Lula responde a Trump no New York Times: Tarifas dos EUA são "remédio errado" e democracia não se negocia

No dia 14 de setembro de 2025, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva utilizou uma plataforma de grande prestígio, o jornal americano The New York Times, para defender a soberania do Brasil. Em um artigo de opinião direto e incisivo, intitulado "A Democracia e a Soberania do Brasil Não São Negociáveis", Lula se dirigiu ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, buscando um diálogo aberto sobre tensões econômicas e políticas recentes. O texto serviu como uma defesa multifacetada, abordando desde a política econômica externa do Brasil até a integridade de suas instituições democráticas.
Os pontos centrais da mensagem de Lula
O artigo abordou diversas questões sensíveis, com argumentos claros e bem definidos.
1. A resposta às tarifas americanas: Uma defesa econômica
Lula contestou as tarifas de 50% impostas pelos EUA sobre produtos brasileiros, apresentando argumentos que minam a justificativa econômica da medida.
- Falta de racionalidade econômica: O presidente brasileiro ressaltou que os EUA têm um superávit comercial com o Brasil, ou seja, exportam mais do que importam. Ele enfatizou que produtos americanos não enfrentam barreiras tarifárias significativas no mercado brasileiro, tornando as tarifas americanas incoerentes do ponto de vista econômico.
- Motivação puramente política: Diante da ausência de lógica econômica, Lula revelou que a medida da Casa Branca era, de fato, política. O presidente citou que empresários brasileiros foram informados por um vice-secretário de Estado americano que as tarifas eram uma ação política, não econômica.
- A solução correta é o diálogo: Lula reconheceu o objetivo de Trump de reindustrializar os EUA, mas argumentou que "recorrer à ação unilateral contra estados individuais é prescrever o remédio errado". Em vez disso, defendeu o multilateralismo como o caminho para soluções "mais justas e equilibradas" para disputas comerciais.
2. A defesa da democracia e do judiciário brasileiro
Uma parte significativa do artigo foi dedicada a rebater as críticas de Trump ao sistema judicial brasileiro, especialmente a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
- Orgulho institucional: Lula expressou "orgulho do Supremo Tribunal Federal do Brasil por sua decisão histórica", caracterizando-a como essencial para "salvaguardar nossas instituições e o Estado democrático de direito".
- Rejeição à "caça às bruxas": O presidente refutou o termo "caça às bruxas", usado por Trump para se referir ao processo judicial. Lula enquadrou a decisão do STF como um ato de justiça e de preservação da ordem democrática, não como perseguição política.
- Crítica à Lei Magnitsky: O artigo criticou o uso da Lei Magnitsky pelos EUA contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, interpretando a ação como uma tentativa de "buscar impunidade para o ex-presidente Jair Bolsonaro" e uma interferência inaceitável na soberania judicial brasileira.
3. Outras acusações refutadas
Lula também respondeu a outras alegações feitas pela administração Trump, mostrando que a defesa brasileira era abrangente.
- Regulação de Tecnologia vs. Censura: Ele argumentou que é "desonesto chamar a regulação de censura". Justificou a ação regulatória do Brasil como necessária para proteger a população contra "fraude, desinformação e discurso de ódio", afirmando que "a internet não pode ser uma terra sem lei".
- Sistema de pagamentos Pix: Sobre as críticas ao Pix, Lula foi direto: "Não podemos ser penalizados por criar um mecanismo rápido, gratuito e seguro que facilita transações e estimula a economia". Ele defendeu a inovação financeira como um benefício público, não uma prática desleal.
O impacto estratégico do artigo
A publicação no The New York Times não foi um ato isolado, mas uma jogada diplomática calculada com objetivos claros.
- Relevância geopolítica: Ao escolher um veículo de comunicação global, Lula buscou exercer pressão sobre Trump diante da opinião pública internacional e da comunidade empresarial americana, que seria afetada pelas tarifas.
- Defesa da soberania nacional: O artigo é um manifesto que reforça a posição do Brasil como uma nação que não aceita interferências externas em seus assuntos internos, sejam eles econômicos ou judiciais.
- Promoção do multilateralismo: A peça posicionou o Brasil como um defensor da ordem global baseada em regras e no diálogo, em oposição às ações unilaterais e protecionistas preferidas por Trump.
- Fortalecimento da estabilidade interna: Ao defender publicamente o STF, Lula fortaleceu a narrativa de seu governo de que a justiça foi cumprida e as instituições brasileiras estão funcionando para combater ameaças à democracia, consolidando o apoio interno.
Um apelo ao diálogo com respeito mútuo
- O artigo do presidente Lula vai muito além de uma simples resposta às tarifas. É uma declaração abrangente de princípios, que habilmente une a defesa dos interesses econômicos do Brasil com a proteção firme de sua soberania política e judicial.
A mensagem final é de abertura para o diálogo, mas sob a condição de que o respeito mútuo e o benefício recíproco sejam a base da cooperação entre as duas nações. Lula concluiu com um apelo direto a Trump, reafirmando que ambas as nações são "capazes de se respeitar e cooperar pelo bem de brasileiros e americanos". O texto estabeleceu, assim, um tom desafiador, mas diplomático, definindo os termos de um possível engajamento futuro.