Por que Trump recuou: A reaproximação com o Brasil e o fim da pressão por Bolsonaro
As relações entre Brasil e Estados Unidos, que viveram um período de alta tensão, entraram em um surpreendente e pragmático movimento de reaproximação. Esta mudança de curso, interpretada por analistas de política internacional, demonstra um fascinante exercício de diplomacia baseado na realidade dos fatos. O que parecia uma crise profunda, agravada pelas tarifas do governo Trump, começou a se dissolver após um gesto estratégico entre os presidentes Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva durante a Assembleia Geral da ONU. Hoje(25/10), a expectativa é que esse diálogo seja aprofundado com a realização de uma reunião entre os dois líderes na Malásia, marcando uma fase de consolidação deste entendimento pragmático no cenário global.
Por trás da virada: O que pressionou a mudança de rota em Washington?
Especialistas apontam que a mudança de postura americana decorre, principalmente, de dois imperativos estratégicos e econômicos:
1. O revés da estratégia política externa
- A derrota da intervenção: O governo americano percebeu que sua tentativa de influenciar processos internos brasileiros, visando proteger e garantir a elegibilidade de Jair Bolsonaro, fracassou completamente.
- A força das instituições brasileiras: O Supremo Tribunal Federal (STF) demonstrou independência e manteve a condenação e inelegibilidade de Bolsonaro, apesar da pressão externa. A solidez das instituições do Brasil forçou Washington a reconhecer que a causa política de seu antigo aliado não era mais viável de ser defendida através de ferramentas de pressão.
2. A pressão inegável da economia doméstica
- O efeito contratirante das tarifas: As tarifas de 50% impostas sobre produtos brasileiros prejudicaram a economia dos próprios Estados Unidos. O setor privado americano agiu nos bastidores, alertando a Casa Branca sobre o impacto negativo em empresas e consumidores nos EUA.
- Interdependência econômica como fator: O custo de manter as tarifas tornou-se insustentável devido à profunda integração do Brasil nas cadeias de suprimentos americanas (incluindo café, carne, aço, alumínio e a indústria aeronáutica da Embraer).
- Foco no próximo passo: O interesse econômico mútuo é agora o motor principal, levando o governo americano a buscar a reversão do quadro tarifário.
A agenda futura: Onde o diálogo vai e não vai
A reaproximação é vista como um movimento focado em interesses concretos, com avanços esperados na economia e limites claros na esfera política.
Avanços imediatos (Prioridade econômica)
- Reversão das barreiras comerciais: É a expectativa mais forte. A pressão eficaz de empresas de ambos os países criou o canal necessário para que a principal novidade seja a redução ou eliminação drástica das tarifas.
Pontos de desacordo mantidos (Esfera política)
- Manutenção de sanções: É improvável que as sanções contra ministros do STF, baseadas na Lei Magnitsky, sejam suspensas a curto prazo. As negociações se concentrarão no comércio, mantendo a fonte de atrito político em segundo plano.
O contexto regional
- Venezuela e instabilidade: Enquanto a relação bilateral melhora, a tensão entre Washington e Caracas aumenta. Analistas alertam que uma ação militar americana na Venezuela criaria problemas na América Latina e poderia fragilizar a reaproximação com o Brasil.
- Competição com a China: O avanço da influência chinesa na região serve como um lembrete estratégico, incentivando Washington a resolver conflitos com o Brasil para evitar abrir mais espaço para Pequim.
Um novo Patamar de Relações
A análise converge para a conclusão de que a relação bilateral entra em uma fase mais madura e focada em resultados. A lição é clara: a resistência das instituições democráticas brasileiras e o peso da interdependência econômica foram decisivos para forçar um recálculo estratégico nos EUA.
O movimento de Trump em transformar um conflito bilateral em um encontro pessoal positivo com Lula é interpretado como um ato diplomático inteligente. Os dois países agora devem conduzir uma relação baseada em interesses tangíveis, onde as divergências políticas persistem, mas não impedem a cooperação. O capítulo da interferência política está superado, abrindo espaço para uma nova fase focada no pragmatismo.
