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quarta-feira, 14 de maio de 2025 às 10:52 GMT+0

Brasil e China: Dependência perigosa ou parceria estratégica? Riscos, vantagens e o futuro da relação bilateral

Em sua segunda visita oficial à China neste mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva relembrou um marco importante nas relações entre os dois países: em 2004, o Brasil reconheceu a China como uma economia de mercado, mesmo quando o país ainda era criticado por práticas comerciais agressivas. Esse gesto foi mais do que simbólico. Selou o início de uma parceria comercial que transformaria a balança econômica brasileira ao longo das décadas seguintes.

O crescimento da parceria e seus impactos

  • A previsão otimista de Lula, em 2004, de que o comércio entre Brasil e China poderia mais que dobrar, foi superada: em apenas cinco anos, saltou de US$ 9,1 bilhões para US$ 35 bilhões. Em 2009, a China ultrapassou os Estados Unidos como principal comprador de produtos brasileiros, estabelecendo um marco histórico.

  • Atualmente, a China compra cerca de 28% de tudo o que o Brasil exporta, superando a soma dos seis maiores compradores seguintes. Os produtos mais vendidos são soja, minério de ferro e petróleo, representando 75% de todas as exportações brasileiras para o país asiático.

  • Essa relação também trouxe ganhos expressivos: entre 2004 e 2024, o superávit comercial com a China somou US$ 315 bilhões, colaborando diretamente para o aumento das reservas internacionais, a estabilidade do câmbio e o controle da inflação no Brasil.

A questão da dependência: Real ou exagerada?

Apesar dos benefícios, o grau de dependência do Brasil em relação à China é um ponto de divergência entre especialistas:

1. Para José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil, a dependência é evidente e crescente. Ele alerta que não é fácil substituir o mercado chinês sem grandes transformações internas.

2. O embaixador Celso Amorim também demonstra preocupação, mesmo sendo entusiasta da parceria. Defende a diversificação de parceiros comerciais.

3. Já Maurício Santoro, da Marinha do Brasil, ressalta que a dependência é mais acentuada em setores como o agronegócio e mineração, sendo uma relação assimétrica: o Brasil depende mais da China do que o contrário.

4. Por outro lado, Lívio Ribeiro, da Fundação Getulio Vargas, e o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral preferem falar em complementaridade, e não em dependência. Argumentam que há interesses mútuos, pois a China precisa das commodities brasileiras, assim como o Brasil importa tecnologias avançadas da China.

Os riscos dessa concentração comercial

  • Independentemente do nome dado à relação, todos os especialistas concordam em algo essencial: a vulnerabilidade é real quando se depende demais de um único comprador. Entre os principais riscos:

  • Choques na economia chinesa, como a crise imobiliária de 2022, reduzem a demanda por insumos brasileiros, especialmente minério de ferro.

  • Quedas no preço das commodities, que são imprevisíveis, podem afetar duramente a balança comercial do Brasil.

  • Falta de alternativas de mercado: sem planejamento estratégico, o Brasil teria dificuldades para redirecionar rapidamente a exportação de produtos como soja, caso perdesse o mercado chinês.

A lógica dos "ovos no mesmo cesto"

  • Welber Barral resume o problema com clareza: quando se concentra grande parte das exportações em um só país, o Brasil "coloca todos os ovos no mesmo cesto". E se esse cesto cair — por motivos políticos, comerciais ou econômicos — o impacto pode ser devastador.

Brasil e China: Dependência ou interdependência?

  • É fato que o Brasil depende dos dólares vindos das exportações para a China, e que esse superávit ajuda a manter a economia estável. Mas a China também precisa do Brasil, especialmente em tempos de tensões com os Estados Unidos. A interdependência existe, mas não é equilibrada.

  • Produtos brasileiros como soja e minério de ferro são altamente consumidos pela China, mas se o Brasil perdesse espaço, a China ainda teria outras opções, como os Estados Unidos ou a Argentina. O contrário não é tão simples: o Brasil teria grande dificuldade em redirecionar toda sua produção de uma hora para outra para novos mercados.

O Brasil precisa diversificar para proteger sua economia

  • A relação entre Brasil e China é hoje essencial para ambas as nações, mas desequilibrada em termos de dependência. O Brasil colhe os frutos dessa parceria desde 2004, mas também corre riscos ao manter grande parte de sua economia atrelada às decisões e à estabilidade de outro país.
  • Para garantir maior segurança econômica, o país precisa investir na diversificação de mercados, valorização de produtos com maior valor agregado, e redução da concentração de exportações em commodities. A China pode continuar sendo uma grande parceira, mas não deve ser a única.

A lição mais importante desse cenário é clara: crescer com parcerias fortes é bom, mas depender de apenas uma pode ser perigoso. O Brasil, como grande produtor global, tem potencial para ampliar suas fronteiras comerciais — e isso é vital para reduzir sua vulnerabilidade.

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