O preço de chamar PCC/CV de terroristas: Entenda como bilhões em jogo podem destruir a economia brasileira
Um intenso debate no Congresso Nacional gira em torno da proposta de alterar a Lei Antiterrorismo de 2016 para classificar grandes facções criminosas, como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho), como organizações terroristas. A iniciativa, motivada por operações policiais de grande escala e pressões internacionais (incluindo um pedido formal dos EUA), busca dotar o Estado de ferramentas mais duras contra o crime organizado, mas levanta sérias preocupações sobre consequências econômicas e geopolíticas.
As vantagens legais e operacionais argumentadas
Os defensores da proposta, que incluem deputados e governadores, apontam para a necessidade de um arsenal jurídico mais robusto:
- Poder de antecipação e investigação: A nova classificação permitiria responsabilizar membros das facções por "atos preparatórios", o que anteciparia a ação penal antes da consumação de crimes graves. Além disso, a competência para investigar esses casos seria transferida para a Polícia Federal, potencialmente ampliando e especializando as investigações.
- Ataque financeiro global: Um dos objetivos centrais é a maior facilidade para apreender e bloquear bens de criminosos. A designação como terrorista abriria portas para uma cooperação internacional mais ágil e ampla, facilitando o congelamento de recursos das facções que estão no exterior.
- Reconhecimento da gravidade: A medida teria um forte valor simbólico, reconhecendo oficialmente que o PCC e o CV operam como "estados paralelos", transcendendo a criminalidade comum ao aterrorizar populações e usurpar a soberania nacional.
Os riscos econômicos e geopolíticos alarmantes
Apesar dos benefícios repressivos, analistas e acadêmicos alertam para perigos concretos de larga escala que a medida pode gerar:
- Sanções internacionais em cascata: Se o Brasil classificar as facções como terroristas, é altamente provável que outros países, como os EUA, sigam o mesmo caminho. Isso daria a governos estrangeiros o poder de impor sanções e congelar ativos de qualquer pessoa ou empresa suspeita de ter, mesmo que indiretamente, ligações com essas organizações. O risco é de uma propagação imprevisível dessas sanções pela economia.
- Vulnerabilidade empresarial e financeira: O crime organizado já demonstrou ter uma profunda infiltração em setores legítimos (como revelado em operações como Carbono Oculto e Quasar), movimentando bilhões em negócios lícitos (postos de gasolina, fintechs, fundos de investimento). Uma mera citação de uma empresa em uma investigação por suspeita de ligação, mesmo sem condenação, pode levar a sanções internacionais devastadoras, abalando a confiança no mercado.
- Alto custo de compliance: Bancos e empresas seriam forçados a implementar sistemas de controle e compliance extremamente rigorosos e onerosos para evitar qualquer contaminação por dinheiro ilegal. Esse aumento de custo operacional seria inevitavelmente repassado para a economia em geral.
- Isolamento sistêmico e risco à soberania: Em um cenário extremo, se potências estrangeiras interpretarem que sistemas financeiros brasileiros (como o Pix ou grandes bancos estatais) estão infiltrados por facções, podem impor sanções severas a todo o sistema financeiro, isolando o Brasil do circuito internacional. Além disso, o uso da designação "terrorista" pode ser um precedente para abusos de direitos humanos e, em contextos geopolíticos, abrir caminho para ingerências militares ou extradições sumárias, como já observado em outros países.
A necessidade de cautela técnica
- A proposta de equiparar facções criminosas a grupos terroristas representa um dilema complexo. Embora reflita a gravidade e a urgência do problema do crime organizado no Brasil, os riscos econômicos, diplomáticos e de segurança jurídica associados são amplos e potencialmente desestabilizadores.
O debate transcende o apelo emocional e político, exigindo uma análise técnica aprofundada que equilibre os supostos ganhos repressivos com o perigo real de transformar uma crise de segurança pública em uma crise econômica e geopolítica de difícil controle.
