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terça-feira, 14 de outubro de 2025 às 10:49 GMT+0

Fintechs vs. Bancos: O que está por trás da guerra por impostos que afeta seu bolso

O sistema financeiro brasileiro está no centro de uma disputa sobre justiça fiscal. De um lado, bancos centenários buscam equiparação de regras; do outro, as fintechs defendem seu papel na inclusão e na competição. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva busca revisar a carga tributária dessas novas empresas, gerando um debate com amplas implicações para a economia e o consumidor.

O que são fintechs e sua transformação no Mercado

O termo "fintech" une as palavras financial e technology, definindo empresas que utilizam a inovação digital para oferecer serviços bancários de forma ágil, sem a necessidade de agências físicas.

Chaves do sucesso e impacto:

  • Inclusão financeira em massa: Conectaram milhões de brasileiros que, antes, estavam à margem do sistema bancário tradicional, oferecendo acesso a contas, crédito e cartões.
  • Aumento da competição: Forçaram toda a indústria a reduzir tarifas, melhorar a experiência do usuário e inovar em serviços (como o Pix, que foi potencializado por essas plataformas).
  • Crescimento exponencial: O setor saltou de 742 instituições em 2020 para 1.706 em 2025. Empresas como o Nubank (mais de 100 milhões de clientes) já superaram o valor de mercado dos maiores bancos brasileiros na bolsa, atestando a confiança dos investidores.

O ponto central da disputa: A disparidade da CSLL

A discussão tributária gira em torno da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), um imposto federal. O cerne do debate é a diferença nas alíquotas:

Alíquotas atuais de CSLL:

  • Bancos tradicionais: Pagam a alíquota de 20%.
  • Fintechs de meio de pagamento: Pagam 9% (aplicável a empresas que atuam apenas com Pix, cartões, pagamento de boletos).
  • Fintechs de crédito/investimento: Pagam 15% (destinado às que possuem licença para operações financeiras).

A proposta inicial do governo (barrada pelo Congresso via MP 1.303) era equiparar todas as alíquotas, elevando as das fintechs para 15% e 20%, buscando o mesmo patamar dos bancos.

A visão governamental e dos bancos tradicionais

O governo e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) defendem a mudança como um imperativo de justiça fiscal.

Argumentos a favor da equiparação:

  • Equidade tributária: Grandes fintechs já possuem porte e lucratividade comparáveis aos de bancos e, portanto, devem contribuir na mesma proporção. A meta é tributar "os mais ricos" para financiar políticas sociais.
  • Combate à concorrência desleal: Os bancos alegam que a alíquota menor permite às fintechs oferecerem preços artificialmente baixos, distorcendo a competição. Acusam o setor de utilizar estratégias agressivas de "planejamento tributário".

A defesa das fintechs e os contrapontos

O setor de fintechs (ABFintechs) se opõe ao aumento, alertando para as consequências.

Contrapontos do setor:

  • Risco à inclusão: O aumento de impostos será repassado, encarecendo os serviços e penalizando diretamente a população de baixa renda que mais se beneficia de soluções acessíveis.
  • Diferenças estruturais de risco: Fintechs de crédito só podem emprestar seu próprio capital, enquanto bancos podem praticar a "alavancagem" (emprestar o dinheiro dos correntistas). Essa diferença de risco sistêmico e de operação justificaria uma tributação distinta.
  • Contestação da alíquota efetiva: O setor alega que, na prática, os bancos não pagam 20% efetivamente, pois podem abater despesas como a inadimplência, benefício que as fintechs não teriam na mesma proporção.
  • Proposta alternativa: O setor propôs um aumento menor e gradual, com a elevação de 9% para 10% e de 15% para 16%, defendendo uma negociação de ajustes mínimos para ambos os lados.

O contexto mais amplo e a visão dos especialistas

Ajustar a tributação exige uma análise técnica que equilibre arrecadação e fomento à inovação.

Perspectivas analíticas:

  • Tributação proporcional: Especialistas defendem que o ideal é tributar pela capacidade econômica. Criar uma gradação, onde as maiores fintechs e os grandes bancos paguem mais, seria mais justo do que igualar uma startup pequena a uma instituição centenária.
  • Risco à competição: A alíquota reduzida foi um incentivo para criar um mercado mais competitivo. Aumentar a carga agora pode criar barreiras de entrada, reduzir a concorrência e, no médio prazo, prejudicar o consumidor.
  • Fiscalização aumentada: Paralelamente ao debate sobre impostos, o governo já equiparou as fintechs aos bancos na obrigação de reportar transações atípicas para a Receita Federal, ampliando o combate à lavagem de dinheiro e exigindo maior rigor regulatório.

A rejeição da Medida Provisória não encerrou o debate. A discussão é um divisor de águas entre um modelo tradicional que busca equidade fiscal e um modelo inovador que defende sua função social e competitiva. O desafio do governo será encontrar o ponto de equilíbrio que garanta a arrecadação necessária ao Estado sem frear a eficiência, a inovação e a inclusão financeira trazidas pela revolução das fintechs.

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