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terça-feira, 2 de setembro de 2025 às 10:28 GMT+0

Os documentos secretos da acusação: As anotações que ligam Bolsonaro ao plano golpista que serão usados pela PGR

O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia, a partir de 2 de setembro de 2025, um julgamento histórico que pode definir o destino do ex-presidente Jair Bolsonaro e de sete outros acusados. Eles respondem pela acusação da Procuradoria-Geral da República (PGR) de terem articulado um golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder após sua derrota eleitoral para Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. A acusação, relatada pelo ministro Alexandre de Moraes, divide os réus em cinco núcleos de atuação e se baseia em uma extensa coleção de documentos e anotações secretas apreendidos pela Polícia Federal (PF), além da delação premiada do então ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid.

Fontes e metodologia da acusação:

A PGR construiu seu caso com base em provas materiais encontradas em buscas e apreensões nas residências e dispositivos eletrônicos dos acusados, incluindo celulares, HDs externos e documentos físicos. Muitos desses materiais eram confidenciais, utilizando codinomes para ocultar identidades e planos. A delação de Mauro Cid, que forneceu detalhes internos dos acontecimentos, é outra peça central, embora contestada pela defesa de todos os réus, que a acusam de incoerência e parcialidade.

As principais evidências apresentadas pela PGR:

1. O caderno de anotações do General Augusto Heleno:

  • Um caderno com a logo da Caixa Econômica foi encontrado na casa do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). As anotações, sem data, incluíam diretrizes estratégicas que demonstravam a articulação para deslegitimar o processo eleitoral e preparar o terreno para uma intervenção.
  • Este documento é crucial pois demonstra, segundo a acusação, um planejamento metódico e em alto nível para atacar a confiabilidade das urnas e manipular a opinião pública, além de esboçar a comunicação a ser adotada para angariar apoio.
  • Trechos relevantes: Incluem instruções como "Fazer um mapa com o levantamento das áreas onde o Pres [presidente] possui aliados confiáveis", "Utilizar com mais frequência a EBC" (Empresa Brasil de Comunicação), "Estabelecer um discurso sobre urnas eletrônicas e votações. É válido continuar a criticar a urna eletrônica" e "Não fazer qualquer referência a homossexuais, negros, maricas, etc.".

2. O documento "Bom Dia Presidente" de Alexandre Ramagem:

  • Vinculado a um e-mail do ex-diretor da Abin e então deputado federal, foi encontrado um arquivo de texto com esse nome. O documento detalhava a formação de um "grupo técnico, de confiança" para encontrar supostas vulnerabilidades nas urnas eletrônicas, com a participação de outro réu, o major Angelo Martins Denicoli.
  • Evidencia o esforço coordenado, envolvendo a inteligência do Estado, para criar uma justificativa técnica falsa para questionar o resultado das eleições, fornecendo suporte supostamente factual para os ataques públicos de Bolsonaro.

3. O plano "Punhal Verde Amarelo" do General Mário Fernandes:

  • Encontrado em um HD externo, este é considerado o documento mais grave. Intitulado "Planejamento Punhal Verde Amarelo", detalhava uma operação batizada de "Copa 2022" que previa a "neutralização" (um eufemismo interpretado como assassinato) de autoridades, usando codinomes: "Jeca" para Lula, "Joca" para o vice Geraldo Alckmin e "Juca" (supostamente José Dirceu).
  • Representa a face mais violenta e radical da trama, mostrando que o plano ia além de uma ruptura institucional e contemplava a eliminação física dos opositores. O plano listava armamentos, veículos, codinomes e avaliava as chances de êxito como "médio tendendo a alto".
  • Métodos propostos: Incluíam disparo de armamento, artefatos explosivos e, no caso de Lula, envenenamento ou uso de um "remédio que lhe cause um colapso orgânico", explorando seu estado de saúde. Segundo a PGR, o documento foi mostrado a Bolsonaro no Palácio da Alvorada.

4. A minuta do decreto golpista de Estado de Sítio:

  • Fotos deste rascunho foram encontradas nos dispositivos de Mauro Cid. O documento buscava justificar legalmente a decretação de um Estado de Sítio, apontando supostas ilegalidades do Judiciário nas eleições. Uma anotação na última página pedia a inclusão de exemplos de decisões "inconstitucionais do STF".
  • Esta minuta é a prova material de que os acusados trabalhavam ativamente na elaboração de um instrumento legal para concretizar o golpe, tentando vestir de legalidade um ato claramente ilegal e autoritário.

5. A minuta do "Gabinete de Gestão de Crise":

  • Um documento digital encontrado nos arquivos de Mário Fernandes, criado em 16 de dezembro de 2022, propunha a criação de um "Gabinete Institucional de Gestão de Crise" subordinado ao GSI, que seria comandado por Augusto Heleno.
  • Demonstra o planejamento para a estrutura de poder que seria implantada após a ruptura democrática. O gabinete funcionaria 24 horas por dia e teria funções claras de controle da narrativa, incluindo uma assessoria de "operações psicológicas" para "minimizar as narrativas da mídia" e estabelecer contatos com setores-chave da sociedade.
Nome da Foto
O caderno de Augusto Heleno
Caderno de Heleno também tinha anotações esparsas
Heleno com documentos sobre supostas falhas no sistema eletrônico
'Bom dia Presidente'
'Jeca', 'Joca' e 'Juca'
'Jeca' seria um codinome para Lula e 'Joca', para Alckmin
Foto de decreto golpista
Minuta do 'Gabinete de Gestão de Crise'
Minuta listava tarefas a serem executadas após o plano ser colocado em prática

AO VIVO BBC: Bolsonaro começa a ser julgado no STF por acusação de golpe - Acompanhe

O conjunto de evidências apresentadas pela PGR pinta um quadro complexo e detalhado de uma suposta tentativa organizada e multifacetada de golpe de Estado. Os documentos, em sua maioria produzidos pelos próprios acusados, sugerem uma operação que ia desde a guerra de informação e deslegitimação do sistema eleitoral até planos extremos de violência e a elaboração de decretos para justificar uma ruptura institucional. O julgamento no STF terá a árdua tarefa de analisar a autenticidade e o contexto dessas provas, ponderar a validade da delação de Mauro Cid e determinar se tais ações configuram crimes previstos na lei penal brasileira. O caso representa um teste crucial para as instituições democráticas do Brasil e seu compromisso com o Estado de Direito, independentemente do poder ou posição dos acusados.

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