Por que Lula afirma que o problema do Brasil é com Netanyahu, e não com Israel? Os pontos-chave da entrevista de Lula em Roma

Durante sua passagem por Roma, na Itália, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abordou uma série de temas de alcance internacional e doméstico. Suas declarações mais impactantes, dadas em uma coletiva de imprensa no dia 13 de outubro de 2025, giraram em torno do frágil cessar-fogo em Gaza e do futuro das relações diplomáticas entre Brasil e Israel. Lula fez uma distinção crucial entre o Estado de Israel e seu então primeiro-ministro, sinalizando uma possível mudança na postura brasileira dependendo de cenários políticos futuros.
O cessar-fogo Em Gaza e a posição brasileira:
O presidente comentou o então vigente cessar-fogo entre Hamas e Israel. Ele expressou um cauteloso otimismo, afirmando: "Há muitas possibilidades de um acordo ser definitivo". Lula refletiu sobre o custo humano do conflito, destacando:
"Não se vai devolver a vida dos milhões que morreram, mas se devolve, pelo menos, o direito das pessoas de viverem tranquilas, sem medo de uma bomba, sem medo de um prédio cair". Sua fala evidencia a posição histórica do Brasil em defesa da paz e da diplomacia como solução para conflitos.
1.
A declaração situa o Brasil como um ator internacional interessado em mediações de paz, alinhando-se com esforços multilaterais.
2.
Ela reflete a compreensão de que acordos de cessar-fogo são apenas o primeiro passo para uma solução duradoura, que deve garantir segurança e dignidade para a população civil.
O cerne da questão para O Brasil: Netanyahu no poder.
A declaração mais contundente de Lula veio ao ser questionado sobre as relações bilaterais com Israel. Ele foi direto: "O Brasil não tem um problema com Israel. O Brasil tem problema com o Netanyahu"
. E completou: "A hora que Netanyahu não for mais governo, não haverá nenhum problema entre Brasil e Israel, que sempre tiveram uma relação muito boa"
. Esta afirmação personaliza a crise diplomática, atribuindo-a diretamente à figura do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e não ao Estado ou ao povo israelense.
1.
Esta distinção é um marco na diplomacia, pois separa a relação de Estado para Estado da relação com um governo específico e sua política externa.
2.
Ela deixa claro que o rompimento ou a tensão não é permanente, abrindo espaço para uma normalização rápida sob uma nova liderança em Israel.
3.
Essa postura pode ser analisada no contexto das críticas internacionais de Lula e outros líderes às políticas de Netanyahu em Gaza, que foram amplamente condenadas por organizações de direitos humanos.
O encontro com o Papa Leão 14 e a agenda social.
Em sua visita ao Vaticano, Lula teve um encontro privado com o papa Leão 14. O presidente descreveu a reunião como extremamente positiva, declarando: "Parecia que eu estava conversando com alguém que eu já conhecia há 20 anos, 30 anos"
. Eles discutiram temas caros a ambos, como a pobreza e a injustiça social. É notável que o Vaticano optou por um formato de reunião privada, sem as honras de uma visita de Estado completa.
1.
O encontro fortalece laços entre o Estado brasileiro e a Santa Sé em torno de uma agenda social comum.
2.
A sintonia pessoal relatada por Lula pode facilitar futuras cooperações em projetos humanitários e de combate à fome.
Outros temas domésticos abordados: STF E Carla Zambelli.
Lula também respondeu a perguntas sobre assuntos internos do Brasil. Sobre a indicação de um novo ministro para o Supremo Tribunal Federal (STF), ele enfatizou o critério técnico: "Não sei se mulher ou homem, não sei se preto ou branco. Quero, antes de tudo, uma pessoa gabaritada".
Sobre o caso da deputada Carla Zambelli, presa na Itália e com pedido de extradição pelo Brasil, Lula foi enfático ao dizer que "nem se lembrava" do nome e a classificou como "uma pessoa que não merece respeito do que é uma democracia"
.
1.
A postura sobre o STF reforça um princípio fundamental para o Judiciário: a nomeação por mérito e capacitação, acima de qualquer outro interesse.
2.
Suas declarações sobre Zambelli ilustram a profunda polarização política no Brasil e a postura do governo frente a figuras oposicionistas condenadas pela Justiça.
A luta contra a fome no fórum mundial da alimentação.
O compromisso oficial central de Lula em Roma foi participar do Fórum Mundial da Alimentação da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Em seu discurso, ele defendeu que "os pobres sejam colocados no orçamento de seus países"
, negando que se trate de "assistencialismo". Lula também conectou a paz mundial com a segurança alimentar, proferindo uma de suas frases mais simbólicas: "A fome é irmã da guerra"
. Ele argumentou que conflitos, como o de Gaza, e políticas protecionistas desestruturam a produção e o acesso a alimentos.
- Reafirma o combate à fome como pilar central da política externa e doméstica do governo Lula.
- A conexão entre fome e guerra é um alerta crucial para a comunidade internacional, destacando que a insegurança alimentar é tanto uma causa quanto uma consequência de conflitos armados.
As declarações do presidente Lula durante sua visita à Itália pintam um quadro claro de suas prioridades e posicionamentos. Na política externa, fica evidente uma diplomacia que não hesita em criticar governos específicos, como o de Netanyahu, mantendo a porta aberta para relações futuras com Israel. Simultaneamente, há um forte engajamento em fóruns multilaterais para combater a fome e a pobreza, temas que ele intrinsicamente liga à paz mundial. Internamente, Lula reafirma sua confiança nas instituições, como o STF, e demonstra pouca tolerância para com figuras políticas que ele considera uma ameaça à democracia. A viagem consolidou, portanto, uma agenda que busca equilibrar uma atuação firme no cenário global com a defesa de seus princípios de governança e justiça social.