Colonoscopia ou teste de fezes? Qual exame detecta melhor o câncer colorretal?

O câncer colorretal é uma das principais causas de morte por câncer no mundo, e seu rastreamento precoce é essencial para reduzir a mortalidade. Dois métodos são amplamente utilizados: a colonoscopia, considerada o "padrão-ouro", e o teste imunoquímico fecal (FIT), que detecta sangue oculto nas fezes. Um estudo espanhol de grande escala, chamado COLONPREV, comparou a eficácia dessas duas estratégias ao longo de 10 anos, trazendo insights valiosos para a medicina preventiva.
Principais achados do estudo COLONPREV:
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Efetividade comparável: O estudo demonstrou que o FIT não é inferior à colonoscopia na redução da mortalidade por câncer colorretal. Em 10 anos, o risco de morte foi de 0,22% no grupo da colonoscopia (55 óbitos) e 0,24% no grupo do FIT (60 óbitos), uma diferença insignificante.
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Aderência maior ao FIT: Enquanto 39,9% dos participantes realizaram o FIT (por ser menos invasivo), apenas 31,8% compareceram à colonoscopia, refletindo uma preferência global por métodos mais simples.
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Custo-benefício: O FIT é significativamente mais barato (cerca de
US$ 24
) em comparação com a colonoscopia (US$ 635
, incluindo infraestrutura médica). -
Conveniência: O FIT pode ser feito em casa, sem preparo invasivo, enquanto a colonoscopia exige dieta restritiva, laxantes, sedação e recuperação.
Diferenças entre os métodos:
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Colonoscopia: Permite visualização direta do intestino e remoção imediata de pólipos, mas é invasiva e requer preparo rigoroso.
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FIT: Detecta sangue oculto nas fezes, porém, se positivo, exige uma colonoscopia complementar para confirmação e tratamento.
Opinião dos especialistas:
- No Brasil, onde não há um programa nacional de rastreamento estruturado, o estudo sugere que o FIT pode ser uma alternativa viável para pessoas assintomáticas e de risco médio. Segundo o gastroenterologista Alexandre Carlos, do Hospital das Clínicas da USP, o teste é "custo-efetivo, escalável e reduz barreiras como medo do exame e necessidade de infraestrutura complexa". No entanto, a colonoscopia ainda é preferencial para grupos de alto risco, como pacientes com histórico familiar, doenças inflamatórias intestinais ou síndromes hereditárias.
O estudo COLONPREV reforça que ambos os métodos são eficazes, mas o FIT se destaca por sua praticidade, menor custo e maior aceitação pelos pacientes. Para sistemas de saúde com recursos limitados, como o brasileiro, ele pode ser uma estratégia inicial valiosa, ampliando a cobertura populacional. Já a colonoscopia mantém seu papel crucial em casos de alto risco e quando há necessidade de intervenção imediata. A escolha entre os dois deve considerar fatores como perfil do paciente, disponibilidade de recursos e adesão aos programas de rastreamento.