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sábado, 6 de dezembro de 2025 às 10:14 GMT+0

O apelo de Maduro, a pressão de Trump e a resposta silenciosa de Lula: Os bastidores da crise Venezuela

O cenário geopolítico na América do Sul é marcado por uma crise de alto risco envolvendo os Estados Unidos de Donald Trump e a Venezuela de Nicolás Maduro. Nessa dinâmica, o Brasil, sob a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva, adotou uma postura de realismo diplomático que evoluiu de críticas públicas para um diálogo reservado e estratégico.

O dilema geopolítico do Brasil

A crise coloca o Brasil em uma posição delicada:

1. De um lado, os EUA aumentam a presença militar próxima à Venezuela, oficialmente como operação antidrogas, o que é visto por muitos como um fator de tensão regional.
2. De outro, Nicolás Maduro busca apoio internacional e faz apelos dramáticos por apoio internacional. Sobre isso, o presidente venezuelano tem explicitamente buscado o Brasil, dadas as relações históricas e a posição de liderança de Lula.
3. No centro, o Brasil ajusta sua política externa, priorizando a estabilidade regional e os interesses nacionais.

A evolução da postura brasileira: Do público ao reservado

A estratégia diplomática de Lula passou por uma mudança significativa, refletindo uma adaptação às realidades geopolíticas e econômicas:

Fase inicial (Setembro de 2023):

  • Críticas públicas: Lula condenou a presença militar dos EUA no Caribe na cúpula do Brics, classificando-a como "fator de tensão incompatível com a vocação pacífica da região".
  • Defesa do diálogo: Na Assembleia Geral da ONU, defendeu que "a via do diálogo não deve estar fechada na Venezuela", alertando contra intervenções militares.

Fase recente (Aproximação com Trump):

  • Diplomacia discreta: A aproximação pessoal entre Lula e Trump (iniciada em Nova York) levou a uma transição para conversas reservadas.
  • Diálogo reservado: Lula passou a tratar da questão venezuelana em encontros e telefonemas privados com Trump, demonstrando uma estratégia mais cautelosa.

Os pilares da estratégia brasileira: Fatores chave

A postura brasileira não é resultado do acaso, mas sim de um cálculo multifatorial baseado em quatro eixos principais:

1. Pragmatismo econômico e a questão das tarifas comerciais

O fator econômico é central para a cautela brasileira, que busca proteger as negociações comerciais com os EUA.

  • O "tarifaço": O governo Trump havia imposto sobretaxas de 40% a produtos brasileiros, em parte motivadas por tensões políticas anteriores.
  • Objetivo: Evitar que uma postura publicamente confrontacional prejudique as negociações para a retirada ou redução dessas tarifas, que impactam significativamente as exportações e a indústria nacional.
  • Resultado parcial: A aproximação rendeu frutos concretos, com os EUA anunciando a retirada de tarifas sobre alguns produtos agrícolas, embora as sobretaxas sobre manufaturados permaneçam.

2. O papel de interlocutor e a mediação discreta

O Brasil busca se posicionar como um canal de comunicação vital, capaz de dialogar com todas as partes envolvidas.

  • Apelo direto à população: Em um esforço para mobilizar a opinião pública brasileira, Nicolás Maduro fez um apelo em "portunhol" em um programa de TV na quinta-feira (4/12), segurando um boné do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST). A citação completa do apelo foi:

"Povo do Brasil! Saiam às ruas para apoiar a Venezuela em sua luta pela paz e soberania. Eu falo a vocês toda a verdade. Nós temos direito à paz com soberania. Que viva o Brasil."

  • Mediação potencial: O país evita confrontos retóricos para manter abertos os canais de comunicação com Washington e Caracas. Essa postura é crucial, dada a expectativa de Maduro por uma voz de apoio na região.
  • Distanciamento de Maduro: Lula revelou não ter falado com Maduro desde as eleições venezuelanas de 2022, que o Brasil ainda não reconheceu formalmente, evidenciando uma distância cautelosa, apesar dos apelos.

3. A desarticulação política latino-americana

A fragmentação ideológica na América Latina limita a capacidade do Brasil de buscar uma ação coletiva regional.

  • Racha ideológico: A ascensão de líderes de direita em países chave (como Argentina, Paraguai e El Salvador), muitos com proximidade a Trump, enfraquece a possibilidade de uma frente regional unificada.
  • Isolamento regional: A falta de "respaldo institucional em nível regional" para uma posição mais assertiva força o Brasil a agir de forma mais isolada e cautelosa.
  • Fragilidade regional: A última cúpula da CELAC com a União Europeia, por exemplo, demonstrou essa fragilidade ao não fazer nenhuma menção à crise venezuelana.

4. As incertezas da sucessão venezuelana e a cautela geopolítica

O governo brasileiro manifesta uma grande preocupação com o cenário pós-Maduro, priorizando a estabilidade.

  • Ponto de equilíbrio: Apesar de autoritário, Maduro é visto por fontes do governo como um "ponto de equilíbrio" das forças políticas internas.
  • Risco de vácuo de poder: Sua saída abrupta é temida por poder gerar um vácuo de poder, caos social e instabilidade que transbordaria perigosamente para a fronteira brasileira.
  • Complexidade da oposição: A líder oposicionista Maria Corina Machado, vencedora do Prêmio Nobel da Paz, não é vista automaticamente como capaz de garantir uma transição estável.

O equilíbrio da diplomacia e o realismo geopolítico

A postura de Lula na crise entre Trump e Maduro é um exemplo sofisticado de realismo diplomático. Não é uma capitulação, mas um cálculo estratégico que harmoniza interesses econômicos, segurança regional e considerações geopolíticas de longo prazo.

  • Prioridade: Priorizar resultados concretos e a estabilidade regional sobre as declarações de princípio.
  • Abertura de canais: Manter canais abertos com ambas as partes é crucial para evitar uma escalada militar na região, que teria graves consequências humanitárias e de segurança para o Brasil. A resposta cautelosa ao apelo de Maduro reflete a intenção de não se alinhar a um dos lados, mas sim manter a posição de mediador.
  • Mensagem subjacente: A cautela brasileira reflete o entendimento de que uma intervenção na Venezuela poderia abrir um precedente perigoso, levando os EUA a avançarem sobre a soberania de outros países da região.

Em última análise, a diplomacia brasileira demonstra que, no cenário internacional contemporâneo, o diálogo reservado pode ser mais eficaz que as condenações públicas, e os silêncios são, por vezes, mais eloquentes que os discursos.

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