"‘Vai piorar antes de melhorar’: Alerta sobre escalada da crise entre Brasil e EUA – Sanções, Bolsonaro e o risco de novas retaliações

A relação entre Brasil e Estados Unidos vive um dos momentos mais tensos das últimas décadas, com medidas duras de ambos os lados e poucas perspectivas de resolução no curto prazo. O brasilianista Brian Winter, editor-chefe da revista Americas Quarterly e especialista em relações internacionais, analisa o cenário em entrevista à BBC News Brasil, destacando que a crise "vai piorar antes de melhorar".
O que desencadeou a crise?
- Medidas americanas: Os EUA impuseram tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e revogaram vistos de ministros do STF e do procurador-geral da República, Paulo Gonet.-
- Motivação: O governo americano alega que as ações são uma resposta ao tratamento dado pelo Judiciário brasileiro ao ex-presidente Jair Bolsonaro, réu em um processo por tentativa de golpe de Estado.
- Contexto político: Donald Trump comparou a situação de Bolsonaro à sua própria, já que ambos enfrentam processos judiciais (Trump por suposta interferência nas eleições de 2020 e pelo ataque ao Capitólio em 2021).
Por que a crise deve se agravar?
- Fator Bolsonaro: Winter acredita que, se Bolsonaro for preso, Trump pode adotar medidas ainda mais duras, como sanções econômicas ou restrições a vistos para brasileiros.
- Falta de diálogo: Há pouca comunicação direta entre os governos Lula e Trump, o que dificulta a desescalada.
Interesses políticos: Ambos os lados parecem enxergar vantagens no conflito:
- Trump vê o Brasil como um "alvo de baixo custo" e usa a narrativa de perseguição política para mobilizar sua base.
- Lula pode capitalizar o embate como uma defesa da soberania nacional, unindo até adversários internos em torno do tema.
O papel do STF e a acusação de autoritarismo
- Críticas de Trump: O presidente americano e aliados acusam o Brasil de ser um "regime autoritário", citando decisões do STF, como as restrições a Bolsonaro nas redes sociais.
Resposta de Winter: O analista rejeita o termo "autoritário" mas reconhece preocupações:
"O Brasil é uma democracia, mas com restrições à liberdade de expressão que causam desconforto, especialmente para americanos."
- Ele menciona que decisões do ministro Alexandre de Moraes são controversas até mesmo entre críticos moderados.
Falta de canais de diálogo e possíveis saídas
- Exemplo do México: Winter cita a presidente Claudia Sheinbaum, que evitou confronto direto com Trump e negociou com pragmatismo.
Dificuldades para o Brasil:
- Lula não pode interferir no Judiciário, o que limita sua capacidade de negociar.
- A postura do governo brasileiro, especialmente durante a Cúpula dos Brics, foi vista como "provocativa" por Trump.
- Cenário atual: Não há sinais de recuo de nenhum dos lados, e a crise pode se prolongar até as eleições de 2026.
Impactos geopolíticos e relação com a China
- Aproximação com Pequim: A crise pode acelerar o alinhamento do Brasil com a China, que já é um parceiro estratégico.
- Riscos: Winter alerta que um conflito prolongado com os EUA pode ter "consequências não intencionais", como impactos econômicos ou isolamento diplomático.
Um conflito com raízes profundas e poucas soluções imediatas
A crise entre Brasil e EUA é resultado de uma combinação de fatores:
- Personalização da política: Trump enxerga o caso Bolsonaro como um espelho de suas próprias batalhas judiciais.
- Falta de diálogo estratégico: A comunicação entre os governos é insuficiente para evitar a escalada.
- Interesses domésticos: Ambos os lados veem vantagens políticas em manter o conflito, mesmo que isso prejudique as relações bilaterais.
Perspectivas:
- No curto prazo, a tendência é de mais sanções e retórica acirrada.
- A médio prazo, a solução dependerá de fatores como o desfecho do processo contra Bolsonaro e o resultado das eleições nos EUA em 2024.
- O Brasil precisa equilibrar sua relação com EUA e China, mas sem abrir mão de sua soberania.
Como disse Winter, "o foco agora deve ser conter os danos"
. Enquanto não houver disposição para o diálogo, a crise seguirá como um teste às instituições e à diplomacia de ambos os países.