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segunda-feira, 8 de dezembro de 2025 às 11:01 GMT+0

Ditadura da segurança: O modelo 'Bukele' de El Salvador resolve de fato o crime ou apenas troca a violência? Como funcionaria no Brasil?

A política de segurança pública linha-dura implementada pelo presidente de El Salvador, Nayib Bukele, tem gerado grande interesse e debates em vários países, incluindo o Brasil. A alta popularidade de Bukele, impulsionada pela queda drástica da violência, fez com que seu modelo se tornasse uma referência para líderes que buscam soluções rápidas para o crime organizado.

O fenômeno Bukele: Alta aprovação e foco na segurança

  • Popularidade impulsionada pela segurança: Desde sua reeleição em 2024, a aprovação de Nayib Bukele supera a do próprio governo, e a segurança pública é apontada por 75% dos entrevistados como a área de maior destaque de sua gestão.
  • A imagem de "linha-dura": A projeção de uma imagem de pulso firme contra o crime organizado é a principal razão para o fenômeno de popularidade, transformando Bukele em uma referência internacional.
  • Ressalvas e críticas: Apesar da aprovação na área de segurança, há críticas significativas. O governo enfrenta avaliações desfavoráveis em economia, acesso à moradia e, notavelmente, em respeito aos direitos humanos, com acusações de autoritarismo, violência e encarceramento em massa.
  • Mudança de prioridades: Pesquisas recentes em El Salvador indicam que, com a estabilização da segurança, as preocupações com a economia e dívida pública estão voltando ao centro das atenções, sinalizando que a demanda por melhorias em outras áreas deve aumentar.

bA defesa do modelo em terras brasileiras

Lideranças conservadoras no Brasil veem o modelo salvadorenho como uma oportunidade para ganhos políticos, especialmente após ações policiais de grande repercussão:

  • Romeu Zema (Governador de MG): Após visitar El Salvador, ele defendeu a importação da política de segurança de Bukele, sugerindo que o Brasil deveria ter a "humildade" de copiar o que funciona em um país com características semelhantes.
  • Proposta do CECOT: Zema defendeu a construção de um Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), a megaprisão de El Salvador, em área isolada da Amazônia para membros de organizações criminosas.
  • Classificação de terrorismo: O governador também defendeu classificar facções criminosas como terroristas no Brasil.
  • Outros defensores: O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também visitaram o país e manifestaram apoio ao modelo, citando a necessidade de priorizar a paz e combater facções criminosas.

Os pilares da estratégia Bukele e seus custos

O declínio da criminalidade em El Salvador é resultado de uma política de segurança de "mão de ferro", mas que traz consigo sérias consequências sociais e institucionais:

Ações de "mão de ferro"

  • Estado de emergência prolongado: Uso contínuo de um regime de exceção.
  • Militarização intensa: Aplicação das forças armadas na segurança pública e na sociedade.
  • Endurecimento legal: Legislação mais severa, incluindo redução da idade de responsabilidade criminal e aumento de penas para membros de gangues.
  • Encarceramento em massa: Construção de uma megaprisão e detenção de quase 90 mil pessoas desde março de 2022.
  • Controle de comunicação: Interrupção das redes de comunicação dentro e fora das prisões, desmantelando a liderança das gangues.

O preço social e institucional

  • Violações de direitos humanos: Organizações como a Anistia Internacional apontam a "substituição gradual da violência das gangues pela violência estatal", com relatos de espancamentos, detenções arbitrárias, mortes sob custódia e julgamentos em massa.
  • Erosão democrática: Há preocupações com a concentração de poder no presidente, o desmantelamento da independência judicial e a militarização contínua do controle do crime.
  • Acusações de negociação: O governo Bukele enfrentou sanções dos EUA com base na Lei Magnitsky, que alegaram negociações secretas com gangues como a MS-13, oferecendo incentivos financeiros e privilégios em troca da redução da violência e apoio político.

Por que replicar o modelo no Brasil é um desafio?

Especialistas em segurança e estudos comparados avaliam que o modelo de El Salvador não é facilmente transferível para a realidade brasileira:

Diferenças de escala e estrutura:

  • Tamanho do país: O tamanho reduzido de El Salvador facilita a centralização e o controle das operações de segurança, algo inviável em uma federação continental como o Brasil.
  • Crime organizado: As gangues salvadorenhas tinham um poder de fogo e uma profundidade territorial significativamente menores do que facções brasileiras como PCC e Comando Vermelho, cujo modelo de negócio foca no comércio transnacional de cocaína (atacado) e não apenas em extorsão (varejo).

Barreiras constitucionais e institucionais:

  • Federalismo: O Brasil tem 27 governos estaduais e dois sistemas policiais, o que dificulta a centralização.
  • Supervisão judicial: O sistema brasileiro possui barreiras constitucionais mais fortes, com a suspensão nacional de direitos exigindo a supervisão do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), que já classificou a crise prisional como "situação inconstitucional".

Riscos de sobrecarga:

  • Uma tentativa de varredura no estilo salvadorenho poderia sobrecarregar ainda mais as prisões, fortalecendo as redes de comando criminosas que já operam dentro do sistema prisional.
  • Tentativas anteriores de militarização, como a intervenção federal no Rio, geraram resultados de curto prazo, mas não garantiram reduções duradouras no crime organizado.

Em resumo, enquanto o Brasil pode absorver lições sobre coordenação e presença estatal visível, a imitação do modelo Bukele, com suas táticas de repressão extrema e alto custo institucional, é vista como um risco que provavelmente levaria ao deslocamento da violência e à desorganização do sistema prisional, em vez do desmantelamento efetivo da economia das drogas.

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