EUA vs. China: Brasil no centro da guerra geopolítica - O fim da estratégia de "voar baixo"
O professor Feliciano de Sá Guimarães, cientista político do Instituto de Relações Internacionais da USP, oferece uma análise crucial sobre a atual fase das relações entre Brasil e Estados Unidos. Segundo ele, o relacionamento bilateral deixou de ser uma rotina diplomática e entrou em uma fase crítica, exigindo uma postura de defesa ativa por parte do Brasil.
O novo cenário: América Latina no centro da disputa global
A análise se situa em um contexto de intensa rivalidade geopolítica entre Estados Unidos e China, que transformou a América Latina em um palco central de pressões:
- Emergência de uma defesa: A diplomacia brasileira precisa abandonar a negociação rotineira e adotar uma postura clara de defesa dos seus interesses nacionais.
- A centralidade do Brasil: Devido a essa disputa global, o Brasil não consegue mais
"voar abaixo do radar", sendo inevitavelmente puxado para o foco direto das preocupações de Washington.
Os motores da mudança na postura americana
A intensificação da pressão dos EUA sobre a região é impulsionada por dois fatores principais, que se combinam de forma única:
1. Pressão geopolítica anti-China: O imperativo de conter a crescente influência econômica e política da China em uma região historicamente vista como seu quintal.
2. Preocupações domésticas: A percepção de que a América Latina é a fonte de desafios internos críticos para os EUA, como fluxos migratórios e as atividades de crime organizado/narcotráfico.
O alerta do conceito perigoso: "Esferas de influência"
Um dos pontos mais alarmantes da análise é o ressurgimento de um conceito da Guerra Fria:
- Tentativa de limitação: Washington parece flertar com a ideia de que as Américas constituem sua esfera de influência natural e exclusiva.
- Restrição à soberania: Essa visão é profundamente negativa para o Brasil, pois limita sua autonomia e sua capacidade de buscar parcerias internacionais diversificadas, cerceando o protagonismo que o país almeja.
O fim da "diplomacia discreta" (voar abaixo do radar)
A tradicional estratégia brasileira de evitar conflitos diretos e manter um perfil discreto não é mais sustentável na nova realidade:
- Inviabilidade da passividade: A combinação do interesse geopolítico e das preocupações domésticas americanas torna impossível para o Brasil escapar do olhar de Washington.
- Exigência de clareza: A nova dinâmica força o Brasil a abandonar as estratégias passivas do passado e a definir uma política externa mais explícita e vigilante.
A urgência de uma política externa defensiva
O professor Feliciano de Sá Guimarães conclui que o padrão de atração seguida de pressão dos EUA pode ser um ciclo perigoso e recorrente. A principal lição é um chamado à ação:
- Repensar a estrutura: O Brasil é levado a reavaliar fundamentalmente todo o seu relacionamento com os Estados Unidos.
- Obrigatoriedade de ação: O país não pode ser um ator passivo. É imperativo construir uma política externa coerente, vigilante e, acima de tudo, defensiva para proteger seus interesses nacionais e garantir sua soberania nesta nova e complexa realidade global.
Com o fim da era da discrição, o Brasil enfrenta o desafio de uma nova e perigosa pressão geopolítica americana, motivada pela rivalidade com a China e por problemas domésticos dos EUA. A principal conclusão é imperativa: a nação precisa urgentemente construir uma política externa defensiva e vigilante para salvaguardar sua autonomia e soberania nacional, abandonando a passividade histórica para navegar neste cenário crítico.
