Quando uma mancha ou pinta na pele vira um alerta? Médicos explicam os critérios de avaliação

A história de Renata, uma gerente de enfermagem, serve como um alerta real e poderoso. Após negligenciar o acompanhamento de uma lesão pré-cancerígena, ela descobriu, quase por acaso, um melanoma em estágio inicial em uma pinta que considerava inofensiva. Esse relato, reportado por Gabriela Maraccini para a CNN, ilustra perfeitamente como o conhecimento e a vigilância são nossos maiores aliados contra o câncer de pele, o tipo de tumor mais comum no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA).
Este guia detalha como avaliar suas pintas, quando se preocupar e as melhores formas de prevenção.
A importância do diagnóstico precoce
O diagnóstico precoce não é apenas um conselho médico, é a estratégia mais eficaz para um desfecho positivo. No caso do melanoma, o tipo mais raro e agressivo de câncer de pele, identificar a doença em sua fase inicial aumenta drasticamente as taxas de cura. A detecção tardia, por outro lado, pode permitir que o câncer se espalhe para outros órgãos, um processo conhecido como metástase, o que complica enormemente o tratamento. Observar a própria pele regularmente e consultar um dermatologista anualmente são atitudes que salvam vidas.
Como avaliar suas pintas: A regra do ABCDE
Especialistas como a dermatologista Dra. Luisa Julatatto (do Alta Diagnósticos/DASA) e a oncologista Dra. Marina Sahade (do Hospital Sírio-Libanês) destacam os sinais de alerta universais, frequentemente resumidos pela regra do "ABCDE". Fique atento a:
- Assimetria: uma metade da pinta é diferente da outra.
- Bordas irregulares: contornos mal definidos, dentados ou com reentrâncias.
- Cor variada: presença de várias cores (preto, marrom, vermelho, branco, azul) em uma mesma lesão.
- Diâmetro: pintas com mais de 6 milímetros (o diâmetro de um lápis) merecem atenção, embora melanomas possam ser menores.
- Evolução: este é o sinal mais importante. Qualquer mudança em tamanho, forma, cor, textura, ou o surgimento de sintomas como coceira, sangramento ou dor, é um sinal de alerta.
Além disso, feridas que não cicatrizam em até quatro semanas também devem ser avaliadas por um profissional.
O que não é motivo de preocupação imediata?
Nem toda mancha na pele é sinal de câncer. A Dra. Luisa Julatatto esclarece que condições como efélides (sardas), manchas solares (lentigos), ceratoses seborreicas (lesões elevadas e ásperas, geralmente benignas) e melasma (manchas escuras comuns no rosto) são tipicamente inofensivas. No entanto, o diagnóstico final deve ser sempre feito por um dermatologista, pois a aparência pode enganar.
O caminho para o diagnóstico: Da consulta à biópsia
Se houver qualquer suspeita, o médico seguirá um protocolo de investigação:
- Dermatoscopia: um exame de consultório onde o dermatologista usa um aparelho (dermatoscópio) que amplia e ilumina a lesão, permitindo analisar estruturas não visíveis a olho nu.
- Mapeamento corporal digital: uma ferramenta avançada que fotografa e armazena imagens de alta precisão de todas as pintas do corpo, permitindo comparar mudanças sutis ao longo do tempo em consultas futuras.
- Biópsia: é o único exame que confirma o diagnóstico. Um pequeno fragmento ou a lesão toda é removida e enviada para análise anatomopatológica, que definirá se é cancerosa e qual seu tipo.
Fatores de risco e prevenção: Proteção é a melhor estratégia
O principal fator de risco, destacado pela Dra. Marina Sahade, é a exposição solar prolongada e repetitiva, especialmente na infância e adolescência. Outros fatores incluem:
- Pele, cabelos e olhos claros.
- Histórico pessoal ou familiar de câncer de pele.
- Uso de câmaras de bronzeamento artificial (proibidas pela ANVISA no Brasil).
- Sistema imunológico suprimido.
Embora pessoas de pele clara sejam mais suscetíveis, indivíduos negros também podem desenvolver câncer de pele, frequentemente em áreas menos expostas, como as palmas das mãos e as solas dos pés.
As medidas de prevenção são claras e devem ser incorporadas à rotina:
- Uso diário de protetor solar com FPS de, no mínimo, 30, reaplicado a cada duas horas ou após suar ou entrar na água.
- Evitar a exposição ao sol entre 10h e 15h, quando os raios UV são mais intensos.
- Utilizar barreiras físicas: chapéus de abas largas, óculos de sol com proteção UV, roupas com proteção UPF e guarda-sóis.
A vigilância consciente é a chave para a saúde da pele
A jornada de Renata reforça que o autocuidado e a medicina preventiva são inseparáveis. Conhecer o próprio corpo, observar mudanças e manter consultas regulares com um dermatologista são atitudes proativas que nos dão poder sobre nossa saúde. O câncer de pele, apesar de sua alta frequência, é em grande parte evitável e, quando detectado precocemente, é altamente curável. A proteção solar rigorosa não é uma sugestão estética, mas um pilar da saúde pública. Incorporar esses hábitos é investir em um futuro com mais qualidade de vida e bem-estar.