E se Bolsonaro for condenado? O preço da condenação - Como o apoio de Trump a Bolsonaro abala as relações Brasil-EUA e a economia

O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), com início previsto para 2 de setembro de 2025, é um marco para a história do Brasil. O processo, que investiga a suposta tentativa de golpe de Estado, ganhou um novo nível de complexidade com a entrada de uma figura inesperada: o presidente americano Donald Trump.
Seu apoio a Bolsonaro transformou um julgamento doméstico em uma crise diplomática de proporções globais. Mas, afinal, o que está em jogo?
Os envolvidos e as acusações
- Quem está no banco dos réus? Além de Jair Bolsonaro, o processo inclui figuras-chave de seu governo, como os generais Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Braga Netto, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ex-ajudante-de-ordens Mauro Cid. Todos negam as acusações.
- Do que eles são acusados? O processo no STF é um dos mais graves da história recente do Brasil. As acusações contra Bolsonaro incluem liderança de organização criminosa, tentativa de golpe de Estado e dano ao patrimônio público, este último relacionado aos ataques de 8 de janeiro de 2023.
A tensão diplomática com os EUA
A crise diplomática começou quando o filho de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, viajou aos Estados Unidos para pedir apoio político. A resposta de Trump veio em três fases:
- Críticas e ameaças: Aliados de Trump criticaram o ministro Alexandre de Moraes e ameaçaram o Brasil com sanções baseadas na Lei Magnitsky, usada para punir violações de direitos humanos.
- Sanções econômicas e diplomáticas: Em julho, o governo Trump impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, revogou vistos de ministros do STF e de envolvidos no programa Mais Médicos, além de anunciar sanções diretas contra o ministro Alexandre de Moraes.
- A justificativa: Os EUA alegam que as medidas são uma resposta ao suposto protecionismo comercial brasileiro e às decisões judiciais sobre a regulamentação de redes sociais. No entanto, a conexão com o julgamento de Bolsonaro é evidente.
Trump e Bolsonaro: Semelhanças e diferenças
Especialistas apontam que a proximidade ideológica e as acusações semelhantes unem os dois ex-presidentes. Ambos:
- Perderam eleições e tentaram reverter os resultados alegando fraude sem provas.
- Incentivaram seus apoiadores a invadir sedes do Poder Legislativo. O ataque ao Capitólio dos EUA (6 de janeiro de 2021) e aos Três Poderes no Brasil (8 de janeiro de 2023) são exemplos disso.
- A grande diferença, no entanto, é o momento da Justiça. Trump voltou à presidência antes que seus julgamentos criminais fossem concluídos, enquanto Bolsonaro foi julgado e declarado inelegível antes de poder concorrer novamente.
O que o brasileiro pensa?
A interferência americana, longe de ajudar, parece ter prejudicado Bolsonaro perante a opinião pública.
- Pesquisas da Quaest mostram que a percepção de que ele participou de um plano de golpe aumentou, passando de 47% em dezembro de 2024 para 52% em agosto de 2025.
- A maioria dos brasileiros (55%) considera justa a prisão domiciliar do ex-presidente.
- O fator "áudios": A divulgação de áudios em que Bolsonaro supostamente negocia interesses nacionais em troca de anistia para seus aliados fortaleceu a narrativa de que ele estaria priorizando o interesse pessoal em vez do público.
Cenários pós-julgamento e o futuro
A provável condenação de Bolsonaro e dos demais réus pode provocar uma nova reação do governo Trump, que pode expandir as sanções contra o Brasil.
- Opinião de especialistas: Steven Levitsky, professor de Harvard, classificou a postura americana como "bullying", uma atitude que mina a democracia brasileira.
- A "sombra do indulto": Um ponto importante para o futuro é a possibilidade de um indulto presidencial. Aliados de Bolsonaro já manifestaram a esperança de que o próximo presidente (eleito em 2026) conceda o perdão, o que poderia influenciar o desenrolar do caso no longo prazo.
Uma encruzilhada para a democracia
O julgamento de Bolsonaro não é apenas um teste para as instituições democráticas do Brasil. Ele mostra como a política doméstica pode se misturar com dinâmicas globais, criando crises diplomáticas com impactos reais. O resultado deste processo moldará não apenas o futuro de Bolsonaro, mas a posição do Brasil no mundo e a solidez de sua democracia.