Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes: Por que o criador da lei diz que é um "abuso" e pode ser revertido?

O recente uso da Lei Global Magnitsky contra o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, por parte do governo dos Estados Unidos gerou críticas contundentes do próprio criador da legislação, o empresário britânico William Browder. Segundo ele, a sanção aplicada representa uma grave distorção dos propósitos originais da lei, criada para combater abusos de direitos humanos e grandes esquemas de corrupção internacional, e não para resolver disputas políticas.
O que é a Lei Magnitsky e como surgiu
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A Lei Magnitsky foi aprovada nos Estados Unidos em 2012, durante o governo Barack Obama, como uma resposta à morte do advogado russo Sergei Magnitsky em 2009, após denunciar um esquema de corrupção estatal na Rússia. Magnitsky trabalhava para William Browder, então maior investidor estrangeiro no país, e morreu após quase um ano de tortura e negligência médica sob custódia russa.
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Indignado com a impunidade dos responsáveis, Browder liderou uma campanha internacional que resultou na criação da lei. Seu objetivo era sancionar, com bloqueio de bens e restrições de visto, indivíduos envolvidos em violações de direitos humanos graves e cleptocracia — termo usado para regimes que enriquecem ilicitamente por meio do poder público. Desde então, a legislação foi adotada por outros 35 países e aplicada em casos internacionalmente reconhecidos, como o genocídio de uigures na China e a repressão contra os Rohingya em Mianmar.
Críticas ao uso da lei contra Alexandre de Moraes
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No dia 30 de julho de 2025, o governo norte-americano anunciou sanções contra Moraes alegando que ele conduzia “uma campanha opressiva de censura, detenções arbitrárias e processos politizados” no Brasil, incluindo ações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. A medida foi imediatamente rebatida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que classificou a atitude como uma "interferência inaceitável" na Justiça brasileira.
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Para William Browder, essa aplicação da lei representa um desvio claro de sua intenção original. Ele afirma que o caso de Moraes não apresenta as bases necessárias para justificar as sanções — como provas robustas de violações sistemáticas de direitos humanos. Browder declarou à BBC News Brasil que
“a lei não foi criada para resolver vinganças políticas”
e que“o uso atual é puramente político”
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Importância da crítica feita por Browder
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Autoridade moral e legal: Browder não é apenas o idealizador da lei, mas também alguém que dedicou mais de uma década à sua construção e defesa global. Sua crítica pública fortalece o argumento de que a aplicação contra Moraes foge dos critérios originais.
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Consequências para a credibilidade internacional da lei: O uso político da Lei Magnitsky, segundo Browder, compromete sua integridade e enfraquece sua efetividade em casos legítimos. Isso pode gerar questionamentos futuros sobre decisões já tomadas com base na mesma legislação.
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Possibilidade de reversão judicial: Como a lei é de natureza americana, ela pode ser contestada nos tribunais dos Estados Unidos, independentemente da vontade do presidente Donald Trump. Para Browder, há fortes argumentos para que a sanção a Moraes seja anulada judicialmente.
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Precedente perigoso: É a primeira vez, segundo o próprio criador da lei, que ela é usada de maneira indevida. Isso abre um precedente para seu uso como ferramenta de disputa ideológica entre países, e não como instrumento legítimo de justiça internacional.
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Contexto político acirrado: A ação ocorre num momento de tensões entre Moraes e figuras da extrema direita brasileira, além de embates com Elon Musk, dono da plataforma X (antigo Twitter). Muitos dos ataques a Browder após sua crítica vieram justamente de perfis suspeitos de automatização ou com viés político.
O que esperar?
- A crítica feita por William Browder à sanção contra Alexandre de Moraes serve como alerta sobre o risco de desvirtuamento de mecanismos internacionais criados para proteger os direitos humanos. Ao ser utilizada como instrumento político por um governo estrangeiro, a Lei Magnitsky perde parte de sua legitimidade e efetividade, podendo comprometer decisões anteriores tomadas com base em sua integridade. Para o próprio Browder, a decisão deve ser contestada judicialmente, e há base legal sólida para que seja anulada.
Mais do que um debate jurídico, o caso revela o quanto o uso político de ferramentas internacionais pode abalar a confiança global em mecanismos de justiça. A defesa de sua integridade, portanto, não diz respeito apenas a Moraes, mas à própria credibilidade da luta contra impunidade e abusos ao redor do mundo.