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quarta-feira, 22 de outubro de 2025 às 11:33 GMT+0

SBP mudou as regras: Entenda por que 37,5°C é o novo ponto de alerta - Acabe com a febrefobia.

A cena é familiar em lares com crianças: um termômetro na mão e a ansiedade ao interpretar aquele número. Recentemente, um conselho médico trouxe uma mudança significativa. A Sociedade Brasileira De Pediatria (Sbp) revisou sua diretriz e redefiniu o ponto de corte para febre em crianças. O que antes era considerado a partir de 37,8°C, agora é oficialmente febre a partir de 37,5°C quando medido na axila. Esta alteração, detalhada no documento "Abordagem da Febre Aguda em Pediatria e Reflexões sobre a febre nas arboviroses" de 2025, não é um mero ajuste numérico. Ela reflete uma evolução profunda no entendimento científico sobre o que é a febre e como devemos lidar com ela, priorizando o bem-estar geral da criança em vez de um valor isolado.

As razões para a mudança: Muito além do número no termômetro

A principal motivação para esta atualização é um entendimento mais holístico e menos alarmista da febre. A Sbp e especialistas internacionais passaram a considerar fatores cruciais que vão além da temperatura:

  • A variação natural do corpo: A temperatura corporal de uma criança não é um valor fixo. Ela flutua naturalmente ao longo do dia, podendo variar em até 1°C, sendo geralmente mais baixa pela manhã e mais alta no final da tarde. Um valor que poderia ser considerado "normal" em um horário, pode ser um sinal de alerta em outro. O novo patamar de 37,5°C leva essa variação fisiológica em conta.
  • A febre como um mecanismo de defesa: A visão moderna enxerga a febre não como uma doença, mas como um sinal fisiológico positivo. Conforme explica o médico pediatra Alexandre Nikolay, coordenador do departamento de emergência pediátrica do Hospital Santa Lúcia Sul, em Brasília: "O aumento da temperatura corporal não é a doença em si, mas uma forma de defesa natural que avisa que o corpo está lutando contra alguma infecção ou problema". A febre ajuda a acelerar o metabolismo e a fortalecer a resposta do sistema imunológico contra vírus e bactérias.
    -** O cmbate à "Febrefobia":** Um dos objetivos centrais da nova diretriz é reduzir a "febrefobia", o medo excessivo e a ansiedade desproporcional dos pais diante da febre. Esse pânico frequentemente leva a idas desnecessárias ao pronto-socorro e ao uso indiscriminado de medicamentos, que podem ser mais prejudiciais do que a própria febre baixa. Ao ajustar o parâmetro e enfatizar a observação do estado geral da criança, a Sbp busca promover uma reação mais racional e tranquila.

A importância e relevância da nova definição

Esta mudança de paradigma possui implicações práticas fundamentais para pais e cuidadores:

  • Foco no comportamento, não apenas na temperatura: A nova diretriz ensina que o estado geral da criança é um indicador mais importante do que o número exibido no termômetro. Uma criança com 38°C que está brincando, bem-hidratada e alerta pode estar em melhor estado do que uma criança com 37,6°C que está prostrada, sonolenta e irritada.
  • Redução de intervenções desnecessárias: Ao evitar o diagnóstico de febre em temperaturas mais baixas que são flutuações normais, previne-se o uso de antitérmicos sem real necessidade, preservando a função defensiva natural da febre e minimizando riscos de efeitos colaterais.
  • Diminuição da ansiedade familiar: Com uma compreensão clara de quando a febre realmente começa e a confiança para observar outros sinais, os pais podem tomar decisões mais seguras e menos estressantes.
  • Alinhamento com práticas internacionais: A adoção do patamar de 37,5°C axilar coloca o Brasil em sintonia com protocolos pediátricos de outros países e organizações de saúde globais, baseando a prática clínica em evidências científicas consolidadas.

Febre x Hipertermia: Compreendendo a diferença

É crucial distinguir entre febre e hipertermia, pois suas causas e implicações são diferentes:

  • Febre: É uma resposta ativa e controlada pelo cérebro. O "termostato" interno do corpo (o centro termorregulador) é reajustado para um patamar mais alto como estratégia de combate a infecções.
  • Hipertermia: Ocorre quando o corpo acumula calor porque não consegue dissipá-lo com eficiência, geralmente por causas externas como exposição ao sol excessiva, ambiente muito quente ou atividade física intensa. Neste caso, o "termostato" cerebral não é alterado; o corpo simplesmente esquenta além da sua capacidade de resfriamento. Crianças são mais vulneráveis à hipertermia devido ao seu sistema de regulação térmica ainda imaturo.

Quando se preocupar e buscar atendimento médico

A nova diretriz não ignora os perigos reais. A Sbp reforça que a busca por atendimento médico é imperativa em situações específicas, independentemente do valor exato da temperatura:

1. Crianças com menos de 3 meses de idade.
2. Febre persistente ou que ultrapassa 39,5°C.
3. Alterações no estado geral: Sonolência excessiva, prostração (criança muito "molinha"), irritabilidade extrema ou choro inconsolável.
4. Sinais de dificuldade respiratória: Respiração ofegante ou rápida.
5. Sinais de desidratação: Boca seca, chorar sem lágrimas, redução significativa da urina.
6. Convulsões.
7. Crianças com doenças crônicas pré-existentes, imunossupressão ou desnutrição.

O uso correto de antitérmicos

A medicação deve ser um recurso para o conforto, não um ritual automático:

  • Indicação principal: Antitérmicos como paracetamol, dipirona e ibuprofeno devem ser usados quando há sinais claros de mal-estar (irritabilidade, choro intenso, redução do apetite), e não apenas porque a temperatura atingiu um certo número.
  • Uso alternado não é recomendado: A Sbp é enfática ao desaconselhar a alternância de antitérmicos (como paracetamol e ibuprofeno). Estudos demonstram que esta prática aumenta o risco de superdosagem e erro de administração, sem oferecer qualquer benefício terapêutico adicional.
  • Para recém-nascidos: Em bebês com menos de um mês de vida, o paracetamol é a única opção indicada, e sua dose deve ser rigorosamente ajustada pelo médico, considerando a idade gestacional e o peso.

Uma visão mais racional e menos alarmista

A mudança no parâmetro de febre para 37,5°C, liderada pela Sociedade Brasileira De Pediatria, representa um avanço significativo na medicina. Ela sinaliza uma transição de uma visão mecanicista, focada apenas em números, para uma abordagem mais humana e integral, que valoriza a observação clínica atenta do estado geral da criança. Esta evolução empodera os pais com conhecimento, combatendo o medo irracional e promovendo intervenções mais seguras e baseadas em evidências. O grande aprendizado é que, na maioria dos casos, a febre é uma aliada temporária do organismo. O foco deve permanecer na criança como um todo, confiando na sua resiliência e sabendo identificar os momentos em que a assistência médica é, de fato, necessária.

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