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terça-feira, 16 de setembro de 2025 às 10:11 GMT+0

O PCC e o CV na mira dos EUA: Terrorismo ou Política?

A relação entre Brasil e Estados Unidos atravessa um momento de grande complexidade. Uma das discussões mais delicadas em andamento é a possível decisão dos EUA de classificar facções criminosas brasileiras, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), como organizações terroristas estrangeiras.

Essa medida, que vai além de um simples ato político, poderia ter profundas implicações para a soberania do Brasil, sua economia e a segurança regional. Abaixo, detalhamos os principais pontos desse cenário.

Por que a classificação está em discussão?

A possibilidade de os EUA designarem o PCC como organização terrorista não surge de um único fator. Vários elementos se combinam para colocar a medida na agenda de Washington:

  • Contexto político: A ideia ganhou força após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, vista por aliados do ex-presidente Donald Trump como uma "caça às bruxas". Os EUA já adotaram medidas, como a imposição de tarifas sobre o aço brasileiro e sanções a autoridades do STF, sinalizando que a designação pode ser a próxima ação.
  • Segurança e geopolítica: O governo Trump tem como prioridade o combate ao narcotráfico na América Latina, tema com forte apelo em sua agenda eleitoral interna. Ações recentes, como o envio de caças F-35 a Porto Rico e operações militares contra "narcoterroristas", demonstram uma postura mais agressiva na região.
  • Precedentes: A inclusão de organizações criminosas na lista terrorista não é novidade para os EUA. Grupos como o Tren de Aragua (Venezuela) e cartéis mexicanos já foram designados, e a inclusão do PCC e do CV seria uma extensão dessa política.

O posicionamento do Brasil: Soberania em primeiro lugar

O governo brasileiro se posicionou formalmente contra essa designação, com base em argumentos jurídicos e de soberania nacional. Em maio, o Brasil rejeitou um pedido do Departamento de Estado norte-americano para que adotasse a mesma classificação internamente.

As razões para a recusa são claras:

  • Definição jurídica: A lei antiterrorismo brasileira (Lei 13.260/2016) define terrorismo por motivações políticas, ideológicas ou de preconceito. O governo argumenta que o PCC e o CV, embora violentos, têm motivação primordialmente econômica, focada no lucro de crimes como tráfico de drogas e armas.
  • Defesa da soberania: Aceitar a designação é vista como uma forma de ingerência externa. O Brasil defende que o combate ao crime organizado deve ser tratado com suas próprias leis e políticas de segurança, sem a imposição de um marco legal estrangeiro.

As consequências práticas: Impactos econômicos e risco de sanções

Caso os EUA avancem unilateralmente com a classificação, as consequências para o Brasil seriam severas e complexas:

  • Impacto financeiro: Instituições financeiras globais que operam em dólar seriam obrigadas a cortar relações com qualquer entidade ou indivíduo brasileiro suspeito de ter ligações com as facções. Isso poderia congelar ativos, paralisar transações comerciais e prejudicar a reputação de empresas brasileiras.
  • Sanções secundárias: Empresas estrangeiras que mantêm negócios com alvos designados nos EUA também poderiam ser penalizadas. Esse efeito cascata poderia isolar economicamente o Brasil e afastar investidores.
  • Cooperação internacional: Embora a medida possa facilitar a cooperação internacional em investigações e rastreamento de ativos, há um risco de que ela seja implementada de forma punitiva, prejudicando o diálogo e os esforços nacionais.

Uma encruzilhada de alta complexidade

A possível classificação do PCC como organização terrorista pelos EUA coloca o Brasil em uma situação delicada. A questão está na interseção de uma disputa política internacional, uma agenda de segurança prioritária para Washington e um debate fundamental sobre a soberania de Brasília. A evolução desse cenário dependerá da diplomacia entre os dois países e da avaliação de custo-benefício que a administração dos EUA fará.

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