As revelações da 'Primeira Biografia' de Pombal": Como o homem que nunca pisou no Brasil moldou o país para sempre
Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, foi a figura mais poderosa de Portugal no século XVIII e um arquiteto fundamental do Brasil. Mas, por trás do estadista, havia um ditador implacável e inúmeros inimigos.
Primeira biografia do Marquês de Pombal
Uma nova luz sobre seu lado mais controverso surge com a descoberta da "Primeira Biografia do Marquês de Pombal", um manuscrito inédito, secreto e altamente crítico, escrito por seu arquirrival, o cardeal Dom José Francisco António de Mendonça.
O que este "relatório de linchamento" revela sobre o homem que moldou a administração, a economia e até a língua do Brasil sem nunca ter pisado aqui?
- O documento explosivo - Um ataque vindo da cúpula: Imagine um dossiê escrito por um poderoso inimigo, não para ser publicado, mas para derrubar uma figura de governo. Isso é o que a nova biografia, encontrada em um mosteiro em Salvador, representa:
- A caneta de um arqui-inimigo: O autor, Dom Mendonça, Patriarca de Lisboa, usou o texto para expor as ações de Pombal, buscando influenciar a Rainha e a corte contra ele após sua queda.
- Um relatório de poder: O manuscrito, datado entre 1777 e 1786, não era um livro de História, mas uma arma política detalhando fatos e feitos com um "tom pesadamente negativo", visando sua desmoralização.
- A importância da descoberta: O ineditismo e a autoria de alto escalão conferem a este documento um valor histórico imenso, ajudando pesquisadores a preencher lacunas sobre o período e a entender a profunda polarização que Pombal causava.
O ditador esclarecido: O estilo de Pombal no governo
Pombal praticava o "despotismo esclarecido", uma mistura de autoridade absoluta com reformas inspiradas no Iluminismo. Ele queria um reino forte, racionalizado e centralizado.
- Reformas revolucionárias: Promoveu limites ao poder da Igreja, desenvolveu indústrias e modernizou a justiça em Portugal.
- Centralização a ferro e fogo: Acumulou tanto poder que se comportou como um ditador, perseguindo e encarcerando oponentes, enquanto impunha suas visões com mão de ferro.
O Brasil forjado a distância: O legado pombalino
Pombal nunca esteve no Brasil, mas suas decisões transformaram a colônia na base do futuro Estado-Nação. Ele unificou o Brasil sob uma visão de "espaço único, homogêneo e rentável".
- Rio de Janeiro, a nova capital: Em 1763, mudou a sede do governo de Salvador para o Rio, garantindo maior controle militar e fiscal sobre o ouro de Minas Gerais, impulsionando o protagonismo do Sudeste.
- O "quinto dos infernos": Reforçou a fiscalização para cobrar os 20% de imposto sobre o ouro, tornando o sistema de arrecadação mais eficiente e combatendo o contrabando.
- A marca da centralização: O historiador Paulo Rezzutti aponta que o legado mais duradouro é a centralização do poder na figura do governo federal, uma estrutura que ecoa até os dias de hoje no Brasil.
Supressão de culturas: As medidas mais drásticas na Colônia
As reformas de Pombal atingiram o coração da sociedade colonial, especialmente a Igreja e os povos indígenas.
1. A expulsão dos Jesuítas (1759)
- O motivo: Diminuir o poder dos religiosos e separar Igreja e Estado, alinhado aos ideais iluministas.
- O preço: Causou um vácuo no ensino colonial, já que os jesuítas mantinham a maioria dos colégios. A solução foram as Aulas Régias, um novo, mas inicialmente frágil, sistema de ensino laico.
2. O ataque à diversidade indígena
- O diretório dos índios: Criado para substituir a tutela jesuíta, buscou uma suposta "integração" dos nativos, incentivando o casamento misto e a assimilação.
- O resultado: Sob o verniz civilizador, o Diretório levou ao etnocídio e à destruição das estruturas comunitárias, abrindo as terras indígenas para a exploração de brancos.
- A perda linguística: Proibiu o uso de todas as línguas nativas, incluindo a Língua Geral (tupi), forçando o português como idioma oficial e contribuindo para o desaparecimento de centenas de idiomas no Brasil.
O fim e a polarização que persiste
- Após a morte de Dom José I, a Rainha Dona Maria I iniciou a "Viradeira", uma política que reverteu a administração pombalina. Pombal foi acusado de abusos, condenado e banido da corte.
Apesar de sua queda, a política que ele implementou garantiu a sobrevivência do reino e deixou estruturas administrativas tão fortes que seu legado persiste, sendo ele ainda hoje um motivo de polarização na historiografia.
