro
A estratégia do governo Lula para a COP30 é multifacetada, buscando ganhos no cenário global e também no plano doméstico, embora com desafios inerentes:
1. Restabelecimento da liderança climática global:
- O principal objetivo era reposicionar o Brasil no cenário internacional, preenchendo o vácuo de liderança.
- O país almeja ser visto como um formulador ativo de normas climáticas, e não apenas um seguidor, um feito que especialistas consideram ter sido alcançado, com o Brasil voltando ao centro dos debates.
2. Fortalecimento da visão multilateralista:
- A pauta ambiental reforça a política externa brasileira que prioriza a cooperação e alianças entre nações (multilateralismo), vista como uma estratégia essencial de influência para países sem hegemonia militar ou econômica.
- Este pilar, no entanto, é ameaçado por movimentos isolacionistas globais, como o ceticismo climático do ex-presidente americano Donald Trump.
3. Consolidação de prestígio interno:
- O governo busca usar a visibilidade da conferência para consolidar apoio entre setores da sociedade engajados com as causas ambientalistas e de direitos humanos.
- Contudo, essa ambição enfrenta críticas devido a uma percebida contradição na própria política ambiental interna.
Desafios críticos e pontos de tensão nas negociações
A presidência brasileira da conferência tem a tarefa complexa de mediar gargalos históricos e novos para garantir o sucesso do evento:
O nó do financiamento climático:
- É o tema de maior fricção: países em desenvolvimento exigem que nações ricas, historicamente responsáveis pela crise, ampliem drasticamente os recursos para transição ecológica e adaptação.
- O desafio é estabelecer um "mapa do caminho" para mobilizar
US$ 1,3 trilhãoanuais até 2035. - O Brasil propôs o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) como uma das apostas para atrair investimentos públicos e privados, dependendo de adesão internacional.
Insuficiência das metas nacionais (NDCs):
- O Acordo de Paris exige que os países apresentem suas metas de redução de emissões (NDCs), mas a lentidão e a baixa ambição continuam sendo um problema.
Até o início do evento, a maioria dos países ainda não havia apresentado suas novas metas, e as já conhecidas são insuficientes, minando o esforço coletivo para limitar o aquecimento global.
A contradição brasileira: Petróleo vs. Clima:
- O Brasil enfrenta um dilema diplomático delicado: a expansão da exploração de combustíveis fósseis, especialmente as pesquisas de petróleo na Foz do Amazonas, entra em choque com o discurso de liderança ambiental.
- Especialistas alertam que essa postura mina a legitimidade do país para liderar discussões assertivas sobre a transição energética global, um dos pontos mais sensíveis da COP30.
Altos riscos e oportunidades decisivas
- A COP30 em Belém é um momento de altas apostas para a governança climática global e a diplomacia brasileira. O Brasil conseguiu se reposicionar como ator central, mas herda o ônus de desatar nós monumentais, como o financiamento e a ambição das metas nacionais, tudo sob a sombra da instabilidade geopolítica.
O sucesso da conferência dependerá da capacidade da presidência brasileira de mediar essas tensões e manter viva a cooperação internacional. O mundo observará se Belém será o palco de uma virada em prol do sistema multilateral ou apenas um reflexo de suas crescentes fissuras e contradições.
