Capialismo canábico: A dualidade chocante da maconha medicinal – Lucro bilionário da big weed versus a repressão da guerra às drogas
A ascensão da Cannabis medicinal está reescrevendo as regras do mercado farmacêutico global, criando o que especialistas chamam de "Capitalismo Canábico". Este fenômeno não é apenas uma revolução de saúde, mas uma profunda e complexa transformação econômica e social que expõe as contradições persistentes nas políticas globais de drogas.
O catalisador político e o boom de mercado
A legitimidade política e o interesse financeiro impulsionaram a legalização em escala industrial:
- Endosso de alto nível: Em um movimento que selou a aceitação da Cannabis no mainstream, o então Presidente Donald Trump elogiou publicamente os benefícios do Canabidiol (CBD) e prometeu incluí-lo no Medicare (seguro de saúde federal dos EUA) em setembro de 2025.
- Reação imediata do mercado: O anúncio de Trump provocou uma valorização histórica nas ações das grandes corporações do setor, as "Big Weed" (como Tilray Brands e Canopy Growth), com altas que variaram entre 9,5% e 20% em um único dia.
- Gigante em crescimento: O mercado global de Cannabis, avaliado em
US$ 13 bilhões em 2022, projeta um crescimento anual de 21,8% até 2030, tornando-se uma fronteira econômica extremamente lucrativa.
CBD: A substância-chave e seus benefícios científicos
O foco central desta nova indústria farmacêutica é o Canabidiol (CBD), que oferece vantagens cruciais para a aceitação médica e social:
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Sem efeitos psicoativos: Ao contrário do THC, o CBD não provoca o "barato", facilitando sua aceitação como tratamento médico legítimo.
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Eficácia comprovada: Décadas de pesquisa atestam seu potencial terapêutico no manejo de diversas condições, incluindo:
1.Epilepsias graves e resistentes.
2.Doenças neurodegenerativas (Alzheimer, Parkinson).
3.Dores crônicas e inflamações.
4.Efeitos colaterais de quimioterapia (náuseas e vômitos).
5.Distúrbios de ansiedade e glaucoma. -
A dualidade da política de drogas: O Capitalismo da Aceitação vs. A Guerra da Repressão
A ascensão do Capitalismo Canábico é marcada por uma profunda e flagrante seletividade de tratamento: -
Reabilitação seletiva: A Cannabis é "reabilitada" como produto farmacêutico e de bem-estar quando associada a corporações e a usuários brancos e de classe média.
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A "guerra às drogas" persiste: Paralelamente, o governo Trump intensificou a repressão internacional, classificando cartéis latino-americanos como "organizações terroristas" e sancionando países como a Colômbia por suposta falta de cooperação antidrogas.
Dois pesos e duas medidas:
- O criador do site de drogas Silk Road, Ross Ulbricht (homem branco, empreendedor e com formação de elite), foi perdoado por Trump, que elogiou sua "inventividade".
- Populações racializadas e originárias do Sul Global continuam a ser o alvo prioritário da repressão, enquadradas como "traficantes" mesmo para crimes menores relacionados à Cannabis.
O cenário brasileiro e a seletividade social
O Brasil espelha a contradição global, apesar dos avanços legais:
- Avanço jurídico: O Supremo Tribunal Federal (STF) regulamentou o porte e o cultivo para uso pessoal em 2024, buscando distinguir o usuário do traficante.
- A repressão não cessa: Especialistas alertam que a seletividade racial e social continua enraizada. O "usuário" idealizado (jovem branco de classe média) é poupado, enquanto o "traficante" (jovem negro, pobre e periférico) continua a ser o alvo principal da repressão policial.
Implicações centrais do tema
O "Capitalismo Canábico" é um tema de extrema relevância devido às suas implicações em diversas esferas:
- Econômica: Criação de um novo setor multibilionário com impacto direto nos mercados financeiros e na indústria farmacêutica global.
- Saúde pública: Acesso a tratamentos eficazes e legitimados para milhões de pessoas com doenças crônicas e debilitantes.
- Justiça social e geopolítica: Expõe a hipocrisia das políticas de drogas e a persistência da discriminação racial e classista, mostrando como a "Guerra às Drogas" é usada como instrumento de pressão política sobre a América Latina.
A legalização da Cannabis medicinal não é apenas uma vitória da ciência, mas sim a consolidação de uma nova fronteira de acumulação de capital. A questão central, portanto, não é sobre a droga em si, mas sobre quem tem o direito de lucrar com ela e quem está destinado a ser punido por ela.
