Ambicioso sim, esgotado não: Dicas da arte de saber dizer 'não' no trabalho controlando a exploração compulsiva e o burnout
No cenário laboral contemporâneo, a busca por reconhecimento e a vontade de causar boa impressão frequentemente levam profissionais a ultrapassarem seus próprios limites. O trabalho invade a vida pessoal, consome fins de semana e reduz o tempo dedicado à família e aos amigos, resultando em estresse e esgotamento. Especialistas alertam que a habilidade de estabelecer limites é crucial para conter essa invasão, mas muitos encontram dificuldades, especialmente ao dizer "não" a superiores. Com base em análises de fontes como a BBC e especialistas em carreira e saúde mental, este resumo detalha estratégias para proteger o bem-estar sem comprometer a ambição profissional.
A mudança na linguagem: "Eu não quero" vs. "Eu não posso"
A coach de carreira Helen Tupper, cofundadora da Squiggly Careers, propõe uma mudança simples, porém poderosa, na comunicação: substituir a frase "eu não posso" por "eu não quero". Segundo Tupper, dizer "eu não posso" abre espaço para negociação, pois as pessoas podem tentar convencê-lo de que você é capaz. Já "eu não quero" é mais definitivo e difícil de contestar. Por exemplo, ao afirmar "não participo de reuniões após as 17h de quarta-feira, porque busco meus filhos", você estabelece um limite claro baseado em uma escolha pessoal, não em uma incapacidade percebida.
- Evita manipulação: A frase "eu não quero" reduz a possibilidade de pressão ou persuasão por parte de colegas ou chefes.
- Fortalecimento pessoal: Reforça a autonomia e a consciência sobre prioridades, contribuindo para uma saúde mental mais equilibrada.
- Clareza nos limites: Facilita a comunicação assertiva, essencial para relações profissionais saudáveis.
O perigo do esgotamento: A experiência de Lorraine Pascale
A modelo e chef de TV Lorraine Pascale relata que sua dificuldade em dizer "não" a demandas excessivas a levou ao burnout. Mesmo com uma carreira bem-sucedida, incluindo uma confeitaria em Londres e livros publicados, ela acumulou tarefas enquanto criava a filha, impulsionada por perfeccionismo e medo de desagradar. O esgotamento se manifestou com sintomas físicos e emocionais, como aperto no peito, autocrítica excessiva, culpa e fadiga extrema. Sua recuperação envolveu afastamento temporário da cozinha, terapia e, posteriormente, estudos em psicologia, permitindo um retorno mais "intencional" às suas atividades.
- Universalidade do burnout: A experiência de Pascale demonstra que qualquer pessoa, independentemente do nível profissional, pode ser afetada.
- Sinais de alerta: Sintomas como exaustão, distanciamento e queda de desempenho são indicadores críticos, conforme destacado por especialistas.
- Necessidade de autocuidado: A recuperação exige ajustes na rotina, busca por apoio profissional e reavaliação de prioridades.
Estratégias práticas para evitar o esgotamento
Especialistas oferecem recomendações baseadas em evidências para gerenciar limites e prevenir o burnout:
1. Complete o ciclo do estresse: Claire Ashley, autora de The Burnout Doctor, enfatiza que manter uma rotina rígida para o horário de término do trabalho permite que o cérebro encerre o ciclo do estresse e aproveite o tempo livre.
2. Ajuste objetivos à capacidade atual: Ashley sugere questionar se metas são razoáveis considerando recursos mentais e emocionais no momento.
3. "Corra a sua própria corrida": Helen Tupper recomenda evitar comparações com colegas, celebrar conquistas pessoais e focar no próprio ritmo.
4. Diálogo com chefes: O psiquiatra Richard Duggins, autor de Burnout-Free Working, incentiva conversas com empregadores, pois muitos estão dispostos a ajustar cargas de trabalho ao entenderem que prevenir o burnout beneficia a todos.
5. Reconheça fases da vida: Ashley destaca que é aceitável ajustar expectativas conforme responsabilidades familiares ou condições pessoais.
Pontos importantes:
- Prevenção baseada em evidências: Estratégias como ciclos de estresse bem gerenciados são respaldadas pela psicologia do trabalho.
- Adaptação realista: Ajustar metas à capacidade atual evita sobrecarga e promove sustentabilidade na carreira.
- Cultura organizacional positiva: Diálogos abertos podem fomentar ambientes mais flexíveis e saudáveis.
Dados e estatísticas sobre burnout
Pesquisas indicam um aumento alarmante nos casos de esgotamento profissional. No Brasil, dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) mostram que, em 2023, 421 pessoas foram afastadas do trabalho por burnout o maior número na última década, com um crescimento de 136% desde 2019 (178 casos). Globalmente, estudos sugerem que 9 em cada 10 trabalhadores experienciaram níveis altos ou extremos de pressão no último ano. Embora o termo "burnout" seja frequentemente usado de forma ampla, a síndrome é clinicamente caracterizada por exaustão, distanciamento e queda de desempenho.
- Crescimento preocupante: Os números destacam a urgência de abordar a saúde mental no trabalho, especialmente após a pandemia.
- Distinção crucial: Diferenciar estresse ocasional de burnout é vital para intervenções adequadas.
- Impacto socioeconômico: Afastamentos por burnout geram custos para indivíduos, empresas e sistemas de saúde.
Estabelecer limites no trabalho não é um sinal de fraqueza, mas uma estratégia essencial para uma carreira sustentável e uma vida plena. Como resume Lorraine Pascale:
"Ser ambicioso é bom. Ser ambicioso é algo bonito, mas aprenda a dizer não com mais frequência".
A mudança na linguagem, o diálogo aberto com chefes, o ajuste de expectativas e o autocuidado são ferramentas poderosas para evitar o esgotamento. Em um mundo com demandas crescentes, priorizar a saúde mental e impor limites claros é um ato de responsabilidade consigo mesmo e com a qualidade do trabalho produzido. Assim, é possível conciliar ambição profissional com bem-estar, criando um ciclo virtuoso de produtividade e satisfação pessoal.
